Caso Jordy: oposição tenta transformar pressão judicial em engajamento
Após operação da PF que mirou líder da oposição na Câmara, grupo reforçará o discurso de perseguição do Judiciário
atualizado
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As ações de busca e apreensão da Polícia Federal (PF) contra o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), líder da oposição na Câmara dos Deputados, fortaleceram o discurso bolsonarista contra o Poder Judiciário. O parlamentar foi alvo da Operação Lesa Pátria, que investiga a organização de atos antidemocráticos.
A narrativa será reforçada pela oposição para inflamar a base eleitoral e o engajamento nas redes sociais. O grupo se reuniu nessa quarta-feira (24/1) para fazer um balanço da atuação no último ano e apontou a necessidade de melhorar alguns pontos, como a presença em plenário, a organização de comissões e a articulação de derrubada de vetos.
A reunião também serviu para discutir ações em resposta ao que chamam de “perseguição” do Judiciário. Jordy, em coletiva após o encontro, argumentou que as bases da investigação da qual foi alvo são “frágeis” e “foram distorcidas”. O deputado será reconduzido à liderança da oposição, depois dos últimos acontecimentos.
Jordy é investigado por supostamente inflamar atos antidemocráticos no Rio de Janeiro. Entre as provas, estão mensagens trocadas com o ativista de direita Carlos Victor de Carvalho, conhecido como CVC.
A oposição também cobra posicionamento dos presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), sobre os supostos “abusos” cometidos pelo STF contra deputados e senadores contrários ao governo.
“A partir do início do ano legislativo, vamos definir uma pauta institucional no sentido de fortalecer as prerrogativas. Há uma evidente hipertrofia de um poder sobre o Legislativo”, afirmou Marinho na coletiva feita depois da reunião de quarta-feira.
Segundo o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), segundo vice-presidente da Câmara, Lira e Pacheco serão convidados para uma reunião sobre o tema. “Há exageros contra a oposição, contra governistas, e aqui acontece um desequilíbrio entre os Poderes. Vamos conversar com Lira e Pacheco na retomada dos trabalhos”, afirmou Sóstenes.
Suspeição
Logo depois da operação, na última quinta-feira (18/1), líderes da oposição divulgaram nota pedindo que o ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que investiga Jordy, se declare suspeito nas investigações. Os signatários se colocam contra os atos golpistas do 8 de Janeiro, mas defendem o “respeito ao juízo natural”.
“Ele não tem imparcialidade para os processos dos atos de 8 de janeiro de 2023, é supostamente vítima, investigador e julgador. Ele comenta e concede entrevistas sobre processos que estão sob julgamento e opina sobre fatos ainda não julgados. Ante o exposto, a postura republicana esperada seria o próprio ministro tomar a iniciativa de se declarar suspeito para julgar os atos de 8 de janeiro, com a grandeza de quem, de fato, busca a pacificação do país e está disposto a virar essa lamentável página da história brasileira, cumprindo a lei e agindo na defesa da Constituição”, assinalaram os senadores no pronunciamento.
A situação também motivou um encontro entre o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso. Marinho não quis contestar a decisão que autorizou os mandados de busca e apreensão. A preocupação é, como defendem membros da oposição, “cobrar a retomada da normalidade democrática, o respeito à Constituição e às leis”.
Os parlamentares defendem que as investigações respeitem princípios que, de acordo com eles, estariam sendo desrespeitados, como as prerrogativas do exercício do mandato parlamentar, a inviolabilidade do mandato e os direitos e as garantias individuais.
Após reunião no STF, os parlamentares de oposição pediram o afastamento de Alexandre de Moraes das ações relacionadas com o 8 de Janeiro.