metropoles.com

Católicos ultraconservadores sabotam Campanha da Fraternidade 2021

Aceno por diálogo com população LGBTQI+ enfureceu fundamentalistas, que incentivam fiéis a não doar para a iniciativa no Domingo de Ramos

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Divulgação
A Campanha da Fraternidade 2021
1 de 1 A Campanha da Fraternidade 2021 - Foto: Divulgação

Após deixar de ser realizada no ano passado, por causa das restrições impostas pela pandemia de coronavírus, a Campanha da Fraternidade de 2021 começa sob ataques nas redes e ações de boicote. A cruzada é promovida por grupos católicos ultraconservadores, que se revoltaram com o protesto da iniciativa religiosa contra a violência sofrida pela população LGBTQI+.

Com o tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”, a tradicional iniciativa que pede doações de fiéis para financiar projetos sociais apoiados pela Igreja Católica virou alvo de religiosos fundamentalistas nas redes sociais. Um dos motivos é a busca da inclusão, nesse diálogo, das minorias e a violência direcionada a esses grupos.

Os ataques nas redes são ferozes e acusam líderes religiosos de terem aderido a “pautas abortistas e anticristãs”. Com vídeos no YouTube e hashtags no Twitter e no Instagram, esses grupos tentam incentivar os cristãos a não doar nenhum dinheiro para a Campanha da Fraternidade.

Tradição católica desde a década de 1960, a campanha é promovida anualmente no período da quaresma, terminando no Domingo de Ramos, e tem sido realizada em versão ecumênica (convidando outras igrejas cristãs) a cada cinco anos, desde 2000.

Nesses anos específicos, como é o caso de 2021, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divide a organização da campanha com o Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), do qual representantes católicos também são integrantes.

A pastora luterana Romi Bencke, secretária-executiva do Conic, é um dos principais alvos do discurso de ódio. As investidas que ela sofreu motivaram mais de 200 entidades da sociedade civil a protestar e se solidarizar.

Em carta, a Aliança de Batistas do Brasil repudiou a campanha de ódio e afirmou que os ataques estão sendo direcionados com mais força a lideranças femininas, “além do cunho antiecumênico são carregados de misoginia indisfarçável”.

“Nos vemos perplexos com os ataques que a CFE 2021 (Campanha da Fraternidade Ecumênica) vem sofrendo por parte de setores que buscam, entendemos, usurpar o nome da Igreja Católica Apostólica Romana, que conosco compõe este Conselho, para ataques infundados, injustos e até mesmo criminosos”, diz a carta da Aliança de Batistas.

O problema

Os ultraconservadores se revoltaram contra o documento que explica as motivações da Campanha da Fraternidade de 2021, principalmente em relação ao parágrafo que faz a seguinte afirmação: “Outro grupo que sofre as consequências da política estruturada e da criação de inimigos é a população LGBTQI+”.

O documento traz dados do Atlas da Violência e da ONG Grupo Gay da Bahia para denunciar que 420 pessoas desse grupo foram assassinadas em 2018, e argumenta que “esses homicídios são efeitos do discurso de ódio, do fundamentalismo religioso, de vozes contra o reconhecimento dos direitos das populações LGBTQI+ e de outros grupos perseguidos e vulneráveis”.

Para os religiosos mais extremistas, sobra militância e falta religião no documento.

Extrema direita olavista em ação

Os conservadores católicos autores das primeiras investidas contra a iniciativa não chegam a ser populares nas redes, mas o movimento vem ganhando força com a adesão de alguns influenciadores de extrema direita. Um deles é o guru Olavo de Carvalho, que tem divulgado pelo Facebook vídeos que atacam a Campanha da Fraternidade e a CNBB.

postagem de olavo de carvalho
Olavo de Carvalho divulga boicote à Campanha da Fraternidade

Os propagadores do discurso que extremistas como Olavo de Carvalho difundem são católicos como Frederico Abranches Viotti, porta-voz do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira. Em vídeo com imagens sacras e referências à monarquia, ele acusa “setores da Igreja Católica” de estarem trabalhando contra o Brasil e pelo marxismo.

“Estamos vendo, no Brasil, o cristianismo ser desvirtuado com a questão da ideologia de gênero. E o que faz a CNBB? Uma campanha com conceito anticatólico de fraternidade e rompe as barreiras que o católico ainda tem ao pecado. Ao pecado, por exemplo, do homossexualismo”, protestou em transmissão na última semana.

“A CNBB colabora para a destruição do senso católico. Católicos não podem contribuir para uma campanha da fraternidade como essa”, pede ainda Viotti.

6 imagens
Olavo de Carvalho adere ao boicote e critica CNBB
A Campanha da Fraternidade
Material de divulgação da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021
Ataques no Twitter
Frederico Abranches Viotti, porta-voz do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira
1 de 6

Pastora Romi Bencke é alvo de ataques nas redes sociais

Reprodução/Twitter
2 de 6

Olavo de Carvalho adere ao boicote e critica CNBB

Reprodução/Facebook
3 de 6

A Campanha da Fraternidade

Divulgação
4 de 6

Material de divulgação da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021

Divulgação
5 de 6

Ataques no Twitter

Reprodução/Twitter
6 de 6

Frederico Abranches Viotti, porta-voz do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira

Reprodução/Youtube
A reação

A CNBB divulgou, na última terça-feira (9/2), longa carta sobre o assunto, na qual tenta explicar os princípios da Campanha da Fraternidade e justifica o tom “menos católico” do texto pelo espírito ecumênico e pela redação do âmbito do Conic, ainda que com a concordância da entidade que representa os bispos católicos.

A carta adota tom mais defensivo, explicando o processo de formulação de cada campanha e sua importância. Veja aqui a íntegra.

“Algumas afirmações têm ocasionado insegurança e mesmo perplexidade”, diz a carta, sem citar diretamente os ataques virtuais.

Em sua parte final, o documento se defende das investidas, lembrando que “a Igreja tem sua doutrina estabelecida a respeito das questões de gênero e se mantém fiel a ela” e que “os recursos do Fundo Nacional de Solidariedade [a arrecadação da campanha] serão aplicados em situações que não agridam os princípios defendidos pela Igreja Católica”.

A Campanha da Fraternidade

O Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), para o qual vão os valores arrecadados na Campanha da Fraternidade, sustenta a ação social da Igreja Católica em temas ligados à campanha de cada ano. Em 2019, segundo a CNBB, o fundo distribuiu R$ 3,8 milhões para apoiar 218 projetos que impactaram 200 mil pessoas.

Dois deles funcionam no Distrito Federal. O projeto Protegendo os Pequeninos, da Arquidiocese de Brasília, acolhe crianças, jovens e adultos com múltiplas deficiências desde 2009. Em Brazlândia, a CNBB mantém, desde 2014, o projeto Correndo Atrás de um Sonho, que dá treinos a adolescentes fora do horário de aulas.

Veja um vídeo da CNBB sobre o fundo e como ele é usado:

Apesar de tanta polêmica, a Campanha da Fraternidade de 2021 ainda nem foi lançada oficialmente, o que vai ocorrer na próxima Quarta-feira de Cinzas (17/3). As ações vão até 28 de março, no Domingo de Ramos, que é o dia oficial de coleta de doações para a iniciativa.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?