Operadoras devem buscar novos serviços para o 5G, diz especialista
Segundo Luiz César Oliveira, executivo da Viavi Solutions, os investimentos nas redes se justificariam com os aumentos de receitas e redução de custos operativos
atualizado
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As novas redes de telecomunição móvel 5G, que irão oferecer muito mais velocidade de internet para os usuários de smartphone, já têm data prevista para chegar ao Brasil: 2020. No entanto, apesar de oferecerem uma internet dos sonhos, com transmissões de dados ultrarrápidos, que chegam até 10 Gpbs, as operadoras ainda precisam lidar com o dilema de ter que modernizar suas plataformas para atender poucos nichos de clientes.
“Para se ter uma ideia, apenas 10% dos acessos móveis no país são de 4G”, calcula Luiz César Oliveira, vice-presidente de vendas da América Latina da Viavi Solutions, empresa que oferece soluções para redes de telecoms. Segundo ele, as marcas terão que investir em soluções que demandam alta velocidade e baixa latência para seduzir os clientes e viabilizar os altos custos de investimentos. Entre algumas aplicações, ele cita os serviços de streaming e de voz sobre Wi-Fi e LTE.
Algumas empresas de infraestrutura e operadoras já começaram a fazer os primeiros testes de 5G no Brasil. Qual a previsão para a tecnologia estrear no país?
A gente já vê algumas tendências e padronizações na tecnologia que irão formar a base do 5G. As operadoras acreditam que farão os primeiros lançamentos comerciais nos próximos quatro anos. Temos ajudado os clientes fazendo testes em cima de casos que justificariam a implementação do 5G, como a virtualização de ambientes.
O atual momento da economia brasileira pode comprometer investimentos?
Comparado com as operadoras do exterior, o ARPU (receita líquida média por usuário, ou seja, quanto cada cliente gera para a marca) das empresas que atuam no Brasil ainda tem uma diferença grande. Para se ter uma ideia, apenas 10% dos acessos móveis no país são de 4G. Ainda falta muito investimento, principalmente, em cobertura.
No entanto, as taxas de transmissão do 5G justificam a investida, não só pelo aumento da receita, mas pela redução dos custos operativos.
As empresas devem buscar oferecer serviços novos, como voz sobre Wi-Fi e LTE (padrão utilizado na transmissão de dados por banda larga móvel). Com isso, conseguiriam uma nova fonte de monetização.
O senhor acredita que as empresas ainda têm espaço para investir em atualizações no 4G já que a tecnologia é tão nova no país e, com isso, reter qualquer aposta no 5G?
Segundo analistas, a expectativa é de que até 2020 o LTE chegue a 40% dos acessos móveis do Brasil, o que é pouco. O grande inibidor, além do momento econômico, são os custos. Smartphone, planos de dados e infraestrutura ainda são caros no país. As novas frequências de 1.8GHz e 900MHz têm que ser melhor exploradas. Um fenômeno que pode ajudar a aumentar a demanda pelo 4G são as ofertas de voz sobre o Wi-Fi. A Vivo já lançou um serviço de voz sobre Wi-Fi, antes mesmo de ter a aplicação sobre LTE. Por que? Por causa da cobertura. Se você puder usar o roteador do Wi-Fi dentro de casa, em ambientes públicos ou em estabelecimentos como uma extensão da sua rede LTE, então os casos de negócios ficam mais fáceis de serem justificados. Com o sucesso desse tipo de aplicação facilita a migração para as redes 5G.
O 3G foi fundamental para a popularização dos smartphones. Logo depois surgiu o 4G, que marcou a era do streaming. O senhor acredita que o 5G chega para impulsionar a internet das coisas?
Sim. Na feira de Barcelona (Mobile World Congress) assuntos como a internet das coisas, as cidades conectadas, os carros inteligentes sem motoristas, as aplicações médicas remotas foram muito debatidos. Tudo isso requer a velocidade de streaming e a baixa latência que encontramos no 5G. Sem dúvida casos novos surgirão a partir da tecnologia. Também se fala muito de realidade virtual, de jogos com visão em 360°, de transmissão de vídeos em alta resolução via streaming. Tudo isso muda a necessidade da banda e da latência da rede. Eu vejo o surgimento dessas aplicações como um fator motivador de adoção da nova tecnologia, mais até do que pela necessidade de redução de custos operativos.
Com a recente transição do 3G para o 4G, o senhor acredita que o consumidor já está maduro o suficiente para demandar cada vez mais velocidade na transmissão de dados?
A internet móvel de alta velocidade ainda é um serviço de nicho no Brasil. Em áreas urbanas, por exemplo, o consumidor jovem demanda cada vez mais quantidade de dados com qualidade. Fora do centros urbanos a aplicação principal ainda continua sendo a voz. Vemos isso na quantidade de acessos de clientes com tecnologias 2G e 3G em planos pré-pago.
Estamos vivendo um momento polêmico no país, quando as operadoras de banda larga fixa discutem sobre o bloqueio ou redução de franquia quando o usuário exceder o limite. Até que ponto essa discussão pode atrapalhar o avanço da rede no país?
Aplicações como videostreaming tiram receitas das operadoras e até hoje elas não descobriram uma fórmula ideal para fechar essa equação. A polêmica é uma tentativa das empresas se protegerem da crescente utilização de aplicações OTT (sigla de “Over The Top”, ou seja, aplicações que usam conteúdo sobre as infraestruturas das telecoms). Sinceramente não acredito que esse tipo de limite permaneça no tempo. É uma questão de evolução da tecnologia. A tendência é que não exista essa limitação. A operadora terá a opção de investir em soluções como a sua própria aplicação de vídeo ou de voz sobre LTE. O investimento em rede seria uma forma de melhorar a qualidade de serviços para os usuários que já utilizam Skype, Viber, WhatsApp, entre outros. É o que empresas dos Estados Unidos como AT&T, Verizon, T-Mobile estão fazendo. Todas elas têm serviços (de voz sobre LTE) funcionando e que não concorrem diretamente com as aplicações OTT.
O caminho não é bloquear, mas sim oferecer melhores caminhos para o clientes para que eles deixem de usar ou reduzir o uso de aplicações OTT.
O senhor acredita que pode haver alguma dificuldade para balancear a implantação de um novo padrão enquanto os antigos ainda enfrentam problemas?
Realmente teremos que conviver com a mudança de tecnologia. O principal desafio para as operadoras não será apenas a implementação do 5G, mas a convivência com as redes antigas. O sonho das empresas é gerenciar apenas uma rede, no entanto, têm que manter operações em 2G, 3G e 4G, por conta de contratos de concessão. Convivemos com um ambiente que coloca obstáculos para que a operadora invista na qualidade de uma só rede.
Precisamos definir a regulação do 5G, desde a parte de instalação das antenas, das frequências. Ou seja, seria necessário uma revisão da parte regulatória e, quem sabe, da forma de concessão para permitir que as marcas foquem naquilo que os clientes desejam consumir. Na minha opinião isso tem que ser revisto.