Caso Marielle: suspeito-chave já foi absolvido por homicídio e acusado de liderar milícia
PM aposentado, Macalé foi executado em 2021 e conheceria mandante da morte de Marielle. Ele foi absolvido por júri popular em 2014
atualizado
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Suspeito de contratar o executor da vereadora Marielle Franco, o PM Edmilson da Silva de Oliveira, conhecido como Macalé, já foi acusado de homicídio e de ser líder de uma milícia que comandava a região de Oswaldo Cruz, Zona Norte do Rio de Janeiro (RJ).
Macalé acabou executado a tiros em plena luz do dia, em 6 de novembro de 2021 — a investigação sobre morte dele não foi concluída. Informações mais recentes do caso da morte da vereadora e do motorista Anderson Gomes indicam que o miliciano sabia quem mandou matar Marielle.
Essas informações estão na delação do ex-PM Élcio de Queiroz, preso desde 2019 pelo crime.
Veja o vídeo da morte de Macalé:
Segundo o Ministério Público e a Polícia Civil do Rio, Macalé teria executado a tiros o adolescente Michael Lannes Ramos, 19 anos, no fim da tarde de 6 de outubro de 2012, no bairro Oswaldo Cruz. Os avós da vítima ouviram os tiros e chegaram a ouvir o jovem dizer “Macalé” antes de morrer.
O dono de uma lan house, que também seria integrante da milícia, teria ajudado Macalé a matar o jovem, ficando de campana com um rádio comunicador. Ele foi morto porque estaria praticando furtos na região.
Três anos antes, em janeiro de 2009, o pai de Michael foi assassinado a tiros na mesma rua. O jovem, na época com 15 anos, presenciou a morte do próprio pai e era testemunha no caso.
Terror e intimidação
Em dezembro de 2012, Edmilson e o dono da lan house foram presos preventivamente pela morte de Michael. Na determinação pela prisão, o juiz Jorge Luiz Le Cocq afirmou que há indícios fortes da participação de Macalé na milícia.
“Há concretas informações de que os acusados são integrantes da milícia atuante na localidade e, como se sabe, milícias são organizações criminosas que, através do terror e da intimidação, extorquem moradores de determinado bairro ou comunidade e eliminam, sem piedade, aqueles que contrariam seus interesses”, escreveu em trecho da decisão.
No entanto, a argumentação da acusação não convenceu o júri popular, que absolveu os dois acusados, entre eles Macalé, em julho de 2014.
Solto antes de absolvição
Um mês antes de ser absolvido, Macalé já havia deixado a prisão por meio de um habeas corpus. Em 2012, o Judiciário afirmou que a detenção era necessária para que familiares das vítimas e moradores se sentissem seguros para prestar depoimento.
Já em 2014, ao soltar o então policial aposentado, o Ministério Público considerou que não havia mais perigo para a ordem pública. O Metrópoles questionou o motivo de o MP do Rio não ter entrado com recurso após a absolvição, mas não teve resposta até a publicação da reportagem.
Armas e BMW
Quando Macalé foi preso pela morte de Michael, em dezembro de 2012, a Polícia Civil informou para a imprensa que o PM aposentado seria o líder da milícia que atua na região de Oswaldo Cruz.
Na casa de Macalé, em Realengo, a polícia apreendeu um BMW preto, uma pistola calibre 9 mm, carregadores, 67 munições e um taco de beisebol
Mais tarde, em fevereiro de 2017, Macalé foi absolvido pelo porte ilegal da pistola 9 mm. Na decisão, a juíza Juliana Benevides de Barros Araújo informou que não haveria provas de que a arma era dele.
O texto da decisão judicial, de 20 de fevereiro de 2017, não detalha que a arma estava com Edmilson no mesmo momento em que ele era preso pelo homicídio de Michael, em 6 de dezembro de 2012.
Perante o Judiciário, Macalé justificou que na madrugada daquele dia, estava correndo atrás de uma pessoa que teria tentado invadir sua casa, quando se deparou com uma pochete com as munições, carregadores e a arma, que o invasor teria deixado cair. Ele disse que teria deixado os objetos encontrados dentro do BMW preto para avisar a polícia em um segundo momento.