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Clima “amável” entre governadores e Lula não deve durar todo mandato

Governadores que apoiaram Bolsonaro buscam diálogo com Lula, mas tensões devem surgir diante de pautas delicadas e próximas eleições

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O presidente eleito Lula olha para o público ao desembarcar no CCBB, sede do governo de transição - Metrópoles
1 de 1 O presidente eleito Lula olha para o público ao desembarcar no CCBB, sede do governo de transição - Metrópoles - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

A maioria dos governadores eleitos e reeleitos foram oposição a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições deste ano. No entanto, diante do resultado das urnas, que deu vitória ao petista, se abriram para o diálogo, pensando no pacto federativo.

Dos 27 chefes do executivo estadual vencedores, 14 eram apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) e 11 de Lula. Outros dois não se posicionaram durante o pleito, nem no primeiro e nem no segundo turno.

Aliado de Bolsonaro, o governador reeleito do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), disse, recentemente, na CNN que “se rende” ao resultado das urnas e que precisa de apoio federal. Tarcísio de Freitas (Republicanos) falou de buscar “alinhamento” com o governo petista. Ambos apoiaram publicamente o lado bolsonarista. Já Romeu Zema (Novo), que se juntou ao bloco apenas no segundo turno, afirmou estar “aberto ao diálogo” no futuro governo petista.

Ronaldo Caiado (União Brasil), governador de Goiás, declarou apoio ao presidente Bolsonaro apenas após o término do primeiro turno, ao contrário de 2018, quando foi um dos principais apoiadores bolsonaristas. Após o resultado do segundo turno, que decretou vitória de Lula, ele foi um dos primeiros a se manifestar. “Venceu o desejo soberano do povo brasileiro!”, destacou ele em uma rede social. E completou que segue buscando parcerias para melhorar a vida dos goianos, indicando que não criará dificuldades ao presidente eleito.

Também no Distrito Federal, onde Ibaneis Rocha (MDB) foi reeleito ainda no primeiro turno, também há uma postura de diálogo. Ele já declarou que pretende ter uma “convivência harmônica” com Lula.

O indicativo geral inicial é basicamente esse, independentemente de bandeira partidária ou de ideologia. O clima conciliador entre os governadores e o presidente eleito deve se manter no início do próximo governo do PT, diante da necessidade de tomar importantes decisões, sobretudo na área econômica.

No entanto, esses estados devem começar a se mostrar como oposição diante de temas delicados em que não haja consenso. O quadro deve mudar significativa e, principalmente, com a proximidade das próximas eleições gerais, em 2026. É o que apontam especialistas ouvidos pelo Metrópoles.

Início é de tranquilidade

Historicamente é difícil ter uma constante oposição de governadores, ainda mais no início de mandato, segundo o pesquisador do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB), Jeferson Ramos dos Santos.

“A gente tende a ter um 2023 um pouco mais tranquilo, politicamente falando, e os estados buscando resolver seus problemas. Dificilmente a gente vai ver um estado, um governador, já manifestando uma oposição muito sólida e muito contundente. É muito cedo. Isso deve acontecer mais para frente”, avalia o especialista.

Para o cientista político, essa oposição de governadores deve surgir e se intensificar a partir do próximo período eleitoral.

Nesse primeiro momento, os governadores não querem queimar pontes e há uma necessidade de articulação e união maior, ainda mais diante de um período turbulento pós-pandemia e de desordem econômica mundial, defendeu ainda Jeferson Ramos.

Centralidade econômica

O cientista político Frank Tavares, professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás (UFG), lembrou que a União está com um sério problema de receitas e na liberação de gastos para conseguir cumprir o programa de governo aprovado nas urnas.

Dentro desse contexto, os estados tiveram uma perda de arrecadação considerável. Por exemplo, com a lei complementar que diminuiu a alíquota de ICMS sobre o petróleo.

“Os estados tiveram uma perda de arrecadação que tornou a gestão deles inviável e eles vão apresentar essa conta para o Lula”, pontuou o cientista político.

“A questão é que dificilmente os governadores vão apoiar, mobilizar suas bases, principalmente na Câmara e no Senado, para fortalecer as medidas do governo Lula, se essa questão fiscal deles não se resolver”, concluiu ainda Frank Tavares.

E o petista ainda pode ter problemas para navegar em águas tranquilas com um Congresso Nacional majoritariamente de centro-direita que saiu das urnas em 2022.

Volta da normalidade

Questões econômicas e eleitorais à parte, os dois cientistas políticos ouvidos pela reportagem concordam que a relação entre governadores e presidente deve ter uma mudança significativa com Lula ao se comparar com os quatro anos de Bolsonaro.

A relação, mesmo que ocorram divergências, tende a ser mais polida e “profissional”.

“Os estados dependem muito do Governo Federal, então não tem como o estado não articular. Nos últimos quatro anos a gente não viu muito isso. O presidente (Bolsonaro) não recebeu governadores de partidos que não eram aliados a ele e isso gerou uma situação anormal. Então, o que a gente acompanha agora é uma indicação desse retorno à normalidade”, resumiu Jeferson Ramos, da UnB.

Alckmin articulador

Frank Tavares, da UFG, destacou ainda que se aproximar de ex-adversários faz parte do modo de Lula fazer política. Historicamente, ao longo de seus governos, ele deu mostras disso, conversando e negociando com nomes de todos os matizes.

“Portanto, o tom claramente vai ser diferente do de Bolsonaro, que no contexto da crise da Covid-19 disse que a culpa de tudo era dos governadores. Esse tipo de tensionamento do ponto de vista estritamente político, não deve acontecer”, avaliou Frank Tavares.

Nessa forma de fazer política de Lula com ex-adversários, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) deve ter um importante papel de articulação com os governadores de oposição.

“Eu não descartaria o Alckmin sendo uma espécie de catalisador dos governadores para recebê-los, avaliar demandas e articular”, pontuou Jeferson Ramos da UnB.

O próprio Alckmin, aliás, é um exemplo vivo da forma pragmática de Lula fazer política. O ex-tucano, agora carne e unha com o presidente eleito, foi adversário ferrenho do petista em um passado não muito distante.

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