Caso panefone: irmã de kid preto diz que pendrive tinha música gospel
Dhebora Bezerra Azevedo é investigada pela Polícia Federal por tentar entrar na cadeia com um fone e pendrive dentro de caixa de panetone
atualizado
Compartilhar notícia
A irmã do tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo, o “kid preto” investigado por um suposto plano para matar o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, virou alvo de um inquérito policial. Dhebora Bezerra Azevedo é investigada pela Polícia Federal por ter tentado entrar na cadeia, onde o irmão está detido, com equipamentos eletrônicos dentro de uma caixa de panetone. A mulher colocou um fone de ouvido, um cabo USB e um cartão de memória na caixa e achou que passaria pelo Batalhão de Polícia do Exército de Brasília (BPEB). No pendrive ela alegou ter músicas de vários estilos, entre eles gospel.
Entenda o que aconteceu:
- Em 28 de dezembro, a irmã do tenente-coronel tentou entrar no batalhão do Exército com uma caixa de panetone. Porém, ao passar pelo detector de metais, durante verificação de itens, o alarme foi acionado, o que não ocorreria com o doce.
Nesse momento, o Pelotão de Investigações Criminais (PIC) interpelou a Dhebora Bezerra de Azevedo com questionamentos sobre o que havia na caixa. Ela, então, disse haver um fone de ouvido.
Os militares abriram o recipiente e verificaram que no interior da caixa havia um fone de ouvido, um cabo USB e um cartão de memória. O material foi apreendido.
O Comando Militar suspendeu o direito de visita de Dhebora ao tenente-coronel. Em seguida, Moraes suspendeu o direito à visitação ao “kid preto” mesmo por outros familiares. A defesa recorre.
O detector de metais do local apitou e revelou que não era um panetone que ela levava. Agora, a Polícia Federal a investiga pelo crime de ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional. A pena é de três anos de detenção.
Ao prestar depoimento à Polícia Federal, Dhebora informou aos investigadores que, antes de visitar o irmão, passou na Feira dos Importados, localizada no SIA, em Brasília, e comprou um fone de ouvido e um cartão de memória. Ela disse ter voltado em casa e gravado cerca de 57 arquivos de áudio com músicas do tipo gospel, forró e nacional.
A ideia das gravações, segundo ela, surgiu de visita anterior ao irmão, na qual o kid preto, investigado por suposto plano de matar o presidente da República e o ministro Alexandre de Moraes, relatou que estava treinando academia, mas não tinha músicas para embalar seus treinos.
Dhebora também afirmou à PF que o irmão não tinha conhecimento de que ela levaria os equipamentos durante a visita. Disse ainda não saber por qual motivo colocou os equipamentos dentro da caixa de panetone e que não pensou em perguntar antes no local se seria permitida a entrada de tais equipamentos.
Relatou já ter realizado visitas anteriores a Rodrigo e que já tinha levado uma balança corporal, alimentos, um cafeteira, roupa para atividade física (treinamento físico militar), rádio de pilha (AM/FM) e outros, mas que que nunca havia levado anteriormente nenhum equipamento eletrônico ou de comunicação móvel.
Indagada pelos policiais se há algum outro conteúdo na mídia, ela respondeu que não. São apenas músicas. A Polícia Federal analisa o material apreendido.
Veja a imagem do objeto:
imagem preto e branco de fone de ouvido encontrado em caixa de panetone para kid preto
Tenente-coronel investigado
O tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo é investigado por participar de suposto plano para matar o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Em depoimento à Polícia Federal, ele negou envolvimento e disse que comemorava o aniversário dele em Goiânia no dia em que mensagens foram trocadas, em 15 de dezembro de 2022. Um número de celular habilitado por Azevedo em nome de terceiros foi rastreado pela PF em locais onde estariam as autoridades naquela data. O militar afirmou que o telefone usado não foi ligado por ele até meados do dia 20 de dezembro daquele ano.
O suposto plano para assassinar Lula e Moraes no dia 15 de dezembro de 2022 foi alvo da Operação Contragolpe, deflagrada em 19 de novembro deste ano pela PF. Conforme as investigações, foi identificada uma organização criminosa que teria planejado golpe de Estado em 2022 para impedir a posse do então presidente eleito e atacar o STF. Azevedo foi uma das pessoas presas suspeitas de envolvimento no planejamento criminoso.
No depoimento à PF, Azevedo afirmou que estava em casa no dia da execução do plano assassino. “Tava em casa, tava em casa, eu tenho inclusive testemunhas, era dia do meu aniversário, meu aniversário é dia 15 de dezembro”, afirmou Azevedo ao delegado Fábio Shor no depoimento prestado em 27 de novembro.
O delegado da PF perguntou se Azevedo tem algo que comprove a presença dele na própria casa no dia 15. Ele respondeu citando estar na presença de um parente e amigos. Questionado se tem algum registro fotográfico do encontro, respondeu que não sabe.
Além de Lula e Moraes, o plano, denominado “Punhal Verde e Amarelo”, também tinha como alvo o vice-presidente Geraldo Alckmin. A Operação Contragolpe foi autorizada por Moraes e cumpriu cinco mandados de prisão preventiva, três mandados de busca e apreensão e 15 medidas cautelares diversas.
O que aconteceu no dia 15 de dezembro
Em 15 de dezembro de 2022, conforme o relatório de investigação da PF, integrantes da missão chamada de “Copa 2022” saíram de Goiânia (GO), onde fica o Comando de Operações Especiais (Copesp) do Exército, com destino a Brasília. O objetivo seria colocar o plano em prática. Todo o trajeto na estrada e a movimentação na capital federal, de veículos e celulares vinculados aos envolvidos, foram identificados pelos investigadores da PF. Imagens do pedágio da rodovia e os registros de locação de veículos foram utilizados para o monitoramento.
Os suspeitos ficaram em locais estratégicos, como as proximidades do STF e também do endereço residencial de Moraes, na Asa Sul da capital federal. Os integrantes da “missão” esperavam pela autorização superior, que, segundo a PF, seria: “Cumprir a ordem que seria emanada para prisão e execução (do ministro do STF), caso o decreto de golpe de Estado fosse assinado pelo então presidente da república Jair Bolsonaro no dia 15/12/2022”.
Às 20h59, no entanto, o plano foi frustrado. Os envolvidos na missão utilizaram codinomes de países para não serem identificados, como Alemanha, Argentina, Áustria, Brasil, Japão e Gana. Nesse horário, “Alemanha” enviou a ordem pelo grupo no aplicativo de mensagens Signal: “Abortar”. A PF aponta, no relatório, que a falta de adesão do Alto Comando do Exército ao intento golpista evitou o prosseguimento da missão.