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Celulares tinham planos de fuga do miliciano Adriano da Nóbrega

Relatórios de extração de dados dos aparelhos do ex-caveira comprovam que, mesmo em fuga, ele seguia dando ordens para seus comparsas

atualizado

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Adriano da Nóbrega
1 de 1 Adriano da Nóbrega - Foto: Reprodução

Rio de Janeiro – Mensagens e fotografias encontradas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro nos nove celulares apreendidos com o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega revelam como o ex-capitão do Bope planejava fugir da ação policial que acabou com sua morte, na Bahia, no ano passado.

Nos celulares, o MP encontrou imagens do arsenal de fuzis que Adriano tinha a seu dispor.

O órgão também teve acesso a diálogos que comprovam que, mesmo em fuga, ele seguia dando ordens para seus comparsas — um policial militar entre eles —, ameaçava desafetos, negociava cavalos de raça e monitorava os passos da contravenção no Rio. O jornal Extra teve acesso, com exclusividade, aos relatórios de extração de dados dos aparelhos do ex-caveira numa operação num sítio na cidade baiana de Esplanada.

“Já tô no rancho. Fica trank. Segue com Deus. Vai dar certo”. Essas foram as últimas mensagens enviadas pelo miliciano, cerca de seis horas antes de ser morto, na manhã do dia 9 de fevereiro de 2020. Na madrugada anterior, ele havia chegado ao sítio do vereador Gilsinho da Dedé (PSL), que esperava usar como esconderijo.

O texto foi endereçado a Julia Emilia Mello Lotufo, viúva de Adriano, atualmente foragida. Na segunda-feira (22/3), ela foi alvo da Operação Gárgula, contra a organização criminosa responsável pela movimentação financeira e lavagem de dinheiro do espólio criminoso deixado por Adriano.

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Polícia da Bahia faz reconstituição da morte de capitão Adriano
Repercussão do caso
Adriano da Nóbrega
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Adriano chefiava a milícia de Rio das Pedras e integrava o consórcio de matadores de aluguel conhecido como Escritório do Crime

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Polícia da Bahia faz reconstituição da morte de capitão Adriano

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Mensagens de Júlia

Poucas horas antes da mensagem, Julia avisou a Adriano que ele deveria fugir: “Não fica mais aí”. Foi a senha para ele deixar a casa do seu amigo e fazendeiro Leandro Guimarães, onde estava hospedado, e ir para o rancho isolado, onde acabou sendo encontrado.

Julia enviou a mensagem por um aplicativo de mensagens logo após ser parada por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na BR-116, na altura de Vitória da Conquista, também na Bahia. Ela voltava ao Rio, depois que o casal descobriu que a polícia estava em seu encalço.

Antes, os dois estavam numa casa na Costa do Sauípe, no litoral baiano. Quando a polícia chegou ao local, Adriano conseguiu escapar por um mangue e fugiu para o interior.

“Segue a vida. Normal que acontecesse. Agora vou me deslocar. Deu mais algum dado relevante? Nome todo daqui?”, perguntou Adriano à mulher, já preparando a fuga. Ela respondeu: “Pelo amor de Deus. Não”.

Na mesma madrugada, horas antes de ser morto, Adriano se comunicou, por um outro aparelho, com o soldado da PM do Rio Rodrigo Bittencourt Fernandes Pereira do Rego, apontado pelo MP como um dos seus laranjas. Na ocasião, Adriano estava preocupado com o fato de sua mulher estar circulando num carro que estava sendo monitorado pela polícia.

Adriano também deu instruções sobre o que o comparsa deveria dizer à Julia quando ela chegasse. “Explica pra J (Julia) que saí de onde tava e fui mais pra dentro. Por isso não tô conseguindo falar”.

Bittencourt, apontado como braço-direito do miliciano durante o período em que ele estava foragido, foi preso na segunda-feira (22/3). Ao longo da investigação, ele foi flagrado tentando se desfazer de vários dos bens de Adriano quando não estava de serviço no 20º BPM (Mesquita).

Negócios

Segundo o MP, mesmo fugindo da polícia, Adriano seguia negociando cavalos de raça, uma das atividades em que lava o dinheiro proveniente do crime. “Povo aqui botou 200 no cavalo. Você dizendo que arruma mais aí. Já dei a palavra”, escreveu o miliciano a um interlocutor no dia 3 de fevereiro.

Outras mensagens expõem a rede de apoio que o ex-caveira tinha na Bahia. Depois da fuga da Costa do Sauípe, ele mandou que um comparsa — ainda não identificado, mas que usava um número do estado de Sergipe — fizesse uma mala para que ele pudesse fugir para o interior. “Traga minha rede azul e edredom, minhas coisas de fazenda, facas. Devo viajar logo”, determinou.

Segundo o jornal Extra, num terceiro aparelho, os peritos do MP encontraram o arsenal de Adriano.

Seis fotos de fuzis diferentes foram feitas com o celular e enviadas pelo miliciano a um interlocutor por um aplicativo de mensagens. Uma das armas é camuflada e outras duas apresentam lunetas telescópicas e tripés, ideais para tiros de precisão.

Peritos também acharam num dos aparelhos do ex-caveira indícios de que ele seguia, mesmo de longe, os passos da contravenção no Rio. A um comparsa, Adriano enviou uma foto da manchete “Filha de contraventor fala em ‘gente vendida’ em delegacia”.

A reportagem contém uma entrevista com Shanna Harrouche Garcia, filha do bicheiro Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, publicada em outubro de 2019, logo após ela sofrer um atentado. Adriano trabalhou para Shanna entre 2007 e 2011, mas rompeu com a família Garcia. Ele é apontado pelo MP como autor de vários homicídios de integrantes do clã que nunca foram esclarecidos.

Dos nove celulares apreendidos com Adriano, só em três continham dados que podiam ser extraídos. As informações retiradas dos aparelhos foram usadas pelo MP na investigação sobre o destino de seu espólio.

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