metropoles.com

Casal gay perde de vez guarda provisória de bebê em Goiás

Ao Metrópoles, enfermeiro e gerente confirmaram em primeira mão que não vão recorrer da decisão, mas mantêm vivo sonho pela paternidade

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Reprodução: Instagram
Casal homoafetivo Goiás adoção
1 de 1 Casal homoafetivo Goiás adoção - Foto: Reprodução: Instagram

Por unanimidade, a 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) confirmou liminar que retirou de um casal homoafetivo e repassou a uma dona de casa e o marido a guarda provisória de uma bebê, em Pirenópolis, a 123 km de Goiânia. A criança estava em situação de vulnerabilidade na convivência com a mãe biológica, dependente química.

O julgamento foi realizado na noite de terça-feira (6/4), oito dias após a bebê completar 1 ano de idade.

O caso tramita em segredo de Justiça, conforme prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Os nomes da bebê e do casal que tem a guarda provisória, uma dona de casa e um bombeiro militar, não foram divulgados para preservar a integridade da criança.

A expectativa é de que o julgamento marque o fim de uma guerra de duas famílias que tentavam obter a guarda provisória da criança, para concluir o processo de adoção dela. O colegiado do TJGO acompanhou voto do relator do caso, desembargador Gerson Santana Cintra, que havia concedido a liminar para retirar a bebê do casal homoafetivo.

“Levar tanta pancada”

Em entrevista ao Metrópoles, o enfermeiro Juliano Peixoto de Pina, de 38, e o gerente de pousada Johnatan Pereira de Araújo Peixoto, de 41, afirmaram que não vão recorrer contra a nova decisão. “A gente entrou em um acordo, de que a decisão tomada em segunda instância permaneceria”, disse Pina. Eles vivem juntos há 12 anos.

“Para que o sonho da paternidade não morra, a gente tomou a decisão de não mais insistir, porque senão a gente iria levar tanta pancada daqui a não sei qual tempo [até ser julgado recurso], e esse sonho de paternidade poderia esmorecer e enfraquecer”, disse o enfermeiro.

Ele ressaltou que o mais importante, ao tomarem a decisão, foi pensar no bem-estar da criança.

Por decisão liminar de Cintra, o casal homoafetivo devolveu, há seis meses, a bebê para a dona de casa e o esposo, que alegaram ter construído laço afetivo com a criança desde que ela nasceu.

O desembargador reverteu ordem da juíza Aline Freitas da Silva, da comarca de Pirenópolis.

Convivência

Durante 13 dias, a criança conviveu com o enfermeiro e o esposo, de 24 de setembro a 6 de outubro de 2020, depois de a magistrada conceder a guarda provisória a eles, já que estavam há seis anos na fila de espera do Sistema Nacional de Adoção (SNA), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Advogada da dona de casa e do bombeiro, Janaina Mathias Guilherme ressaltou que a nova decisão considerou vínculo afetivo da bebê com clientes e os três filhos deles.

Além disso, segundo ela, o casal que tem a guarda provisória também mantém o vínculo da criança com os quatro irmãos biológicos da criança, que estão sob os cuidados de outros moradores da cidade.

“Seria crueldade”

Os desembargadores entenderam que a bebê já está adaptada à  família da dona de casa e do bombeiro militar. Eles, inclusive, provaram ter custeado o tratamento médico da criança, com problemas desde o nascimento porque a mãe biológica usou drogas durante a gestação.

“Essa decisão mostra que prevaleceu o direito da criança à estabilidade e ao desenvolvimento moral, social e psicológico digno. Retirar uma criança com 1 ano de idade de um lar, em fase de oralidade e pleno desenvolvimento de fala, seria crueldade”, asseverou a advogada.

À Justiça, a dona de casa e o bombeiro reforçaram que a bebê mora com eles desde que nasceu, em março de 2020. No ano passado,  segundo a advogada, os dois foram instruídos pelo conselho tutelar de Pirenópolis a assinar termo de responsabilidade de convivência com a criança, conforme registrado de 16 de julho a 22 de setembro de 2020 do ano passado.

Foi exatamente esse documento que abriu a guerra judicial, porque seria destinado à formalização de “família acolhedora”, que é conhecida por apenas ficar com uma criança ou adolescente, temporariamente, sem passar pelo trâmite formal de adoção, aguardando na fila de espera, conforme prevê portaria do CNJ.

Como a dona de casa tinha assinado o documento e não estava na fila do SNA, a juíza entendeu que o direito à guarda da criança deveria ser concedido ao casal homoafetivo, por preencher os critérios legais.

“Sonho do bebezinho”

O município de Pirenópolis não tem abrigo para crianças nem lei que regulamente a família acolhedora, essencial para que esse acolhimento tenha amparo formal. A prefeitura e o conselho tutelar não se manifestaram.

“Agora, eu e meu marido vamos tentar adotar criança com acolhimento institucional, talvez um pouco tardio. O sonho do bebezinho não é mais realidade única”, disse o enfermeiro, ressaltando que ele e o companheiro estão dispostos à adoção de criança ou adolescente.

No entanto, eles acreditam que a situação gerou muita insegurança em diversas pessoas que estão na fila do Sistema Nacional de Adoção, mas, segundo ele, sem a garantia de que serão contempladas, mesmo quando seguirem as regras estabelecidas pelo CNJ.

O quarto que o casal homoafetivo havia montado para a bebê na casa dele vai seguir intacto, como forma de manter aceso o sonho pela paternidade. Os dois chegaram a criar uma petição on-line, que colheu mais de 12,6 mil assinaturas a favor deles.

“Mas, agora, pode ser recém-nascido ou criança maior. Pode ser apenas um ou irmãos”, contou o enfermeiro, ressaltando a torcida para que a bebê tenha vida longa e cheia de saúde, mesmo longe dele e seu esposo. “A prioridade sempre foi o bem-estar dela”.

Por causa da nova decisão do  TJGO, a juíza de Pirenópolis deverá reavaliar o caso para conceder, ou não, a guarda definitiva da bebê para a dona de casa e o bombeiro.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?