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Casos elevados de síndrome respiratória em crianças acendem alerta

Fiocruz aponta número elevado de registros de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças de até 9 anos

atualizado

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Aline Massuca/ Metrópoles
Alunos do município do Rio retornam às aulas presenciais com 99,9% da rede em funcionamento. Os alunos alternarão em grupos por semana de aula presencial e casa.
1 de 1 Alunos do município do Rio retornam às aulas presenciais com 99,9% da rede em funcionamento. Os alunos alternarão em grupos por semana de aula presencial e casa. - Foto: Aline Massuca/ Metrópoles

Diversas unidades da federação já retomaram as aulas escolares em modelo híbrido. Agora, como São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal anunciaram nesta semana, o retorno integral ao presencial está sendo acelerado, embalado pelo avanço da imunização no país.

A expectativa para a volta de todas as crianças – ao mesmo tempo – às instituições de ensino é alta, já que grande parte das escolas ficou fechada durante todo o ano de 2020. No entanto, é preciso ter atenção aos cuidados e à prevenção ao coronavírus e a outras doenças respiratórias.

O 41º Boletim Infogripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado na última semana com dados de 10 de setembro a 16 de outubro, mostra manutenção em patamar elevado dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças de até 9 anos, em comparação aos índices de 2020.

As SRAG podem ser causadas por uma série de micro-organismos que acometem o sistema respiratório, como o coronavírus e o Vírus Sincicial Respiratório (VSR). Ao Metrópoles, o pesquisador Marcelo Gomes, que coordena o InfoGripe, explicou que os dados estão elevados devido à maior exposição das crianças aos vírus em 2021.

De acordo com o boletim, foram computados entre 1.000 e 1.200 casos semanais de SRAG em crianças de até 9 anos entre o fim de setembro e a última semana. O número se assemelha ao de julho de 2020, quando foram registrados 1.282 casos semanais nesta faixa etária, durante um dos piores períodos do primeiro ano da pandemia .

Marcelo explica que os números estão estáveis, mas em um patamar próximo a de diversos momento do ano passado. “Enquanto no resto da população a estabilização dos casos de SRAG se dá no menor patamar desde o início da pandemia em março de 2020, nas crianças, os casos de SRAG estabilizaram em um patamar que é similar ao do pico de 2020”, pontua.

O especialista afirma que o começo da volta às aulas, mesmo em modelo híbrido (com parte das turmas em casa enquanto outra parte está na escola) e a flexibilização de outras atividades explicam os índices de SRAG nesta faixa etária.

“Em 2020, as crianças foram as mais protegidas, por conta da manutenção das aulas remotas, enquanto que as demais faixas etárias tiveram diversos momentos de aumento da exposição por retomada de atividade presenciais e aumento da mobilidade. Em 2021, nós tivemos um aumento expressivo na retomada de aulas presenciais nas redes públicas e privadas, fazendo com que as crianças tenham um cenário de exposição muito maior do que tiveram ao longo de todo o ano passado”, assinala.

Ao contrário de outras faixas etárias, crianças de 0 a 9 anos sofrem com números elevados de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave
Ao contrário de outras faixas etárias, crianças de 0 a 9 anos sofrem com números elevados de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave
Preocupação

A volta ao ambiente escolar foi uma preocupação para o físico André França, que mora em Curitiba, no Paraná. Ele tem duas filhas, de 5 e 11 anos, e ficou receoso em mandá-las de volta ao modelo 100% presencial.

Em junho deste ano, ele, a esposa e as filhas pegaram Covid. As crianças tiveram sintomas leves, e a esposa, moderados, mas não precisou ser hospitalizada. André, entretanto, teve de ser internado por seis dias, para controlar os níveis de oxigenação.

Depois da recuperação, a família, que já evitava ao máximo a exposição a ambientes cheios, ficou ainda mais cautelosa. Quando a escola das filhas ofereceu aulas no modelo híbrido, com a possibilidade de atividades remotas ou presenciais, André e a esposa preferiram que as crianças assistissem às aulas on-line.

“A decisão foi com base na percepção de que a pandemia estava ativa e ainda era uma coisa grave. Apesar de a escola indicar que havia segurança, não tinha nenhuma indicação de que as crianças iam conseguir usar máscara, fazer distanciamento. Meu receio era com as duas [filhas], mas mais com a de 5 anos”, afirma.

André conta que recentemente a escola adotou o modelo 100% presencial, e, mesmo receoso, ele decidiu que as crianças deveriam voltar às aulas, principalmente porque o ensino a distância estava prejudicando a saúde mental da filha mais nova.

“Ela estava apresentando alguns quadros de tristeza. A escola fez todo um movimento, chamaram psicólogos e psiquiatras para falar sobre a questão. O fato de estarmos mandando para a escola é mais por uma questão psicológica. A gente está mandando, mas com medo”, conta.

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De acordo com o físico, a filha mais nova ainda não consegue utilizar a máscara com todos os cuidados adequados e exigidos de um adulto, como o de evitar tocar a parte da frente do acessório.

“A gente percebe que com o tempo ela tem mais habilidade para tirar e colocar a máscara, mas os cuidados básicos de não tocar na frente da máscara a gente não acompanha, porque não estamos na escola. Pra gente tem sido difícil, porque a escola diz que toma todos os cuidados, mas o que a gente escuta das crianças é diferente. A gente sabe que a escola está buscando evitar, mas não tem como garantir”, conclui.

Cuidados

O pesquisador Marcelo Gomes pontua que o número elevado de SRAG em crianças não é razão para suspender as aulas presenciais. No entanto, é preciso estar atento aos cuidados nas instituições de ensino.

“Isso não quer dizer que não deveríamos ter retomado as aulas este ano, mas sim um exemplo claro do quão importante é a reestruturação do ambiente de ensino de maneira adequada para minimizar o risco de infecção por vírus respiratórios, como boa ventilação e arejamento das salas de aulas, preferência por atividades ao ar livre, esquema de testagem frequente para evitar surtos dentro do ambiente escolar”, pontua.

Gomes explica que muitos estabelecimentos ainda adotam apenas o protocolo usado no início da pandemia: o de medir a temperatura corporal e de utilizar álcool em gel. Isso não é suficiente, afirma o pesquisador.

“[Muitos estabelecimentos] ignoram completamente o papel fundamental da transmissão pelo ar, cuja melhor maneira de minimizar é mantendo os locais bem ventilados”, ressalta.

Outra questão é a utilização de máscaras por crianças. Gomes pontua que muitos fabricantes ainda não possuem modelos que se adequem ao rosto dos pequenos, e que não é possível garantir que a criança utilize o acessório durante todo o tempo adequado.

Por isso, ele reforça ainda mais a importância de praticar atividades escolares em ambientes ventilados. No início da semana, a Fiocruz publicou uma nota chamando atenção para a elevação dos casos de SRAG. A instituição listou uma série de cuidados que as instituições de ensino devem manter para garantir a saúde dos alunos.

“Ao proteger as crianças, diminuindo os riscos aos quais as expomos, nós protegemos também outras gerações, uma vez que esse grupo etário, em nossa sociedade, tem contatos com adultos, idosos e em diversas situações podem agir como pontes entre diferentes grupos familiares. Diminuímos também outro efeito adverso grave para crianças, decorrente da Covid-19”, concluiu a instituição.

Nota CuidadosEscolas Obs by Rebeca Borges on Scribd

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