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Cinco desafios que aguardam Bolsonaro na Cúpula das Américas

Presidente viaja nesta quarta (8/6) para Los Angeles, nos Estados Unidos, onde se reunirá com líderes de países do continente americano

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Cinco desafios que aguardam Bolsonaro na Cúpula das Américas
1 de 1 Cinco desafios que aguardam Bolsonaro na Cúpula das Américas - Foto: Anna Moneymaker/Getty Images

O presidente Jair Bolsonaro (PL) embarca na noite desta quarta-feira (8/6) para Los Angeles, nos Estados Unidos, onde participará da Cúpula das Américas. Durante o evento, que reúne líderes de governo da maioria dos países do continente, o chefe do Executivo federal precisará lidar com vários desafios. O principal deles será a questão ambiental, tema principal desta Cúpula.

O governo dos EUA, presidido pelo democrata Joe Biden, tem pressionado o Brasil a assinar, no evento, uma declaração com compromissos voltados ao meio ambiente. O governo brasileiro, no entanto, avalia as imposições “complicadas”. Ao longo do mandato, Bolsonaro tem minimizado o desmatamento na Amazônia e pregado que a região “não pega fogo”, pois, segundo ele, a área é “úmida”.

Segundo dados recentes do sistema de alertas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Deter, o desmatamento na Amazônia passou de 1 mil km² em abril – um recorde para o período.

De acordo com a análise do professor de relações internacionais Mauricio Santoro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o governo brasileiro, porém, deve se esquivar de assumir qualquer compromisso na área ambiental e se empenhar na estratégia de “ganhar tempo”, sobretudo em ano eleitoral e em um momento no qual as pesquisas de intenção de voto apontam para uma possível mudança no comando do Executivo do país.

“Não é interessante para o governo brasileiro, neste momento, assumir nenhum tipo de grande compromisso. A expectativa internacional também já está muito centrada nas eleições e nessa possibilidade de uma mudança de presidente. O que pode ser feito é um tipo de declaração conjunta, que sinalize essa vontade de diálogo, de entendimento, mas sem assumir um compromisso formal”, explica Santoro.

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Descendente de italianos e alemães, Bolsonaro recebeu o primeiro nome em homenagem ao jogador Jair Rosa Pinto, do Palmeiras, e o segundo, Messias, atribuído por Olinda Bonturi, mãe do presidente, a Deus, após uma gravidez complicada. Na infância, era chamado de Palmito pelos amigos
Ingressou no Exército aos 17 anos, na Escola Preparatória de Cadetes. Em 1973, foi aprovado para integrar a Academia Militar de Agulhas Negras (Aman), formando-se quatro anos depois
Dentro do Exército, Bolsonaro também integrou a Brigada de Infantaria Paraquedista, serviu como aspirante a oficial no 21º e no 9º Grupo de Artilharia de Campanha (GAC), cursou a Escola de Educação Física do Exército, serviu no 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista e, em 1987, cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais
Em 1986, Jair foi preso por 15 dias, enquanto servia como capitão, por ter escrito um artigo para a revista Veja criticando o salário pago aos cadetes da Aman. Contudo, dois anos após o feito, foi absolvido das acusações pelo Superior Tribunal Militar (STM)
Em 1987, novamente respondeu perante o STM por passar informação falsa à Veja. Na ocasião, o até então ministro do Exército recebeu da revista um material enviado pelo atual presidente sobre uma operação denominada Beco Sem Saída, que teria como objetivo explodir bombas em áreas do Exército como protesto ao salário que os militares recebiam
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Jair Messias Bolsonaro, nascido em 1955, é um capitão reformado do Exército e político brasileiro. Natural de Glicério, em São Paulo, foi eleito 38º presidente do Brasil para o mandato de 2018 a 2022

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Descendente de italianos e alemães, Bolsonaro recebeu o primeiro nome em homenagem ao jogador Jair Rosa Pinto, do Palmeiras, e o segundo, Messias, atribuído por Olinda Bonturi, mãe do presidente, a Deus, após uma gravidez complicada. Na infância, era chamado de Palmito pelos amigos

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Ingressou no Exército aos 17 anos, na Escola Preparatória de Cadetes. Em 1973, foi aprovado para integrar a Academia Militar de Agulhas Negras (Aman), formando-se quatro anos depois

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Dentro do Exército, Bolsonaro também integrou a Brigada de Infantaria Paraquedista, serviu como aspirante a oficial no 21º e no 9º Grupo de Artilharia de Campanha (GAC), cursou a Escola de Educação Física do Exército, serviu no 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista e, em 1987, cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais

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Em 1986, Jair foi preso por 15 dias, enquanto servia como capitão, por ter escrito um artigo para a revista Veja criticando o salário pago aos cadetes da Aman. Contudo, dois anos após o feito, foi absolvido das acusações pelo Superior Tribunal Militar (STM)

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Em 1987, novamente respondeu perante o STM por passar informação falsa à Veja. Na ocasião, o até então ministro do Exército recebeu da revista um material enviado pelo atual presidente sobre uma operação denominada Beco Sem Saída, que teria como objetivo explodir bombas em áreas do Exército como protesto ao salário que os militares recebiam

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A primeira investigação realizada pelo Conselho de Justificação Militar (CJM) concluiu que Bolsonaro e outros capitães mentiram e determinou que eles deveriam ser punidos. O caso foi levado ao Superior Tribunal Militar, que, por outra vez, absolveu os envolvidos. De acordo com uma reportagem da Folha à época, foi constatado pela Polícia Federal que, de fato, a caligrafia da carta enviada à Veja pertencia a Jair

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Em 1988, Bolsonaro foi para a reserva do Exército, ainda com o cargo de capitão, e, no mesmo ano, iniciou a carreira política. Em 1988, foi eleito vereador da cidade do Rio de Janeiro e, em 1991, eleito deputado federal. Permaneceu como parlamentar até 2018, quando foi eleito presidente da República

Daniel Ferreira/Metrópoles
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Durante a carreira, Bolsonaro se filiou a 10 legendas: Partido Democrata Cristão (PDC), Partido Progressista Reformador (PPR), Partido Progressista Brasileiro (PPB), Partido da Frente Liberal (PFL), Partido Progressistas (PP), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Democratas (DEM), Partido Social Cristão (PSC), Partido Social Liberal (PSL) e, atualmente, Partido Liberal (PL)

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É casado com Michelle Bolsonaro, 40 anos, e pai de Laura Bolsonaro, 11, Renan Bolsonaro, 24, Eduardo Bolsonaro, 38, Carlos Bolsonaro, 39, e Flávio Bolsonaro, 41, sendo os três últimos também políticos

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Em 2018, enquanto fazia campanha eleitoral, Jair foi vítima de uma facada na barriga. Até hoje o atual presidente precisa se submeter a cirurgias por causa do incidente

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Eleito com 57.797.847 votos no segundo turno, Bolsonaro coleciona polêmicas em seu governo. Além do entra e sai de ministros, a gestão de Jair é acusada de ter corrupção, favorecimentos, rachadinhas, interferências na polícia, ataques à imprensa e a outros poderes, discurso de ódio, disseminação de notícias faltas, entre outros

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Programas sociais, como o Vale-gás, Alimenta Brasil, Auxílio Brasil e o auxílio emergencial durante a pandemia da Covid-19, foram lançados para tentar ajudar a elevar a popularidade do atual presidente

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De olho na reeleição em 2022, Bolsonaro se filiou ao Partido Liberal (PL). O vice de sua chapa nas eleições deste ano é o general Walter Braga Netto

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O professor ressalta que a questão do desmatamento da Amazônia se tornou um “problema diplomático muito sério”, e acredita que o governo brasileiro deve até mesmo citar o encontro com o empresário Elon Musk, que esteve no país no último mês, como uma saída para exemplificar o “compromisso” com o tema.

Em visita ao Brasil, Musk anunciou uma parceria com o governo brasileiro para monitorar a Região Amazônica por meio da Starlink, rede de satélites do empresário. Não foram divulgadas informações sobre o acordo entre a empresa e o governo, nem em relação ao modo com que o monitoramento será feito.

“É um tema que envolve uma pressão global cada vez maior sobre o Brasil, e, ao mesmo tempo, há muitos elementos no governo Bolsonaro, na sua base de apoio, nas suas políticas públicas, contrários a essas posições internacionais com relação à Amazônia. O que o governo brasileiro quer é a ausência desse tipo de pressão externa, a ausência de um compromisso com relação ao desmatamento. São questões que estão em confronto. São visões de mundo opostas sobre como tratar o tema da Amazônia”, avalia.

Bilateral com Biden

Durante a Cúpula das Américas, os presidentes Jair Bolsonaro e Joe Biden devem se reunir. Há expectativa de que a conversa dure entre 40 e 50 minutos.

Da parte do governo brasileiro, Bolsonaro deve abordar temas como comércio e investimentos, cadeiras regionais de valor, energia, mineração, desenvolvimento sustentável, defesa e fertilizantes. Já os Estados Unidos devem pautar questões relacionadas a insegurança alimentar, resposta econômica à pandemia de coronavírus, segurança sanitária e mudanças climáticas.

Apesar de alguns temas em comum, a professora de relações internacionais do Centro Universitário de Brasília Aline Thomé afirma que o principal desafio da reunião entre os chefes de Estado dos EUA e do Brasil reside no alinhamento de Bolsonaro com o ex-presidente Donald Trump.

“É um alinhamento que Bolsonaro sempre teve, de uma proposta ultranacionalista e com perspectivas muito conservadoras, que são opostas ao que Biden coloca”, pontua a docente.

Mesmo com o desafio, a professora avalia que o Brasil já se beneficia do encontro na política externa. Isso porque o próprio Biden escalou um representante de seu governo para, pessoalmente, convidar Bolsonaro a participar da Cúpula das Américas.

“O presidente do Brasil tem uma imagem muito desgastada internacionalmente com relação a essa temática ambiental, por exemplo. Então, ter sido convidado e ter recebido um representante do governo dos Estados Unidos reforçando esse convite foi um ganho, e isso mostra que o Brasil de fato tem alguma importância nesse encontro e é reconhecido pelo governo dos Estados Unidos”, explica Aline.

Sumiço de indigenista e jornalista no Amazonas

O desaparecimento na Amazônia do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Araújo também pode gerar uma saia-justa para o governo brasileiro durante a Cúpula das Américas. Os dois profissionais sumiram no domingo (5/6), no trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte.

A Polícia Federal e a Marinha do Brasil apuram o desaparecimento, e o Ministério Público Federal (MPF) acionou a Força Nacional e a Polícia Civil para participarem de buscas.

Para Mauricio Santoro, a bilateral entre Biden e Bolsonaro será marcada pela “sombra” desse incidente. Ele estima que o brasileiro poderá ser cobrado pela violência constante na região nos últimos anos, além da lentidão e escassez de recursos do governo brasileiro nas buscas.

“Por mais que a gente saiba que há um cenário de violência na Amazônia de muitos anos, e que tem atingido muitas pessoas anônimas, quando chega realmente em um jornalista estrangeiro, alguém que trabalha para um grande órgão de imprensa, o impacto é muito maior. Então, isso também vai ser uma sombra para a reunião do Biden e do Bolsonaro”, observa o professor de relações internacionais da Uerj.

Aline Thomé reconhece que a pauta ter surgido no mesmo período em que ocorre a cúpula implica em mais um desafio. A especialista, porém, acredita que, enquanto o Brasil manifestar repúdio ao caso, o tema não deve gerar grandes polêmicas.

Na terça-feira (7/6), o presidente Jair Bolsonaro disse que Dom Philips e Bruno Araújo fizeram uma “aventura não recomendável”. Em nota, o Itamaraty afirmou que o governo brasileiro tomou conhecimento, “com grande preocupação”, da notícia.

Rússia e Ucrânia

A guerra entre Rússia e Ucrânia, que já dura mais de 100 dias, também deve pautar a Cúpula das Américas. De acordo com o professor da Uerj Mauricio Santoro, o governo dos Estados Unidos, ao convidar o Brasil para o evento e para uma reunião bilateral com Joe Biden, visa angariar mais apoio a fim de ampliar a coalizão contra a Rússia.

A estratégia do governo norte-americano, no entanto, não deve surtir efeito. “O Brasil, até este momento, tem se colocado contra a guerra, mas também contra as sanções. […] É improvável que o Brasil modifique essa posição. Ela é muito tradicional da política externa brasileira. É a maneira pela qual o Brasil tradicionalmente pensa todas essas questões internacionais”, explica o professor.

Santoro lembra que o posicionamento do Brasil não é um caso isolado, e, portanto, o país não deve ser cobrado por isso. “Esses receios que o Brasil tem expressado se parecem muito com aqueles que a gente está vendo também por parte de outros países em desenvolvimento da América Latina e da África, e na Ásia”, disse.

Quando se manifesta sobre o conflito, Bolsonaro não cita a Rússia de forma direta e afirma que a posição do Brasil é de “equilíbrio”. O mandatário diz ainda torcer pelo fim do conflito e salienta que o mundo todo sofre com as consequências da guerra.

Ataques à legitimidade das eleições

No início de maio, a agência de notícias Reuters revelou que o diretor da CIA, William Burns, teria dito a integrantes do governo federal que Bolsonaro deveria deixar de questionar a integridade das eleições no país. A orientação teria sido feita em uma reunião em julho de 2021, de acordo com duas fontes ouvidas pela agência. O chefe do Executivo federal já desmentiu os rumores.

“A gente tem uma posição cada vez mais crítica do governo americano sobre o discurso do Bolsonaro com relação às urnas eletrônicas, e sinais dos receios americanos de que o presidente brasileiro possa se recusar a aceitar o resultado das eleições em outubro. Isso já virou tema de várias declarações oficiais do governo americano, e certamente também é algo que será colocado em discussão nesse encontro entre o Biden e o Bolsonaro”, diz Santoro.

Na terça-feira (7/6), em entrevista, o presidente Jair Bolsonaro voltou a levantar dúvidas sobre as eleições norte-americanas. O mandatário brasileiro afirmou que recebeu informações que o deixaram “com o pé atrás”.

A professora Aline Thomé, por outro lado, acredita que, apesar da declaração do presidente brasileiro às vésperas do encontro com Biden, o assunto não deve estar na pauta. “Esse é dos mais delicados assuntos e não tem porquê de se tocar nele, se o objetivo é que a reunião bilateral seja pacífica”, frisa.

O que é Cúpula das Américas?

A Cúpula das Américas é um evento que reúne chefes de Estado do continente americano. Ela foi criada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e tem o objetivo de promover laços de cooperação entre os países da zona econômica americana.

A nona edição do evento terá como tema “Construindo um futuro sustentável, resiliente e equitativo” para o hemisfério ocidental.

A cúpula deste ano, no entanto, tem potencial para ficar esvaziada, uma vez que o governo dos Estados Unidos não convidou países comandados por regimes tidos como ditatoriais, como Cuba, Venezuela e Nicarágua. Os EUA consideram fraudulentas as eleições que ocorreram nessas nações e se opõe a seus governos.

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