Caso Marielle completa mil dias sem respostas sobre motivações e mandantes
A vereadora e o motorista Anderson Gomes foram mortos no dia 14 de março de 2018. Viúva de Marielle vai continuar projetos da política
atualizado
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Nesta terça-feira (8/12), completaram mil dias desde as mortes de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. Mesmo após quase três anos desde o ocorrido, imprensa, família, polícia e ativistas ainda não sabem qual o motivo da morte ou se foi encomendada. A Delegacia de Homicídios e o Ministério Público continuam investigando os assassinatos.
Um protesto na Cinelândia marcou a data de mil dias dos homicídios. Aproximadamente 500 despertadores foram colocados em frente à Câmara de Vereadores, onde também ocorreu o velório de Marielle em março de 2018.
Anielle Franco, irmã de Marielle, conta que, em muitos dias, pensa que não será possível encontrar respostas sobre a motivação do homicídio. Apesar disso, ela afirma que a esperança nas investigações continua.
“Eu entendo a gravidade desse crime, eu entendo a dificuldade que deve ser chegar a quem mandou matar. E eu realmente passei mil dias tentando entender qual o motivo de ser a minha irmã, por que ela? E eu não consigo entender. Mas dentro de mim eu espero que a gente não tenha que esperar mais mil dias por uma resposta”, disse.
A irmã lembra dos encontros com Marielle nos domingos em família, a missa e o almoço em seguida. Ela lembra os momentos depois do crime. As informações são do G1.
“São mil dias de muito aprendizado, são mil dias de muita luta, são mil dias de muita fé, para que esse crime aí algum dia seja descoberto o mandante. Eu acho que a gente não pode perder a esperança sobre isso”, destaca.
Já a viúva de Marielle, Mônica Benício, frisa que tem passado por momentos de uma mistura de emoções, quando lembra da ex-companheira. Em novembro, Mônica foi eleita para o mesmo cargo que Marielle ocupava.
“Do ponto de vista pessoal, é muito doloroso, porque não tem um fechar de luto, não tem sequer uma possibilidade de fazer um luto que caiba, paralelo a essa luta de justiça. Mas essa luta por justiça tem um custo emocional muito grande. Então, é um desafio lidar com esses mil dias sem resposta”, disse Mônica sobre a falta de respostas.
Agora que é vereadora, ela diz que vai continuar os projetos tocados por Marielle, como o da visibilidade lésbica, a pauta LGBT e outros projetos de lei propostos, ainda não implementados.
Motivação política
“Está mais do que dado que é um crime político, que tem mandantes. A gente está falando de duas pessoas que foram pagas para fazer o que fizeram, e que já deveriam estar presas há muito tempo. Eu não sei nem te dizer quando é que chega algum tipo de paz, alguma vida um pouco mais serena”, pontuou Mônica.
Tarcísio Motta também acredita que o crime teve motivação política. Ele ingressou na vida política no mesmo período em que Marielle. As salas 902 e 903 do Palácio Pedro Ernesto, na Cinelândia, estavam separadas por apenas uma divisória.
“Acho que há uma motivação política. Não consigo ver de outra forma. As linhas que me pareceram fazer mais sentido são aquelas que indicavam para uma perspectiva de vingança contra o trabalho do partido e em especial o trabalho do partido no enfrentamento às milícias”, afirmou ele.
Homenagem no DF
Em Brasília, filiados da sigla pela qual Marielle foi eleita vereadora em 2016 e da frente jovem Afronte-DF, organizaram uma manifestação em memória da parlamentar. Do mezanino da Rodoviária do Plano Piloto, estenderam uma faixa com os dizeres “1.000 dias sem justiça! Quem mandou matar Marielle?”.
De acordo com Caio Henrique, um dos organizadores do movimento, entre 20 e 30 pessoas estiveram presentes. “O objetivo era ser pequeno mesmo, por causa da pandemia, mas recebemos muitas palavras de apoio dos motoristas que passavam ali”, comenta o militante. Para ele, a ação cumpriu seu objetivo.
Mesmo com Marielle tendo atuado em toda sua vida política no estado fluminense, o ativista político de 23 anos julga válida uma homenagem na capital federal.
“Ela sempre trouxe as lutas dos povos negros e das mulheres em seu discursos e atos”, argumenta, avisando que grupo fará uma última homenagem à falecida vereadora, “com projeção de palavras de ordem contra o extermínio da população negra e feminicídio”, afirma Caio. (Colaborou Álvaro Couto)