Com 6 mil casos diários, dengue dispara e já supera total de 2021
São 757 mil adoecimentos somente em 2022. Em cinco meses, o Brasil superou os 544 mil casos de dengue registrados em todo o ano passado
atualizado
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O mais recente panorama das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, divulgado pelo Ministério da Saúde, traz um alerta preocupante. Até 7 de maio, o país registrou diariamente uma média de 6 mil casos de dengue.
São 757 mil somente em 2022. Em cinco meses, o Brasil superou os 544 mil registros da enfermidade em todo o ano passado — uma alta de 151%. A capital federal e Goiânia lideram o ranking, com 37 mil e 36 mil casos, respectivamente.
Em todo o país, foram confirmadas 265 mortes pela doença. Os maiores números foram registrados em São Paulo (99), Santa Catarina e Goiás – 28 óbitos cada.
Em 1986 e 1987, o Brasil viu ressurgir um inimigo que acreditava já ter deixado para trás: a dengue, doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. A partir de então, o país convive com epidemias frequentes da enfermidade.
Agora, a situação é pior no Centro-Oeste, onde a alta da dengue é de mais de 270% na comparação com o mesmo período de 2021.
Depois vem a região Sul, onde a incidência sempre foi menor, mas agora vive um aumento de cerca de 260% nos casos.
O infectologista Dalcy Albuquerque, médico da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), faz alertas sobre a prevenção contra a doença.
“A principal recomendação é aquela que já damos há muitos anos: prevenção. É ter cuidado com os criadouros do mosquito. A maior parte dos criadouros está dentro de casa. Muita atenção à prevenção. E, claro, em caso de sinais da doença, é preciso procurar uma unidade de saúde”, pondera.
Dalcy explica que as epidemias de dengue são cíclicas, e que a cada três, quatro anos há uma epidemia. Nos últimos dois anos, por causa da Covid-19, o cenário foi impactado. Além disso, ele chama atenção para as questões climáticas.
“Choveu muito por um período prolongado, e isso colabora para a proliferação do mosquito”, conclui.
Surto
O surto da doença exige ações mais fortes. O Ministério da Saúde garante que tem intensificado as ações de prevenção e controle, além de realizar campanhas de mobilização.
“A pasta tem investido na ampliação dos serviços de vigilância genômica e em pesquisas de novas tecnologias para o combate da dengue e possíveis novos genótipos”, informa, em nota.
Em 2022, segundo o governo federal, foram entregues 40 milhões de pastilhas de larvicida para o tratamento de depósitos de água para todos os estados e o Distrito Federal. Além disso, foram distribuídos mais de 3 mil quilos de inseticida para o tratamento em pontos estratégicos, como borracharias e ferros-velhos.
“O combate ao mosquito deve fazer parte da rotina de todos. A colaboração e participação da população é parte fundamental para a redução da transmissão da doença”, salienta o ministério.
Testes
Com a alta de casos, cidades passaram a registrar falta de testes, o que gera subnotificação e dificulta o tratamento. Pacientes enfrentam dificuldade para fazer teste da dengue no Distrito Federal, por exemplo.
“A pasta vem trabalhando sem medir esforços para manter a rede de saúde abastecida com os testes diagnósticos de dengue, zika e chikungunya. Uma nova remessa dos insumos está prevista para ser entregue até o mês de junho”, conclui a nota.
O ministério afirma que os testes moleculares da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estão sendo entregues diretamente aos Laboratórios Centrais (Lacens) para reforçar o rastreamento da doença.
Guerra vencida
No Brasil, as primeiras epidemias de dengue foram registradas em São Paulo no fim do século 19. No Rio de Janeiro, o primeiro registro de dengue epidêmica ocorreu em 1923.
Entre essa data e os anos 1980, a doença foi praticamente eliminada do país, em virtude do combate ao Aedes aegypti, durante campanha de erradicação da febre amarela. Um nova infestação do mosquito ocorreu a partir de 1967. Na década de 1980, foram registrados novos casos de dengue.