Carne Fraca: gravações apontam que fiscais eram ligados ao PMDB. Veja!
As conversas grampeadas pela Polícia Federal apontam que os fiscais do Ministério da Agricultura eram ligados ao PMDB
atualizado
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As interceptações telefônicas da Operação Carne Fraca flagraram diálogos nos quais os investigados relacionam o líder do esquema criminoso, o superintendente do Ministério da Agricultura afastado Daniel Gonçalves Filho, e fiscais de outros Estados ainda não investigados pela operação ao PMDB.
Em um diálogo do dia 12 de abril de 2016, a chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal, Maria do Rocio é informada pelo diretor da Seara Flavio Cassou que Daniel Filho, apontado pelas investigações como líder do esquema, havia sido exonerado por 90 dias, após um procedimento administrativo disciplinar do Ministério.
“Flavio: Isso, é que agora ontem suspenderam e hoje exoneraram
Maria: Tá brincando
Flávio: Foi ele, foi Tocantins, foi São Paulo. PMDB FOI TUDO. Dai eu queria saber com o deputado pra ver se precisa dar um toque, dar uma mexida, mexer na empresa, mas ele não me atende o desgraçado
Maria: Tá brincando”
Em outro momento do diálogo, Maria do Roco afirma que Sérgio Souza, deputado federal do PMDB no Paraná “falou que ia segurar, segurar, segurar. Não conseguiu, então”. Ao que Flavio comenta:
“Eu tenho a impressão que aí a pressão é, é, é tirar do PMDB os cargos, por que saiu o de Tocantins, saiu Minas, saiu Goiás, saiu o de São Paulo. Saiu Paraná”. Na época, a Câmara dos Deputados estava prestes a votar sobre a continuidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), que foi aprovada no dia 17 de abril daquele ano.
O diálogo indica ainda que o esquema pode ser maior do que o já identificado até agora pela Carne Seca, que chegou a esquemas de corrupção em três superintendências regionais do Ministério da Agricultura nos Estados do Paraná, Minas Gerais e Goiás. Com a operação, foram afastados por ordem judicial 33 servidores do Mapa.
Em outro diálogo, do ex-superintendente regional do Paraná e que estava lotado no Serviço de Vigilância Agropecuária no Porto de Paranaguá (PR) até a deflagração da operação, Gil Bueno de Magalhães conversa com o assessor do deputado João Arruda (PMDB-PR), Heuler Martins sobre a exoneração de Daniel.
A conversa telefônica ocorreu no dia 12 de abril de 2016, e nela o assessor do deputado relata que está até “comemorando” a saída de Daniel, sem explicar o motivo. Gil, por sua vez, demonstra preocupação com o sucessor do fiscal, para que ele não seja um “xiita”, expressão usada para se referir a fiscais que trabalhavam de forma correta e não entravam no esquema.
“Gil – Agora tinha que ver com o Arruda quem que eles vão colocar no lugar dele ali para não vir gente traíra aí viu? xiita
Heuler – É verdade. Não, mandei uma mensagem para o João agora, acho que não está nem sabendo.”. O diálogo termina com o assessor se comprometendo a falar com o parlamentar e manter Gil “informado”. Para a Polícia Federal, o contexto da conversá é “ao que tudo indica, político, não criminoso”, aponta o delegado da PF William Tito Schuman Marinho, responsável pelo relatório que analisou os grampos.
Outra conversa, do dia 11 de abril, chamou a atenção do delegado pelo fato de Gil afirmar a um interlocutor identificado como Francisco e que representa a Cooperativa Agroindustrial Castrolanda, em Castro (PR) que o deputado Sérgio Souza “recebeu muito dinheiro do suspenso”, em referência a Daniel.
Apesar das menções aos parlamentares, a PF não identificou suspeitas de crimes envolvendo os políticos com foro privilegiado. Desde novembro, a Procuradoria da República no Paraná compartilhou com o procurador-geral da República Rodrigo Janot os resultados dos grampos, que pegaram até o atual ministro da Justiça Osmar Serraglio conversando com o líder do esquema Daniel Gonçalves Filho, a quem chamou de “o grande chefe”.
No diálogo grampeado, Daniel é informado por Serraglio acerca de problemas que um Frigorífico de Iporã estaria tendo com a fiscalização do Mapa. Quando o grampo o veio à tona, o ministro divulgou nota informando que não há nenhum indício de irregularidade na conversa gravada.
Em coletiva após a deflagração da operação, o delegado federal Maurício Moscardi Grillo, que conduz a investigação, afirmou que há suspeitas de que as propinas pagas no esquema teriam abastecido o PMDB e o PP.
“Dentro da investigação ficava bem claro que uma parte do dinheiro da propina era, sim, revertido para partido político. Caracteristicamente, já foi falado ao longo da investigação dois partidos que ficavam claro: o PP e o PMDB”, afirmou.
Na lista de irregularidades identificadas pela PF estão o pagamento de propinas a fiscais federais agropecuários e agentes de inspeção para comercialização de certificados sanitários e aproveitamento de carne estragada para produção de gêneros alimentícios. Os pagamentos indevidos teriam o objetivo de atender aos interesses de empresas fiscalizadas para evitar a efetiva e adequada fiscalização das atividades, segundo a investigação.
A reportagem enviou e-mail para as assessorias dos deputados citados e também para as empresas citadas e para o Ministério da Agricultura, mas ainda não obteve retorno. O espaço está aberto para a manifestação dos envolvidos.
Com a palavra o PMDB
O PMDB não autoriza ninguém a falar em nome do partido e está à disposição da justiça para qualquer esclarecimento.