“Cofrinho” do Brasil, espelho d’água do Alvorada recebeu euro e dólar
Desde 2015, as moedas são doadas ao Plano Brasil sem Miséria. Na gestão de Bolsonaro, o destino da quantia retirada será o mesmo
atualizado
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Na parte externa da estrutura que abriga o presidente da República e sua família, um espelho d’água no Palácio da Alvorada delimita até onde podem ir os visitantes sem convite para entrar. Serve também de bebedouro para as emas que transitam pelo jardim, de moradia para carpas e tornou-se uma espécie de “cofrinho” reservado à população mais pobre do país.
As intenções podem ser pessoais e variadas, mas quem joga moedinhas no fundo do reservatório de água acaba destinando dinheiro ao Plano Brasil sem Miséria, instituído em 2011, por iniciativa da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Se comparada à famosa Fontana di Trevi, em Roma, na qual tradicionalmente turistas do mundo inteiro trocam moedas por pedidos, a quantia arrecadada é irrisória. A fonte italiana rende cerca de € 1,5 milhão por ano (algo próximo de R$ 6,3 milhões). De janeiro de 2015 a abril de 2016, na gestão petista, foram transferidos para o programa de combate à fome e à pobreza do governo brasileiro apenas R$ 711,26.
A arrecadação anterior, somando o que foi retirado de 2011 a 2015, chegou a R$ 4.174,9. Além do montante em real, quando quem morava na casa presidencial era Dilma, de 2012 e 2014, o espelho d’água recebeu em moeda estrangeira, à semelhança da fonte italiana, o total de € 11 euros e 49 cents, US$ 8 dólares e 68 cents. O destino da verba não foi especificado.
A primeira leva recolhida no governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) foi de R$ 1.275, mas contou ainda com moedas deixadas para Michel Temer (MDB). Como o ex-governante ficou poucos dias no local, não fez o recolhimento do material. O emedebista substituiu Dilma depois que a petista sofreu impeachment, mas logo optou por voltar ao Palácio do Jaburu, onde já morava quando vice-presidente.
O servidor público aposentado Euripedes Peghini, de 65 anos, mineiro radicado em Brasília desde a década de 1980, contou que já viu o fundo do espaço carregado de metais ao longo do tempo. Nesta semana, levou amigos de Cuiabá (MT) para conhecer o lado de fora da residência oficial durante um passeio e entrou na brincadeira.
“A lenda é que você joga a moeda e faz um pedido. Não acredito nisso. Dizem que o dinheiro é doado para os pobres. Espero que isso realmente seja feito”, pontuou.
A Secretaria-Geral da Presidência da República informou que a administração faz o recolhimento semestral do material. Frisou ainda que vai realizar um processo específico para que o valor seja repassado ao Plano Brasil sem Miséria. O detalhamento dos valores foi obtido pela Lei de Acesso à Informação (LAI).