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Candidata de Bolsonaro no RS passou verba pública para filha e neta

“Não entrei para ganhar o Senado, mas para dar 28 segundos [na TV] para o Bolsonaro”, disse a candidata Carmen Flores

atualizado

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Carmen flores
1 de 1 Carmen flores - Foto: Reprodução/Facebook

“Candidata de Bolsonaro” na disputa por uma vaga ao Senado pelo Rio Grande do Sul, a empresária Carmen Flores fez repasses de verba pública de campanha do PSL para a filha, a neta e a própria loja. Os pagamentos aparecem em sua prestação de contas à Justiça Eleitoral. As informações são do jornal Folha de S.Paulo desta quinta-feira (21/2).

Carmen era a presidente do partido no estado e se desfiliou da sigla em dezembro passado. A candidata obteve 1,5 milhão de votos, mas não foi eleita. Quarta colocada, ficou atrás de Luiz Carlos Heinze (PP) e Paulo Paim (PT), eleitos para as duas vagas, e Beto Albuquerque (PSB), o terceiro.
Ela recebeu R$ 200 mil da direção nacional do PSL, valor proveniente do fundo partidário, dinheiro público para financiar as legendas e as campanhas eleitorais. Parte desse montante foi parar nas contas de familiares.

Questionada sobre o motivo dos pagamentos à filha e à neta, a candidata respondeu, sem detalhar: “Quem sabe elas trabalharam?”. “Não entrei para ganhar o Senado, mas para dar 28 segundos [na TV] para o Bolsonaro. Ele não tinha horário político, eu não tinha intenção de me eleger, em nenhum momento”, disse.

A filha, Maribel Lopes, por exemplo, recebeu R$ 40 mil pelo aluguel de seis meses de um imóvel com o mesmo endereço da loja de móveis da mãe, em Porto Alegre. Ao lado, funcionou a sede do PSL durante a campanha, local agora vazio. Antes, o endereço do PSL era o apartamento residencial da candidata.

Panfletagem
Já a neta da candidata recebeu R$ 1.155,45 para fazer panfletagem na rua, de acordo com os recibos. Por meio de seu advogado, Lucas Ceccacci, Flores responde que suas contas ainda não foram julgadas pelo Tribunal Regional Eleitoral e que toda a movimentação financeira foi registrada e tem origem. Sobre o pagamento a familiares, disse que “não há ilegalidades nas contratações”.

Resolução 23.553, do TSE, que regulou a arrecadação e aplicação dos recursos da eleição de 2018, não trata sobre a possível ilegalidade da contratação de parentes. A Justiça Eleitoral pode entender como ilegal se, ao julgar as contas, constatar que os serviços não foram prestados, por exemplo, como gráficas de fachada.

Carmen recebeu R$ 200 mil do diretório nacional do PSL para a candidatura, mas diz que “trabalhou para Bolsonaro”. “Eu não sabia o que era PSL, eu era Bolsonaro. Sempre admirei a causa Bolsonaro. O ministro Onyx Lorenzoni e o presidente, na época deputado [Bolsonaro], jogaram no meu colo em 20 de março a presidência do partido”, falou.

Móveis da própria loja
Além do aluguel, a verba pública da campanha serviu para mobiliar a sede. Os móveis foram comprados na própria loja da candidata. Foram R$ 34 mil em mesas e cadeiras. As notas fiscais mostram que os móveis não teriam saído da loja vizinha da sede, mas de uma loja da rede “Carmen Flores” em Xangri-lá, no litoral gaúcho.

“Os móveis são do partido. Vão pegar todos os móveis [de volta], mas estamos sem sede ainda”, disse o deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS) à Folha. O parlamentar gravou um vídeo, divulgado nas redes sociais, no qual critica a ex-colega de legenda.

Questionado sobre o uso do fundo partidário para comprar bens para o PSL, disse que considerava “tudo legal”. O que seria incorreto, segundo ele, seria a compra na loja da então presidente do partido, “sem licitação”.

A prestação de contas da candidata ao Senado também mostra que a maior despesa da campanha foi para Roselvane Nascimento, que recebeu R$ 95,1 mil. Segundo Nunes, Roselvane trabalhava como secretária do PSL. A reportagem tentou contato por telefone, mas foi informada de que ela estava em viagem.

Ameaça
Segundo o deputado Nunes, em setembro passado, ele informou a Gustavo Bebianno, que presidia o PSL nacional, sobre o modo como Carmen conduzia o partido gaúcho. “Eu não era candidato ainda. Quando relatei os problemas, ele disse que se eu continuasse contra a Carmen poderia ficar sem legenda para concorrer. Me ameaçou”, disse à reportagem.

Procurado, o PSL nacional não se manifestou sobre a suposta denúncia de irregularidades feita por Nunes.

Hoje sem partido, Carmen afirmou em entrevistas que se filiaria à sigla do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que coordenou a campanha de Bolsonaro no Rio Grande do Sul. Ela é empresária há mais de 40 anos e também fez fama na TV, gravando comerciais.

Carmen também fez depósitos sequenciais em dinheiro na sua conta de campanha e depois sacou a soma das quantias depositadas. No total, foram 76 depósitos em espécie (sessenta com o próprio CPF) nos dias 30 e 31 de outubro e 1º de novembro, após o fim do segundo turno.

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