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Cientistas preveem surto de zika até abril

Para pesquisadores da USP, é preciso se preparar para um cenário epidêmico entre os meses de março e abril, quando a população de mosquitos Aedes aegypti atinge seu pico

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Venilton Kuchler/ANPr
Aedes aegypti
1 de 1 Aedes aegypti - Foto: Venilton Kuchler/ANPr

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), integrantes da força-tarefa criada em dezembro para investigar o zika vírus e sua relação com o aumento dos casos de microcefalia no País, afirmaram nesta sexta-feira, dia 8, que, embora não haja comprovação que a doença tenha se espalhado pelo Estado de São Paulo, é preciso se preparar para um cenário epidêmico entre os meses de março e abril, quando a população de mosquitos Aedes aegypti atinge seu pico.

“O que vai acontecer, eu não sei, mas estamos nos preparando para um surto massivo nesse verão”, disse Paolo Zanotto, virologista do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e coordenador da força-tarefa, que tem cerca de 300 pesquisadores e 40 laboratórios. Na sexta-feira, o grupo passou a contar com o reforço de cientistas do Instituto Pasteur de Dacar, no Senegal, que trazem a experiência da atuação em diversos surtos de doenças virais no mundo, entre elas o Ebola.

Uma das principais áreas de colaboração dos cientistas africanos é no desenvolvimento de métodos mais precisos e rápidos de diagnóstico do zika vírus. Entre as técnicas que estão sendo trabalhadas está um teste rápido de detecção, como já existe para a dengue. “Já temos um protótipo de teste rápido para o zika vírus, que também consegue detectar outros vírus similares, como dengue e febre amarela, o que torna o diagnóstico mais preciso. Pela nossa experiência em outros casos, o resultado desse teste pode sair no período de 15 a 20 minutos”, explicou Amadou Sall, diretor científico do Instituto Pasteur de Dacar e coordenador do grupo de pesquisadores africanos no Brasil.

Ele explicou que os testes rápidos podem ser muito importantes para o diagnóstico da doença em regiões mais carentes do Brasil, como cidades do interior do Nordeste que estão vivendo surtos de microcefalia. “Você pode ir a campo, a uma pequena vila, por exemplo, permanecer o dia inteiro lá e submeter as pessoas ao teste, sem precisar enviar as amostras a um laboratório central. É possível fazer em qualquer lugar, mesmo onde não há eletricidade”, disse ele.

Uma versão final do teste rápido, que poderá ser desenvolvido em larga escala e comercialmente, no entanto, pode demorar alguns meses para ser finalizado, segundo Sall.

Múltiplos fatores
Os cientistas também avaliam a possibilidade de mais de um fator estar associado ao aumento da microcefalia no Brasil. De acordo com Sall, o fato de duas coisas estarem acontecendo ao mesmo tempo em um mesmo lugar não significa que uma esteja causando a outra. E usou uma analogia simples: “O fato de o galo cantar quando o Sol nasce não significa que é o canto do galo que faz o Sol nascer”.

Mesmo a presença do vírus no organismo de um bebê nascido com microcefalia não serve como uma prova definitiva. “As coisas podem estar relacionadas, mas não é necessariamente uma que causa a outra”, explica. É possível que haja outros fatores envolvidos nos casos de microcefalia, como uma combinação do zika com outros vírus ou fatores imunológicos ou genéticos dos pacientes.

Estudo
Com o objetivo de investigar como o zika afeta o sistema nervoso de fetos, pesquisadores da força-tarefa encabeçada pela Universidade de São Paulo (USP) começaram na semana passada a contaminar fêmeas de camundongos grávidas com o vírus. “Estamos interessados em ver a interação do vírus com a resposta imune no sistema nervoso. Temos uma parte in vitro, com a infecção de células dos neurônios, por exemplo, para ver se o vírus infecta, se ele replica ou não. A outra parte in vivo estamos fazendo em fêmeas prenhas para ver se a prole vai ter algum tipo de lesão”, explica Jean Pierre Schatzmann Peron, professor do departamento de imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e um dos responsáveis por esse estudo.

Como a gestação de um camundongo demora cerca de 21 dias e todos os animais participantes do experimento serão contaminados até a próxima semana, o pesquisador espera que já haja resultados em um mês. “Talvez a gente nem consiga detectar a microcefalia em si por ser um camundongo, mas a gente pode fazer análises do sistema nervoso, ver se os cérebros têm menos giros, se há mais morte celular, se há mais lesões”, disse Perón.

Para verificar quais períodos da gestação são mais vulneráveis a danos provocados pelo zika vírus, os cientistas estão infectando cada fêmea em um estágio diferente da gravidez. “Fazemos isso para simular os trimestres. Com a prole nascendo, poderemos fazer análises mais interessantes”, diz.

Os pesquisadores também estão em contato com hospitais do Nordeste em busca de amostras de sangue de mulheres que tiveram bebês com microcefalia. Analisando esse tipo de material, é possível verificar se em todos os casos de microcefalia o zika vírus estava presente e se havia algum outro fator que possa ser relacionado à ocorrência da má-formação, por exemplo. Os cientistas também estão monitorando mulheres atendidas em hospitais paulistas cujos bebês têm suspeita de microcefalia associada ao zika vírus.

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