Colisões com objetos causaram 184 quedas de aviões no país em 10 anos
Pelo menos 40 acidentes aéreos tiveram vítimas fatais após choque com obstáculos, no pouso ou na decolagem
atualizado
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São Paulo – Só uma investigação completa e bem-sucedida poderá estabelecer qual foi a principal causa da queda da aeronave que matou a cantora Marília Mendonça na sexta (5/11). Entretanto, a colisão do turboélice Beechcraft King Air com uma linha de transmissão da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) é uma das hipóteses investigadas e acendeu um alerta aos riscos de tais ocorrências nas proximidades de aeroportos do país.
Caso seja identificado que a batida na linha da Cemig foi a causa da queda, o caso será considerado uma “colisão com obstáculo durante a decolagem e pouso”, pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). Nos últimos 10 anos, houve 184 ocorrências desse tipo, de acordo com levantamento feito pelo Metrópoles com base nos dados do Cenipa – em 40 desses casos, foram registradas vítimas fatais.
Das colisão com obstáculos, a maioria dos episódios ocorreu no estado de São Paulo (31 registros), que, na prática, é onde aconteceram a maior parte dos acidentes aéreos na última década (1.439 dos 6.383 do país).
Ainda assim, a colisão em uma linha de transmissão nem sempre provocou mortes em acidentes de aviação. Em Aliança do Tocantins, em 21 de novembro de 2012, um avião do mesmo fabricante que a aeronave utilizada por Marília Mendonça (Beech Aircraft) bateu em um fio de energia elétrica quando se aproximava da pista em uma fazenda da região, mas conseguiu realizar o pouso sem fatalidades. O piloto e cinco passageiros, felizmente, saíram vivos.
“O piloto observou um fio, iniciando imediatamente uma arremetida e circulando para a outra cabeceira”, diz o resumo da ocorrência do Cenipa.
Colisão em obstáculos
O mecânico de aviação Lito Sousa, especialista em segurança aérea e apresentador do canal Aviões e Músicas, destaca que são raros acidentes de colisão com obstáculos.
“Colisão com obstáculos ocorre mais em condições de visibilidade ruim. Normalmente os obstáculos perto dos aeródromos e aeroportos são bem identificados em cartas de voo”, afirmou Sousa, em entrevista ao Metrópoles.
Ainda que acidentes aéreos sejam resultado de múltiplas causas, falha no motor é a principal motivação de quedas, de acordo com o Cenipa. Foram registradas 715 ocorrências de falhas em motores nos últimos 10 anos.
Antes de colisão com obstáculos, aparecem outras causas mais comuns de acidentes: falha ou mau funcionamento de sistema ou componente (616 casos), estouro de pneu (614), perda de controle no solo (442), perda de controle em voo (357), com trem de pouso (341) e colisão com ave (243). Colisão com obstáculos durante pouso ou decolagem foi a 8ª principal causa de acidentes aéreos no geral, mas esse retrato muda se considerados só os episódios em que houve vítimas fatais.
Dos acidentes que deixaram pessoas mortas, casos de perda de controle em voo (156 ocorrências) foram as principais causas de tragédias, seguidos por episódios de causa indeterminada (61 casos), falha do motor em voo (42) e colisão com obstáculo durante decolagem e pouso (40).
Se considerados só os tipos de colisões que provocaram acidentes aéreos, colisões com aves foram as causas mais comuns de acidentes (243 registros nos últimos 10 anos), seguidas por colisões com obstáculos na decolagem ou pouso (184). Colisões com obstáculos no solo somaram 101 casos, seguidos por colisão com aeronave no solo (32), colisão com fauna (26), colisão de aeronaves em voo (22), colisão de veículo com aeronave (8), colisão no solo (5) e colisão em voo com obstáculo (2).
No caso do acidente com Marília, a geografia do aeroporto, em uma área de vale, era considerada um fator de risco.
“Isso compromete um pouco a operação. É um acidente emblemático, porque tinha pilotos extremamente experientes e um avião legalmente autorizado a fazer aquele tipo de operação. Com os dados que temos em mãos, não é possível nem imaginar o que possa ter causado o acidente”, diz Sousa.