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Caneta frenética: em 6 meses, Bolsonaro já demitiu mais de 30

Desde janeiro, presidente exonerou 4 ministros e definiu a troca de ao menos 28 diretores do alto escalão. Confira

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Jair Bolsonaro, solenidade contra fraudes no INSS
1 de 1 Jair Bolsonaro, solenidade contra fraudes no INSS - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Jair Bolsonaro (PSL) não tem economizado na guilhotina de auxiliares desde que assumiu a Presidência, em janeiro de 2019. Nestes primeiros seis meses de mandato, sofreu com dificuldade de diálogo com o parlamento – o que gerou uma série de derrotas no Congresso Nacional; viu-se envolvido em constantes conflitos internos incluindo as alas conservadora e militar; e deu vazão à sua tendência de não tolerar qualquer coisa menor que alinhamento ideológico total. A soma desses fatores fez Bolsonaro usar freneticamente a caneta.

No total, foram quatro ministros exonerados (e um deles está na corda bamba enquanto você lê essa reportagem), uma troca no comando da comunicação do governo e outra na presidência do BNDES. Além disso, houve a demissão de presidentes e/ou diretores-gerais de oito órgãos de destaque, como os casos da Embratur e da Apex. A agência de promoção do comércio exterior, por exemplo, trocou de presidente três vezes em apenas seis meses. Ao todo, foram mais de 20 baixas de presidentes e diretores do primeiro e segundo escalões do governo.

O Ministério da Educação (MEC) é o exemplo mais dramático da incontinência defenestradora do presidente – que se alastra, em alguns casos, para seus ministros. No caso do MEC, somente o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela execução do imenso e importantíssimo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), teve quatro presidentes e 16 diretores exonerados.

No âmbito geral do ministério, foram impressionantes 91 demissões, no total, até o mês de maio. 

Gui Prímola/Metrópoles

Para relembrar as baixas de Bolsonaro nos seis meses de governo, o Metrópoles dividiu as exonerações em quatro escalões, por ordem de relevância no andamento da máquina do país. No primeiro escalão, ficaram as demissões de ministros, auxiliares diretos no Planalto e presidentes de bancos. Por último, demissões e afastamentos que não influenciaram diretamente no funcionamento do governo, mas que tiveram ligação com a autoridade de ministros, com a ala militar, com conflitos ideológicos ou que foram gerados por personalidades de forte influência sobre o presidente. 

Confira a lista com as quedas nos primeiros 6 meses de governo:

1º escalão

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O primeiro a cair do ministério foi o ex-secretário-geral Gustavo Bebianno, ainda em fevereiro. Ele foi substituído pelo general da reserva Floriano Peixoto. O ex-ministro foi acusado de repassar R$ 400 mil a candidatas “laranjas”, enquanto presidia o PSL, partido de Bolsonaro, durante o período eleitoral. Não foi, porém, somente a acusação que enfraqueceu a imagem de Bebianno com Bolsonaro. Ele e o filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), travaram uma briga pelo Twitter, em que o parlamentar desmentiu alegações do ex-ministro sobre estreita relação com o chefe do executivo.

Em 21 de junho, Bolsonaro fez a segunda troca na Secretaria-Geral. Floriano Peixoto foi exonerado e nomeado para a presidência dos Correios. Assumiu o jurista Jorge Oliveira, major da reserva da Polícia Militar do Distrito Federal. Floriano foi o quarto ministro a ser tirado do posto.

O segundo a ser riscado da lista de ministros foi o ex-chefe da pasta da Educação (MEC) Ricardo Vélez, substituído pelo professor Abraham Weintraub. Vélez criou rusgas desde que assumiu a pasta, incluindo depoimentos polêmicos que colocaram em crise o governo de Bolsonaro e provocaram a demissão de 16 funcionários do alto escalação do MEC. Com a instabilidade do ministério, em 87 dias, o ex-ministro demitiu 91 pessoas. Entre os demitidos, estava o ex-responsável pela comunicação e contato com a imprensa, Bruno Garschagen, muito ligado a Olavo de Carvalho, guru bolsonarista.

A penúltima baixa do governo foi a do ex-secretário de Governo da Presidência da República (Segov) Santos Cruz, que foi substituído pelo general Luiz Eduardo Ramos. Apesar de Bolsonaro não ter cravado o motivo pelo qual teria exonerado o ministro, Santos Cruz havia criado inimizades dentro do governo, principalmente com Olavo de Carvalho, um dos principais influenciadores do chefe do Executivo, e com o “zero três” do presidente, Carlos Bolsonaro.

Suspeitas e desconfianças

Além dos ministros que perderam os postos, um está na corda bamba e a expectativa é de que caia nesta semana – o próprio PSL avalia que a troca pode ser consumada hoje: o chefe da pasta do Turismo, Marcelo Álvaro, que responde desde fevereiro pela contratação de candidatas laranjas durante período eleitoral. O ministro teria repassado R$ 279 mil a quatro candidatas do estado de Minas Gerais, para que representassem o percentual mínimo de 30% para destinação do fundo eleitoral de candidatas mulheres.

Pressionado por fracassos e resistências acumuladas a projetos caros ao governo, Bolsonaro demitiu em março o ex-comandante da Secretaria de Comunicação da Presidência, Floriano Amorim, e deixou o cargo com o empresário Fábio Wajngarten. A equipe econômica teria reforçado a Bolsonaro a necessidade de aumentar a publicidade da reforma da Previdência, mas o então secretário não teria realizado o pedido. Amorim foi escolhido por Carlos Bolsonaro e pelo filho “zero dois” do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Antes da indicação, o ex-comandante trabalhava com Eduardo em seu gabinete.

Outra saída recente foi a do então presidente do BNDES Joaquim Levy, que pediu para deixar o cargo após críticas públicas e duras de Bolsonaro. O economista entrou no governo com o pé esquerdo devido à proximidade com ex-governos petistas – embora seja de credo estritamente liberal – e acabou atraindo a desconfiança até por parte do ministro da Economia, Paulo Guedes.  Quem assumiu o comando do BNDES foi o economista Gustavo Montazano.

2º escalão

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Entre as demissões feitas por Bolsonaro no segundo escalão do governo, a mais recente foi a do general da reserva Juarez Aparecido de Paula Cunha, que deixou a presidência dos Correios no último dia 14, vítima de novos ataques públicos do presidente da República, incomodado com o que chamou de atitude “de sindicalista” do general. No caso, Bolsonaro ficou furioso com fotos que Cunha tirou em ida à Câmara dos Deputados com parlamentares da esquerda e com a negativa do militar de encaminhar a privatização da empresa.

No lugar do general Cunha, entrou o ex-ministro Floriano Peixoto, também general da reserva – e que havia sido exonerado da Secretaria de Governo.

No âmbito da Funai, não somente as trocas de responsabilidade de ministério prejudicaram o andamento do órgão dos indígenas. Antes da transferência para o Ministério da Justiça e Segurança Pública, Franklimberg de Freitas foi exonerado do comando do órgão pela ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves. Freitas foi o segundo comandante da Funai no governo de Bolsonaro. O primeiro foi  Wallace Bastos, que não durou um mês na nova administração: pediu demissão no fim de janeiro.

Outra demissão do segundo escalão foi a do ex-chefe da EBC Luiz Antonio Ferreira, que trocou farpas com o até então ministro da Segov, general Santos Cruz. No lugar dele, assumiu Alexandre Henrique Graziani Junior. Além disso, Bolsonaro resolveu comprar briga pelo Twitter com a então presidente do Ibama, Suely Araújo, ao acusar o órgão de irregularidades. Seguindo seu chefe, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também entrou na briga e acusou a ex-presidente de responsabilidade pelos erros. Com as acusações, Suely pediu demissão. Entrou Eduardo Fortunato.

Inep

Um dos órgãos que mais sofreu demissões durante o governo de Bolsonaro foi o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep), que teve quatro presidentes desde que Bolsonaro assumiu o cargo. A primeira a sair foi Maria Inês Fini, exonerada pelo chefe do Executivo junto a três diretoras do órgão.

Marcus Vinicius Rodrigues, que substituiu Inês, seria também demitido, em março, no meio de mais uma série de mudanças nos cargos do alto escalão do MEC na época do então ministro Ricardo Vélez. Além de Rodrigues, mais 11 diretores do Instituto foram desligados, como o chefe de gabinete do ministro, Tiago Tondinelli; o secretário-executivo adjunto da Secretaria-Executiva, Eduardo Miranda; e o assessor especial do ministro da Educação, Silvio Grimaldo de Camargo. Elmer Vicenzi, que substituiu Marcus Vinicius, foi exonerado com menos de um mês no cargo, dando lugar a Alexandre Pereira Lopes.

3º escalão

 

 

Gui Prímola/Metrópoles

No terceiro escalão, houve trocas em ao menos quatro órgãos. Entre estes, a Embratur, que sofreu três mudanças na presidência neste primeiro semestre. Em março, a assessoria da empresa e o Ministério do Turismo publicaram nota afirmando que a então presidente Teté Bezerra teria pedido demissão. Porém, em live nas redes sociais, Bolsonaro desmentiu o fato ao dizer que ele mesmo teria determinado a exoneração de Teté, devido a um jantar encomendado pela presidência da Embratur no valor de R$ 290 mil. “Você (cidadão) ia pagar a conta”, disse o chefe do Executivo, pelo Twitter. Entrou o empresário Paulo Senise. No entanto, ele foi demitido 3 dias após sua posse. “Foi uma decisão do presidente. Sem justificativa”, disse Senise. Assim, Bolsonaro colocou Gilson Machado Guimarães Neto no cargo, no qual permanece até hoje.

No Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o ambientalista Adalberto Eberhard pediu demissão com pouco mais de três meses na presidência. O motivo teria sido desentendimentos com o ministro Ricardo Salles. O cargo ficou então com o coronel Homero de Giorge Cerqueira.

Olavistas derrubados

Outro órgão que passou por reformulações na pPresidência e em cargos de diretoria foi a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), que teve a primeira troca na chefia com apenas nove dias de governo. Após desentendimentos com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, Alex Carreiro foi demitido e substituído pelo embaixador Mario Vilalva.

Após três meses à frente da Apex, foi a vez de Vilalva se queimar. Teria trocado farpas com o chanceler, que o demitiu do cargo e colocou o contra-almirante Sergio Segovia Barbosa na presidência da Agência, a mando de Bolsonaro, inconformado com a instabilidade do órgão. O motivo do desentendimento teria sido a tentativa do ministro de descentralizar as forças da presidência e dar maior autonomia à diretora de Negócios e de Gestão Corporativa, Letícia Catelani.

Mesmo que Catelani fosse protegida do ministro, a sua hora também chegou. Em mais um capítulo da disputa entre a ala militar e a olavista, Segovia demitiu a diretora. Vale ressaltar que o próprio Araújo foi uma sugestão do professor on-line de filosofia a Bolsonaro.

4º escalão

No quarto escalão do governo, o Metrópoles separou nomes que não impactam diretamente o governo, mas que têm relação com a forte ideologia imposta pelo Executivo. Foi o caso da cientista política Ilona Szabó, que foi convidada pelo ministro Sergio Moro para assumir uma posição de suplente no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), mas acabou desconvidada antes mesmo de assumir, devido a suas convicções em temas caros à nova ordem. A especialista declarou, em algumas oportunidades, ser a favor do aborto e de outros pontos contrários à ideologia bolsonarista defendida na campanha. Assim, o Planalto pediu que o ex-juiz recuasse da decisão. Assim foi feito.  

Da mesma forma, ocorreu com o embaixador Sergio Amaral, representante brasileiro em Washington (EUA). Ele teve desentendimentos com Ernesto Araújo, que o tirou do cargo e o transferiu para um escritório de Representação do Itamaraty, em São Paulo.  Ainda no Itamaraty, o presidente do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), Paulo Roberto de Almeida, foi demitido pelo ministro das Relações Internacionais após publicar texto contrariando o posicionamento do Brasil em relação à crise na Venezuela.

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