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Goles e cliques: dependência de tecnologia mudou até a forma como bebemos em um bar

Em um mundo cada vez mais conectado, bares e botecos não precisam apenas de cerveja gelada e petisco gostoso

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Altan Gocher/Education Images/Universal Images Group via Getty Images
A man uses his mobile phone while sitting with his dog outside a pub on the second day of Eid al-Adha celebrations in Istanbul, Turkey
1 de 1 A man uses his mobile phone while sitting with his dog outside a pub on the second day of Eid al-Adha celebrations in Istanbul, Turkey - Foto: Altan Gocher/Education Images/Universal Images Group via Getty Images

Olhar para os números da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), sobre acesso à internet e posse de celular no Brasil, serve apenas para reforçar algo que é possível ver em qualquer boteco.

“Cliente já deixou de beber aqui porque o meu wi-fi estava falhando”, revela Jonas Natividade, proprietário de um bar no Entorno do DF. Além de se preocupar em servir cerveja gelada e petiscos no ponto, ele ainda afirma ter ganho um trabalho extra nos últimos anos: carregar telefones de clientes. “Não tem como contar, mas vamos botar aí uma média de 50 a 70 celulares em um dia de movimento”, calcula.

Dono do próprio bar há 6 anos, mas com experiência atrás de balcões desde a adolescência, ele é uma testemunha das mudanças no comportamento dos clientes. Se antes a preocupação de muitos era com a temperatura da cerveja, o sabor do tira-gosto, uma boa conversa ou um destilado para aquecer um coração partido, agora parece também ser indispensável compartilhar a realidade com o mundo virtual.

País cada vez mais conectado

Os dados divulgados pela a última PNAD Contínua mostram que mais de 148 milhões de brasileiros possuem celular e 98,6% da população utiliza os aparelhos para acessar a internet. Além disso, 78,3% conseguem acessar a rede de qualquer lugar que estejam, sendo 95,7% com a finalidade de enviar e receber mensagens.

Quando comparados com os números da primeira PNAD Contínua sobre a posse de celular e o acesso à internet no país, essa evolução fica evidente. Em 2016, ano da primeira publicação, 77,1% da população maior que 10 anos tinha acesso a celular, sendo que 94,6% usavam os aparelhos para acessar a internet. Um crescimento que mostra o aumento no uso de tecnologias, e revela um novo jeito de viver.

Goles e cliques

Sentado no balcão, apenas com você mesmo como companhia, fica fácil enxergar. Porém, de tanto observar, surgiu a vontade de entender o porquê de a maioria das pessoas não conseguirem largar o celular mesmo enquanto se divertem com amigos em uma mesa de bar.

“Se preocupam mais em postar coisas do que curtir. Agora tudo é drink, porque o pessoal quer tirar foto, ficam conversando no celular direto”, confessou o auxiliar de cozinha Haykeend Andeerson, que lida com clientes no bar onde trabalha por pelo menos 10 horas por dia.

A psicóloga Claudia Melo explica que esse é um comportamento comum em algumas pessoas que se acostumaram a “ficar nesse ciclo vicioso de postando, vivendo dentro desse universo que é perfeito demais e não cabe ao humano, pois não somos perfeitos”. E faz um alerta: “Quando você ver algo muito perfeito, cuidado, pois não é humano”.

Novo normal

Atualmente, parece loucura — e até mesmo assustador para alguns — pensar em uma vida sem tecnologia. Mas um especialista nas mudanças do homem e da sociedade explica que a história da humanidade está intimamente ligada à tecnologia, desde inovações como a criação da roda até os smarthphones atuais.

“Pensar em como a tecnologia afetou a humanidade é pensar nessa via de mão dupla, na qual criamos tecnologias enquanto somos (re)criados por elas”, explica Guilherme Fians, Doutor em Antropologia Social, e professor de Antropologia Digital na Universidade de Brasília.

No início, até passou pela cabeça que a culpa das pessoas não conseguirem largar o celular, nem mesmo enquanto bebem uma cerveja no happy hour, fosse da tecnologia. Mas depois de entender melhor o assunto, ficou claro que as inovações não chegam a ser boas, ruins e nem mesmo neutras. “Ela é o que os seres humanos fazem com ela”, explicou Fians.

As tecnologias podem ser boas, permitindo superar barreiras físicas e possibilitando nos comunicar com pessoas de todo o mundo, algo particularmente importante recentemente, com a pandemia da Covid-19, assim como podem ser prejudiciais quando se tornam uma dependência.

“Essa dependência tecnológica traz isolamento, prejuízo no rendimento escolar, dificuldade de desempenho no trabalho, nos relacionamentos, irritabilidade, falta de concentração, cansaço durante o dia, pois a pessoa passou a madrugada na internet… é interessante parar para pensar que os sintomas aparecem. O problema é quando aparece e as pessoas não buscam ajuda. As pessoas pensam ‘vou parar’, mas não conseguem parar, pois é como um vício. E o pior: as pessoas passam a usar a internet para regular o humor. É preciso olhar para essas pessoas e buscar uma saída, pois após adoecer, o caminho é longo e nem sempre vamos poder fazer do nosso jeito”, explica a psicóloga Claudia Melo.

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