Cenário pós-7/9 terá mais polarização e instabilidade, prevê empresa de análise de risco
Análise da empresa de consultoria Control Risks avalia que atos de 7 de setembro trazem perigo de violência, mas que o futuro será pior
atualizado
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A ansiedade do brasileiros, gostem ou não do governo federal, está em alta, à espera do que vai acontecer no próximo dia 7 de setembro, em uma vitória do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em agendar o debate público. Mesmo com acontecimentos do feriado da Independência, porém, nada indica que a conjuntura pode melhorar, sob qualquer perspectiva, segundo avaliação da empresa de consultoria Control Risks. A companhia faz análise de risco em todos os continentes e tem dito a seus clientes que o panorama brasileiro é incerto. “E empresários e investidores não gostam de trabalhar em cenário de incerteza”, afirma Mário Braga, analista sênior da companhia, em entrevista ao Metrópoles.
Os níveis de polarização e instabilidade política devem continuar a subir no país, ainda que os atos de 7 de setembro ocorram de maneira “majoritariamente” pacífica, conforme o parecer de Braga. Para o especialista, além da deterioração política, problemas com impacto direto na vida das pessoas deverão se impor e empurrar Bolsonaro ainda mais para a radicalização.
“O contexto é de baixa popularidade do presidente, de queda nas intenções de voto em pesquisas eleitorais, aliado a um cenário de aumento da inflação, desemprego em patamares elevados e crise energética que pode se agravar”, enumera. “A percepção do eleitorado em relação ao presidente também deve ser afetada negativamente com a pandemia e com os desdobramentos da CPI da Covid-19, em termos de corrupção, que era uma das grandes bandeiras dele”, completa o analista, explicando a razão do horizonte para os próximos meses ser de pessimismo.
“Temos uma variável que chamamos de ‘ansiedade social’, que deve persistir até a eleição. Também há uma insatisfação de parte importante do eleitorado em relação ao presidente. Ao mesmo tempo, Bolsonaro perde apoio incondicional do setor empresarial, do mercado financeiro, que não vê os avanços que gostaria no Congresso – outro lugar onde o governo está desarrumado, perdendo”, analisa ainda Mário Braga, que é analista líder da Control Risks para o Brasil, com responsabilidades adicionais cobrindo o Cone Sul em geral.
Os riscos nos atos em si
O analista avalia ainda que, sobre os atos em si, há riscos operacionais e de segurança para empresas que atuam perto de onde as manifestações vão se concentrar.
“Os riscos são especialmente elevados nas proximidades de onde os protestos devem ocorrer, como a Avenida Paulista, o Largo da Batata e o Vale do Anhangabaú, em São Paulo; a Esplanada dos Ministérios e a Praça dos Três Poderes, em Brasília; e a Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro”, afirma ele. “Apesar de o cenário mais provável não contemplar confrontos violentos entre apoiadores e críticos do governo, há riscos de episódios isolados de violência e vandalismo”, completa.
A expectativa pela participação, em grande volume, de servidores das forças de segurança – potencialmente armados – nos atos também é apontada por Braga como agravante da conjuntura. “Esse cenário eleva as ameaças de segurança, especialmente para instituições que têm sido alvo frequente de ataques do presidente e de seus aliados, como o STF e o Congresso”, alerta o especialista.
Precauções
Considerando riscos como os apontados pela Control Risks, instituições públicas e privadas têm tomado precauções em relação ao 7 de Setembro. A Embaixada dos EUA no Brasil, por exemplo, sugeriu aos americanos residentes no país que evitem as áreas em que os protestos vão ocorrer.
A região onde está localizada a Embaixada da China, em Brasília, recebeu reforço de segurança desde sexta-feira (3/9). A Polícia Militar do DF, atendendo a recomendação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), promete usar todo o efetivo para garantir a segurança da população neste feriado.
Questões sobre os caminhoneiros
O tamanho da adesão de trabalhadores do setor de transporte de cargas ao movimento pró-governo é outra incógnita, às vésperas do 7 de Setembro. Apesar de convocação pesada nas redes bolsonaristas, entidades que representam caminhoneiros têm rechaçado a participação institucional, por considerarem que a pauta é política e não diz respeito às reivindicações da categoria. O apoio ao presidente entre os caminhoneiros, porém, é alto.
“Manifestações de caminhoneiros fechando estradas não devem ter as mesmas proporções daquelas que pararam o país em 2018. No entanto, não é possível descartar que pequenos grupos conduzam protestos isolados, de modo que os riscos operacionais provenientes desse tipo de ação são baixos, mas não nulos”, afirma Mário Braga. “Em geral, dependendo de quais regiões ocorrer, esse tipo de bloqueio pode afetar do escoamento de produtos do agronegócio ao transporte de peças da indústria, afetando cadeias de suprimento caso a interrupção na circulação seja elevada”, conclui o analista da Control Risks.