Camisetas, bonés e caravanas: atos de 7 de setembro mobilizam comércio
Vendedores de camisetas, bonés e bandeiras sentiram aumento da procura, nos últimos dias. Loja em Goiânia aumentou em 200% a venda semanal
atualizado
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Goiânia – Com a aproximação e mobilização em torno dos protestos que ocorrerão no próximo dia 7 de setembro, especialmente em Brasília e em São Paulo, algumas demandas específicas de consumo aumentaram e já são sentidas por quem fornece produtos como camisetas, bonés, bandeiras, adesivos e faixas, e até o serviço de aluguel de ônibus para transporte de caravanas.
Nos grupos de WhatsApp de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), além da exposição de recomendações e tópicos que serão pauta da manifestação – fechamento do Superior Tribunal Federal (STF) e intervenção militar no Brasil –, uma das procuras frequentes diz respeito a contatos de pessoas que fornecem camisetas temáticas, com imagem do presidente ou nas cores verde e amarelo.
Foi ao perceber esse movimento de consumo nas redes sociais e nos grupos, nas últimas semanas, que o empresário Ivânio Pires, dono de uma loja de camisetas, em Goiânia, chamada Sweet Way T-Shirt, decidiu ampliar o mostruário e apostar na questão política para fazer um dinheiro a mais. Resultado: aumentou em 200% o rendimento semanal, segundo ele.
“Houve um aumento, sim, nas nossas vendas, mas um aumento, em muito, provocado por nós mesmos. Quando observamos a mobilização em torno do 7 de Setembro na internet, vimos aí uma oportunidade de crescer nas vendas e desenvolvemos, então, algumas estampas”, revela Ivânio.
A loja do empresário trabalha com uma estratégia que visa atingir públicos diferentes, aproveitando-se da polarização política no Brasil. Ao mesmo tempo em que oferece uma camiseta com a foto de Bolsonaro, a empresa comercializa também uma estampa, na visão do proprietário, “menos partidária”, somente com a frase: “Nosso partido é o Brasil”. A intenção é tentar atingir, também, os que não apoiam o presidente.
A estratégia, pelo visto, deu certo. “Temos um faturamento, em dias normais, de 300 a 350 camisetas por semana. Com a demanda das camisetas personalizadas, aumentamos o faturamento semanal em quase 200%, chegando em torno de 900 camisetas. Não estamos nem dando conta de entregar tudo e tivemos que recusar alguns pedidos”, conta Ivânio.
Anúncios na internet
Com caravanas saindo de vários locais do Brasil – só de Goiânia, serão 17 ônibus –, com destino a Brasília e São Paulo, que serão os pontos centrais do ato de 7 de setembro, a internet tornou-se uma forma ágil de contato e divulgação rápida de produtos para se chegar até esse público, independentemente da distância.
Em plataformas de vendas, como o Mercado Livre, numa pesquisa rápida, é possível encontrar uma infinidade de anúncios de camisetas, máscaras, bonés e bandeiras feitas, especialmente, para a manifestação.
Os valores variam conforme a qualidade do tecido, mas giram em torno de R$ 50. Em alguns casos, o produto é comercializado em forma de kit: compra-se o conjunto composto por camiseta e máscara de proteção facial, ou um boné. Nesse caso, as estampas remetem a Bolsonaro e suas bandeiras.
Alguns dos anúncios são de vendedores de cidades como Franca, Araras e São Paulo. A manifestação na Avenida Paulista deve atrair caravanas do Rio de Janeiro, Espírito Santo, sul de Minas Gerais, Paraná e de outros locais do Brasil, conforme levantamento feito pela reportagem nos grupos de direita.
Amarelinha em alta
Aquela que acabou tornando-se símbolo das manifestações de direita no Brasil, também, não fica de fora desse aumento da demanda ocasionado pelo protesto de 7 de setembro. A camiseta “amarelinha” da Seleção Brasileira de futebol foi alvo de procura crescente, nos últimos dias.
A loja Paizão Store, que trabalha exclusivamente com camisas de time de futebol, em Goiânia, sentiu o crescimento da procura. De acordo com um dos sócios, João Gabriel, entre o dia 27 de agosto e essa sexta-feira (3/9), foram vendidas mais de 70 camisetas da seleção, número bem acima do normal.
“Ocorreu isso agora mais por questão de data mesmo. A nossa loja não tem cunho político. Estamos aqui para vender. É um momento que está nos ajudando e gerando a venda de muitas camisas”, afirma João.
Primeira vez que faz produto político
A onda de procura por produtos temáticos, relacionados ao protesto, atingiu até quem nunca tinha vendido ou fabricado mercadorias de cunho político. Esse é o caso de Raquel Darcie, responsável pela empresa Dcort Personalizados, que faz adesivos customizados, conforme a demanda do cliente.
Ela conta que nem sequer tinha pensado em elaborar produtos visando ao público que vai às manifestações, mas acabou sendo alvo de procura espontânea. Até a tarde de sexta-feira, ela já havia elaborado dois modelos diferentes e já estava com outros quatro em andamento.
Como está prevista a concentração não só de pessoas, mas também de motos e carros na Esplanada dos Ministérios – com possibilidade, inclusive, de que ocorra uma “motociata” –, Raquel foi procurada, principalmente, por donos de veículos que irão ao protesto.
“Minhas vendas aumentaram. Tive pedidos de adesivos para o 7 de Setembro, e nem tinha pensado em vender para este fim, mas, como tive demanda, resolvi anunciar e muitos já me procuraram”, revela Raquel.
Independentemente de questões políticas, os comerciantes são pragmáticos: não querem envolvimento direto em polêmicas. Para a maioria dos empresários, o principal quesito é faturar o máximo possível. No caso deles, o negócio é o seu partido.