Clássico em SP: restaurante onde surgiu sanduíche bauru faz 100 anos
Restaurante tradicional de São Paulo, Ponto Chic é o pioneiro na receita que se espalhou pelo país todo
atualizado
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São Paulo – Um dos restaurantes mais tradicionais da capital paulista, o Ponto Chic comemora 100 anos de existência em 2022. A marca famosa por ter criado o sanduíche bauru conta com quatro unidades em São Paulo: Largo do Paissandu, a loja original, Perdizes, Paraíso e Brooklin.
Inaugurado em março de 1922, no mesmo período da Semana de Arte Moderna, o local passou a ser frequentado por artistas e intelectuais da época. Atual proprietário do estabelecimento, Rodrigo Alves conta que o espaço sempre foi palco de discussões políticas e culturais.
“Às vezes aconteciam até discussões mais exacerbadas. Mário de Andrade e Monteiro Lobato quase saíram em vias de tapas discutindo o Modernismo no meio do salão”, conta Alves.
O endereço se popularizou entre os estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, que se tornaram assíduos frequentadores. Entre eles, aparecia Casimiro Pinto Neto, o criador do sanduíche mais famoso do local, em 1937.
“Quando ele ainda era estudante, estava lendo um livro de nutrição que o inspirou a fazer um sanduíche que representasse uma refeição completa. Chamou o chapeiro e ditou como deveria ser feito o lanche”, explica o proprietário.
A receita leva pão francês sem miolo, rosbife, tomate, pepino e queijos prato, gouda, suíço e estepe fundidos (nada de presunto!).
Por Casimiro ser uma figura bastante conhecida na cidade, o lanche se popularizou rapidamente, tornando-se conhecido com o apelido do estudante de Direito, por causa de sua cidade natal no interior do estado: bauru.
A pedida continua sendo o carro-chefe. Apenas em 2021, foram vendidas 110.000 unidades nas quatro unidades do Ponto Chic.
O estabelecimento já está na terceira geração da família Alves. Rodrigo relembra que o seu avô, Antonio Alves de Souza, comprou o estabelecimento, na década de 70, após ler no jornal sobre o encerramento das atividades pelo proprietário fundador, Odílio Cecchini, que criou o espaço junto do sócio, Antonio Milanese (morto na Revolução de 32 como voluntário).
Além de Antonio, a administração também era de seu filho, José Carlos Alves de Souza, que faleceu em março de 2021 em decorrência da Covid-19.
“Meu avô veio da cidade de Franca na década de 50. Chegando em São Paulo, ele trabalhou como garçom no Ponto Chic, e posteriormente, comprou a marca do antigo patrão”, relembra o empresário.
Pandemia
No começo de 2021, o tradicional restaurante resolveu abrir as portas ao público mesmo em meio às restrições impostas pelo Governo de São Paulo para conter o o avanço da Covid-19. Na época, o estado estava na fase mais restrita da pandemia, onde só era autorizado o funcionamento de serviços essenciais.
Segundo o proprietário, a iniciativa foi um “protesto para que o Governo Municipal e do Estado ouvisse mais o setor”. “A decisão do governo de fechar naquele momento foi equivocada. Então foi um protesto pelo setor, pelos funcionários e colaboradores que perderam renda, com o intuito de sinalizar a necessidade um diálogo”, afirma Alves.
A marca centenária vive em um período de recuperação após a crise. Segundo Rodrigo, apesar da adaptação de custos realizada na pandemia, o setor ainda sofre os efeitos a longo prazo do período sem funcionamento.