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Chapecoense: Quase um ano depois, relatório do acidente aéreo ainda não saiu

Com isso, famílias não conseguem indenização, e até mesmo a seguradora se recusa a pagar. Demora aumenta sofrimento dos parentes das vítimas

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Chapecoense – homenagens aos mortos na queda de avião
1 de 1 Chapecoense – homenagens aos mortos na queda de avião - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Para 71 famílias, a dor de perder seus entes queridos devido à queda do avião que transportava o time da Chapecoense (SC) não diminuiu. A cada conversa com uma viúva, um órfão ou uma mãe, constata-se, em suas vozes, a mesma tristeza presente em 29 de novembro de 2016, data da tragédia. Era madrugada, no Brasil, quando a aeronave lotada de jogadores, comissão técnica e jornalistas caiu entre as cidades de La Unión e La Ceja del Tambo, na Colômbia. Apenas seis pessoas sobreviveram.

Um ano depois do desastre aéreo, é como se o tempo tivesse estacionado. Principalmente porque as famílias não sabem, até hoje, a quem culpar. Há cerca de um mês, o Ministério Público Federal de Santa Catarina, estado de origem do clube, concluiu inquérito no qual afirma que a Chape não foi negligente ao contratar a empresa aérea LaMia. Enquanto isso, a companhia tenta se esquivar da culpa, jogando a responsabilidade para o piloto, que também morreu no acidente.

O governo colombiano, responsável pela investigação oficial, ainda não divulgou o relatório final sobre o que teria levado à queda do avião. A expectativa era de que o documento fosse apresentado antes de a tragédia completar um ano, mas agora a promessa é de que isso ocorra até o fim deste ano.

O fato de a investigação envolver três países com legislações distintas – Brasil, Colômbia e Bolívia, já que a LaMia seria boliviana – só traz mais complicações na busca por justiça. No entanto, um quarto elemento somou-se à confusão jurídica: as investigações teriam chegado até a Venezuela, pois informações preliminares do Ministério Público colombiano dão conta de que uma importante família do país controla, à distância, a companhia aérea. Entre os chefões estariam Loredana Albacete Di Bartolomé e seu pai, Ricardo Albacete Vidal, ex-senador do país.

Por ora, um relatório preliminar aponta como culpados os donos oficiais da LaMia e autoridades do governo boliviano. São eles: Celia Castedo, funcionária da empresa que administra os aeroportos na Bolívia; Joons Teodovich, à época supervisor do tráfego aéreo do país; Gustavo Vargas Gamboa, diretor-geral da LaMia; Gustavo Vargas Villegas, filho de Gamboa e alto funcionário da direção-geral de aviação civil; além de Marco Rocha, um dos donos da empresa aérea.

Sem indenização ou seguro
Enquanto todos os países envolvidos tentam se livrar das acusações, as famílias das vítimas não receberam praticamente indenização alguma. Até agora, os parentes dos jogadores mortos só contaram com as rendas de alguns amistosos realizados para arrecadar fundos e os seguros do clube (14 vezes o salário do jogador) e da Confederação Brasileira de Futebol (12 vezes a remuneração do atleta).

A seguradora Bisa – que deveria pagar cerca de US$ 25 milhões, ou R$ 80 milhões – recusa-se a repassar o valor, sob a alegação de que o acidente ocorreu por erro do piloto Miguel Quiroga. A empresa propôs indenizar em US$ 200 mil (R$ 646 mil) cada família, mas, para isso, ao menos 51 delas precisariam desistir de qualquer ação judicial, o que não ocorreu.

Na luta por justiça, famílias e amigos criaram duas organizações. A primeira, chamada Associação Brasileira das Vítimas do Acidente com a Chapecoense (Abravic), recebeu, no último mês, R$ 28 mil para apoiar as vítimas. A promessa é que o valor passe a ser depositado mensalmente. A outra, a Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo da Chapecoense (Afav-C), por enquanto, dá apenas suporte psicológico.

Sofrimento sem fim
Presidente da Torcida Jovem da Chapecoense, Fernando de Lima, 22 anos, conversou com a equipe do Metrópoles há um ano, quando a reportagem esteve em Chapecó. Agora, perguntado sobre o que mudou de lá para cá, ele tenta colocar em palavras como a cidade continua triste, e o time, ainda abalado.

Eu acordei de um sonho, que era ver o futebol simples conquistar a América, para um pesadelo do qual até hoje eu não saí. Nós éramos um time de família, agora o amor à camisa não é o mesmo. É como se uma sombra continuasse em cima da gente

Fernando de Lima, presidente da Torcida Jovem da Chape

Muitas viúvas saíram da cidade. Como a maioria dos atletas não era natural de Chapecó, as famílias tentam reconstruir a vida em locais onde a lembrança das vítimas não seja constante. É o caso de Bárbara Monteiro, viúva do atacante Ananias, que agora vive em Salvador (BA). Para ela, o mais difícil é responder aos questionamentos do filho, hoje com 6 anos.

Ele pergunta se o pai tem celular para ele falar, porque está com muita saudade. Eu queria protegê-lo de todo o sofrimento, mas não consegui

Bárbara, viúva do atacante Ananias

Outras mulheres preferiram não falar. A viúva do meia Cléber Santana, Rosângela Loureiro, disse apenas que tenta lembrar os bons momentos, para não “surtar”. Pouco depois da morte do jogador, Rosângela fez uma tatuagem na perna, com a intenção de “levá-lo para sempre” em seu coração. Outros familiares relatam o uso de remédios para conseguir cair no sono, ou de antidepressivos. Enquanto isso, a maioria dos filhos estão passando por tratamento psicológico para lidar com a tragédia, garante a Abravic e Afav-C.

Se para as viúvas dos jogadores já é complicado, para os parentes dos jornalistas e funcionários do clube a situação é ainda pior. Segundo Laura Bittencourt, viúva do segurança do time, Fernando Bittencourt, a família não tem o mesmo espaço na mídia, não é procurada por ninguém para receber ajuda, como também não recebeu o seguro da CBF. Fernando deixou cinco filhos, com idades entre 3 e 14 anos.

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Torcedores deverão lotar a Arena Condá no dia em que o acidente aéreo completa um ano
Homenagens em Chapecó nunca cessaram
Até mesmo os índios da região prestam homenagens aos mortos
Chapecó segue triste desde a tragédia
Milhares de flores foram deixadas, por torcedores e moradores da cidade, às vítimas da tragédia
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Famílias ainda pedem ajuda a Deus para encarar a tragédia

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Torcedores deverão lotar a Arena Condá no dia em que o acidente aéreo completa um ano

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Chapecó segue triste desde a tragédia

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Milhares de flores foram deixadas, por torcedores e moradores da cidade, às vítimas da tragédia

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Dos quatro sobreviventes brasileiros da tragédia, três seguem trabalhando no clube. O lateral-esquerdo Alan Ruschel voltou aos gramados em agosto deste ano. O zagueiro Neto ainda não consegue jogar, mas acredita que terá condições na temporada 2018. O goleiro Follmann, que perdeu a perna direita no acidente, está estudando e ganhará um cargo na diretoria do clube. O jornalista Rafael Henzel trabalha na mesma rádio de Chapecó. Recentemente, ele lançou o livro “Viva Como se Estivesse de Partida”, com relatos do acidente.

A tragédia
Era madrugada de uma terça-feira quando o avião que transportava a delegação da Chapecoense para a primeira final internacional de sua história caiu. O time estava indo jogar a partida de ida da decisão da Copa Sul-Americana. O adversário era o Atlético Nacional, de Medellín, da Colômbia. A Chape vivia o melhor momento desde a sua fundação, em 1973.

Na aeronave estavam 77 pessoas, entre jogadores do time brasileiro, comissão técnica e jornalistas do país que iriam cobrir o jogo, além da tripulação. Dessas, 71 morreram, incluindo 19 jogadores da Chapecoense. Quatro brasileiros e dois tripulantes sobreviveram.

As primeiras investigações indicaram que a falta de combustível teria levado à queda do avião. O “fator humano” também foi apontado como possível causa da tragédia. No entanto, as famílias ainda aguardam o relatório final sobre o que teria levado ao desastre.

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