Cargos, pauta conservadora e lealdade: as cartas na sucessão de Lira
Negociações ainda patinam com foco dos partidos no segundo turno, mas siglas já articulam o que querem em troca de apoiar candidatos
atualizado
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Faltando pouco menos de quatro meses para a eleição do sucessor do deputado Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara dos Deputados, as negociações seguem nos partidos para decidir qual candidato será apoiado. Atualmente há três nomes principais na disputa: Hugo Motta (Republicanos-PB), que tem apoio de Lira, Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Antonio Brito (PSD-BA).
Todos os três trabalham para alcançar o maior número de apoiadores, mas o caminho é complexo e envolve promessa de lealdade, compromisso com pautas conservadoras e cargos na Mesa Diretora da Câmara.
O PT, por exemplo, quer acima de tudo que o próximo presidente da Câmara não cause problemas ao Palácio do Planalto, como pautas que afetem a agenda econômica ou ações sem diálogo, que tragam surpresas ao Executivo.
Apesar do líder do partido, Odair Cunha (PT-MG), demonstrar entusiasmo com a candidatura de Motta, a sigla ainda vê com ressalvas o apoio a um candidato que foi muito alinhado a Eduardo Cunha, ex-presidente da Casa que pautou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
No PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a preocupação é com a pauta conservadora, que vai desde temas mais ideológicos, como drogas e aborto, até propostas que são consideradas um revanchismo ao Supremo Tribunal Federal (STF), como a que permite ao Congresso derrubar decisões da Corte.
A ala mais bolsonarista da sigla defende que o apoio seja condicionado à garantia de que as propostas conservadoras, como proibição de todas as drogas, e o pacote anti-STF, pro exemplo, tenham andamento dentro da Câmara.
Apesar de em público haver essa defesa, a cúpula do PL na Casa já repetiu algumas vezes que está fechado com o candidato de Lira, Hugo Motta, e que é difícil que isso mude.
Além das preocupações em torno da agenda, todos os maiores partidos estão de olho nos cargos da Mesa, como vice-presidência e as quatro secretarias que compõe o comando da Casa. Apesar disso estar em negociação, o que ficará com cada partido só será conhecido horas antes da votação. Isso porque a vaga nos cargos de secretaria é preenchida pelo cálculo do coeficiente do bloco que apoia o candidato.
Por exemplo, se um candidato tiver sete partidos com ele, será somado o total de deputados e a partir disso será dividido as secretarias, com os partidos que são maiores tendo a preferência.
Elmar e Brito caminham juntos
Depois de Elmar ter sido preterido por Lira, que escolheu Motta para ter seu apoio, o deputado baiano se aliou a Brito em busca da sucessão. Ambos acordaram que seguem com suas candidaturas, mas quando estiver próximo da eleição, o que estiver mais forte permanece e o que tiver menos apoio sai em favor do outro.
Na ocasião em que não foi escolhido por Lira, Elmar entendeu a ação do presidente da Câmara como uma “traição”, já que ambos participaram juntos de diferentes eventos e eram aliados desde o primeiro mandato de Lira no comando da Casa.