Chefe do Comando Vermelho é solto no Rio, mesmo com mandado em aberto
Polícia Civil afirma que alertou Administração Penitenciária sobre mandado expedido pelo TJRJ, no entanto, o criminoso foi liberado
atualizado
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Rio de Janeiro – Apontado como um dos chefes do Comando Vermelho, Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o “Abelha”, foi liberado da prisão na terça-feira (27/7) por determinação de um alvará de soltura expedido no dia 20 pela 29ª Vara Criminal do Rio de Janeiro. Porém, no dia anterior, a Polícia Civil alertou a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) sobre um mandado de prisão preventiva em aberto contra o homem em outro processo.
De acordo com a Polícia Civil, nos sistemas da corporação, havia uma ordem de prisão pendente por homicídio, expedida no dia 14 deste mês, no âmbito do processo que julga os acusados pela morte de Ana Cristina Silva, 25 anos. Ela morreu após ser baleada durante um confronto entre facções rivais no Complexo do São Carlos, na região central do Rio, em agosto do ano passado. Ela foi atingida enquanto protegia o filho de 3 anos dos disparos.
A Seap informou que ao questionar o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) no dia 26, recebeu a informação de que não havia nada que impedisse o cumprimento do alvará, o que foi feito logo no dia seguinte. A secretaria ressaltou que a única fonte de conferência de mandados é o Banco Nacional de Monitoramento de Prisões (BNMP 2.0), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que também não apontou nada contra o acusado.
No entanto, e-mails aos quais o Metrópoles teve acesso mostram que a secretaria recebeu do TJRJ, no dia 15 de julho às 14h32, o mandado de prisão em desfavor de Wilton Carlos, assinado pelo juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira, da 3ª Vara Criminal. Uma secretária do órgão acusou o recebimento às 14h47 do mesmo dia e protocolou o documento. A Polícia Civil também recebeu o mandado via e-mail.
Em nota, a Seap declarou que Wilton foi solto dentro da lei.
“Esta Secretaria de Administração Penitenciária esclarece que seguiu todos os procedimentos legais, não havendo no momento de cumprimento do alvará de soltura, fundamentação legal legítima que impedisse o cumprimento da ordem judicial de soltura, como expressamente apontado pelo Tribunal de Justiça, após o pedido de providências formulado quanto à existência de impedimentos judiciais que prejudicassem a sua execução”, afirmou.
Investigação
As investigações da Polícia Civil revelaram que, de dentro da prisão, Wilton Carlos Rabello Quintanilha deu ordens para que um dos chefes do Complexo da Penha, na zona norte, Edgard Alves de Andrade, o “Doca”, participasse da invasão do Morro da Mineira, uma das comunidades do Complexo do São Carlos, na região central do Rio, no final de agosto de 2020.
Na ocasião, as facções Comando Vermelho, a maior do estado, e Terceiro Comando Puro entraram em confronto por disputa por pontos de drogas. Traficantes da Rocinha, na zona sul, e do Morro dos Prazeres, também na região central, participaram da tomada do morro.
Wilton, o “Abelha”, faz parte do “conselho” do Comando Vermelho, que, segundo a polícia, tem como funções: o planejamento estratégico e execução tática; coordenação de atos ilícitos; invasões territoriais às comunidades dominadas por grupos rivais; ataques a policiais; escolha das lideranças locais; organização financeira; vinganças; entre outros crimes.
Já “Doca” é apontado como “braço operacional” do Comando Vermelho e teria ajudado a traçar estratégias para a invasão.
Foi durante o tiroteio que Ana Cristina foi atingida. Ela foi baleada na cabeça e na barriga e não resistiu aos ferimentos.
“A vítima foi alvejada em um contexto de verdadeira guerra travada entre duas organizações criminosas: o Comando Vermelho – CV – e Terceiro Comando Puro – TCP, cujos integrantes apresentam elevado poderio bélico, periculosidades extremadas e fichas criminais extensas, sendo a maioria com diversos mandados de prisão”, afirmou o Portal dos Procurados na ocasião.