Capitão PM sócio de deputado é acusado de dar calote em investidores
A Spartacus Consultoria está entre as dezenas de empresas de investimentos atuavam em Cabo Frio (RJ), muitas delas encerraram a atividades
atualizado
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Rio de Janeiro – Mais uma empresa de investimentos de Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, deixou de pagar os prometidos lucros exorbitantes aos investidores. A mais nova integrante da lista é a Spartacus Consultoria, que tem como dono o capitão da PM Diogo Souza da Silveira. O rendimento mensal prometido era de 14% mediante supostas transações com criptomoedas.
A Spartacus Consultoria integra o rol de empresas do ramo de bitcoins e passou a atuar na cidade (grande parte encerrando as atividades recentemente), de acordo com reportagem do Jornal Extra. Além da atuação como trader nas operações financeiras e do trabalho como militar, Diogo também é sócio — e amigo pessoal — do deputado estadual Fillipe Poubel (PSL) no comando da boate Buda Lounge Bar, situada em uma badalada região de Cabo Frio.
O parlamentar nega ter qualquer tipo de envolvimento com a Spartacus e afirma que “não integra e jamais integrou qualquer sociedade envolvendo investimentos financeiros”. Foi nessa casa noturna que, em maio, uma mulher conta ter sido vítima de um estupro praticado por dois funcionários, que teriam sido, de acordo com a vítima e com as testemunhas, acobertados pelos sócios. A polícia Civil segue investigando o caso.
“Lesados Spartacus”
Nas redes sociais e aplicativos de mensagens, os “Lesados Spartacus” já somam mais de 210 participantes. Já os “Enganados pela Spartacus”, criado nesta quarta-feira (20/10) usando uma foto de Diogo Souza com Poubel, já tinha mais de 150 membros. Alguns deles já falavam em procurar a Justiça.
“É meia-noite, quarta-feira. Hoje é um dos dias em que milhares de contratos deveriam ser pagos. Mas até agora está um mistério, não sabemos o que está acontecendo. Minha esperança e paciência vão até sexta”, diz o membro de um dos grupos, em postagem feita na madrugada do dia 20.
A Spartacus já havia reduzido o rendimento para 5%, um valor bem menor do que os 14% prometidos, antes de suspender os rendimentos. A mudança também foi alvo de comentários negativos nos grupos:
“A empresa Spartacus, de Cabo Frio, não cumpre o contrato e reduz a um terço, de forma autoritária, o lucro dos seus clientes. Por que fez isso, capitão Diogo? Você desamparou milhares de pais e mães de família!”.
Segundo membros dos grupos virtuais, Diogo chegou a receber alguns investidores na tarde dessa quarta-feira para esclarecer a situação. Conforme o grupo, o militar repetiu que tinha “três opções” para contornar a situação, mas não deu de prazo para os pagamentos.
“Que estratégia seria essa? Por que não conseguiu pagar? O que inviabilizou isso? O dinheiro está onde?”, reclamou um dos participantes. “A conta é fácil: pegou o dinheiro, é só devolver. Se comprou lancha, casa, terreno… Vende tudo”, pontuou outro.
Relação com deputado
Os lesados exigem que o capitão venda a boate, onde já foram realizadas atividades relativas à Spartacus, para ressarcir os investidores, que se manifestaram na frente do estabelecimento na quarta-feira. Poubel não respondeu ao questionamento feito pelo Jornal O Globo sobre seu conhecimento das atividades realizadas pelo sócio em nome da outra empresa, em sua boate. O deputado é citado em diversas conversas e postagens na tentativa de pressionar o capitão a solucionar o impasse.
“Além de sua combativa e atuante atividade parlamentar, (Fillipe Poubel) é sócio do Restaurante Buda Beach, em Cabo Frio, tão somente”, afirmou, por nota, a assessoria do parlamentar. “Portanto, é equívoco, improcedente e irresponsável vincular o deputado Filippe Poubel a qualquer sociedade em criptomoedas”, conclui o texto.
Em mensagem automática disparada pelo número associado à Spartacus a cada tentativa de contato com Diogo via WhatsApp, o texto cita que circulam supostas “informações inverídicas com o intuito de tumultuar e não de resolver”. E reconhece: “Vou ser bem direto, então: estamos passando por problemas que não são exclusividade da nossa empresa, mas de praticamente todas”.
O autor da mensagem diz ainda que não passa “um minuto sequer do dia sem tentar resolver logo tudo isso, pois ninguém mais interessado do que eu”. E acrescenta: “Não posso ficar dando uma posição concreta enquanto não estiver 100%”. O comunicado é concluído com um pedido de desculpas “pelo transtorno”.