metropoles.com

Caminhoneiros desafiam o governo e tentam parar o país nesta segunda

Ministério da Infraestrutura foi à Justiça e conseguiu liminares para impedir bloqueios de rodovias em 20 estados

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Vinicius Schmidt/Metrópoles
Bela Vista (GO) 09/09/2021 Caminhoneiros fazem bloqueio na GO-020, no km 43, próximo à entrada da cidade de Bela Vista (GO)Foto: Vinicius Schmidt/Metrópoles
1 de 1 Bela Vista (GO) 09/09/2021 Caminhoneiros fazem bloqueio na GO-020, no km 43, próximo à entrada da cidade de Bela Vista (GO)Foto: Vinicius Schmidt/Metrópoles - Foto: Vinicius Schmidt/Metrópoles

Enfurecidos pelos constantes reajustes no preço do diesel e insatisfeitos pela falta de diálogo com o governo federal, caminhoneiros autônomos de todo o Brasil tentam promover, a partir desta segunda-feira (1°/11), greve que traga consequências palpáveis à economia do país e obrigue as autoridades a ceder aos apelos da categoria.

A maioria das lideranças rechaça publicamente eventual bloqueio das rodovias por parte dos grevistas, mas essa possibilidade é o que mais preocupa o Ministério da Infraestrutura, que foi à Justiça e obteve liminares em 20 estados para impedir a prática.

Apesar da ofensiva do governo federal, o movimento mantém a pretensão de paralisar nesta segunda e demonstra irritação com o ministro Tarcísio de Freitas. O chefe da pasta da Infraestrutura tem dado várias declarações minimizando os riscos da greve – e causando ainda mais revolta nos profissionais estradeiros.

Em uma palestra pública, o ministro criticou “meia dúzia de lideranças” que convocam greves frequentemente, disse que os autônomos são minoria no setor e pontuou que a falta de apoio das transportadoras condenaria o movimento a ser diminuto. “Eles tentam aproveitar o que aconteceu em 2018 [uma grande greve de caminhoneiros que realmente parou o país], mas o que aconteceu em 2018 não vai acontecer tão cedo. A turma que financiou 2018 tá fora. Nosso único desafio é não deixar bloquear rodovia”, disse Tarcísio de Freitas, em posição confirmada oficialmente pelo ministério.

A mobilização dos profissionais, porém, ganhou força desde então. Uma das vitórias mais expressivas dos autônomos nos últimos dias foi a adesão ao movimento das principais centrais sindicais do país, incluindo a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical. Uma nota conjunta em apoio às pautas dos caminhoneiros, como a redução do preço do diesel e a revisão da política de preços da Petrobras, foi divulgada pelas entidades sindicais no início da tarde de quinta (28/10).

Na sexta (29/10), o presidente da Central dos Sindicatos do Brasil (CSB), Antonio Neto, previu que a paralisação terá grandes proporções. Ele disse que se reuniu com lideranças de caminhoneiros e de sindicatos de transporte e logística para conversar sobre detalhes do protesto. “A greve vai acontecer à 0h do dia 1º de novembro. O Brasil vai começar a parar. Estamos apoiando esta greve. Esses excessos de preços causam revolta em todos os trabalhadores brasileiros”, afirma Neto, que também é presidente do PDT em São Paulo.

“Esta greve é de todo o povo brasileiro. É de quem está tendo de comprar gás e não consegue pagar, a energia está subindo… o povo brasileiro não aguenta mais pagar os lucros bilionários de meia dúzia de acionistas”, acrescenta o sindicalista.

O que esperar

Ainda que não seja de grandes proporções, a greve que começa nesta segunda traz ameaças reais para vários segmentos do setor produtivo, segundo o analista líder para o Brasil da consultoria internacional Control Risks, Mário Braga. “O provável fechamento de trechos de rodovias pelo país, mesmo que a paralização não conte com o apoio integral da categoria, pode resultar em dificuldades para cadeias de suprimentos, afetando desde linhas de produção até o abastecimento de produtos para os consumidores finais”, enfatiza Braga em entrevista ao Metrópoles.

O analista de riscos lembra que o modal rodoviário é onde circula a maioria da carga no país. “Esta realidade é estrutural e faz com que protestos de caminhoneiros tenham o potencial de gerar impactos significativos para empresas de diversos setores – desde o escoamento de grãos e transporte de peças à indústria e bens de consumo e pequenos comércios, por exemplo.”

Riscos fiscais

A resposta do governo federal a essa pressão dos caminhoneiros é fonte de outro tipo de riscos, afirma ainda o analista Mário Braga.

“Em meio ao contexto da corrida eleitoral de 2022, o presidente Jair Bolsonaro deve seguir tentando adotar medidas pontuais para conter o impacto do alto preço dos combustíveis sobre a inflação e sua popularidade. Esse cenário deve levar a um alto grau de volatilidade nas políticas públicas focadas neste tema, já que, em vez de solução estruturais, o governo tem historicamente optado por atalhos e soluções de curto prazo em razão das dificuldades de coordenação junto ao Congresso para a aprovação de pautas complexas, sobremaneira as de cunho econômico”, ressalta o especialista.

“Essa instabilidade deve seguir gerando preocupações quanto ao rumo da política fiscal, além de abalar a confiança de investidores e empresários. Como consequência, o relativamente alto grau de incerteza deve adiar decisões de investimento, tendo um efeito negativo para a recuperação do país ao longo do próximo ano”, completa.

As negociações

A principal medida anunciada pelo governo federal para tentar mitigar os problemas dos caminhoneiros é um “auxílio-diesel” mensal de R$ 400 por um ano. A ajuda, porém, não foi bem recebida pelas lideranças da categoria, que acharam que a colaboração é muito pequena em um contexto no qual o combustível subiu 65,3% apenas em 2021.

O que a classe sugere é uma mudança na política de preços da Petrobras. Para lideranças, é necessário adotar a política de preço de paridade de exportação (PPE) e passar a uma baseada exclusivamente em custos nacionais. De acordo com Carlos Alberto Litti, diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), essa proposta tem sido ventilada entre integrantes da categoria e “pode melhorar a condição” dos caminhoneiros.

Eles também propõem acerto de contas anual entre a Petrobras e o governo. Com essas e outras medidas, os caminhoneiros calculam que haveria retração no preço da gasolina de 45%, de 27% no óleo diesel e de 23% no gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha.

Como essas negociações não estão andando, a ideia das lideranças é forçá-las. De acordo com representantes da categoria, um dos principais alvos de mobilização é o Porto de Santos, que depende do modal rodoviário em 55% das cargas movimentadas.

Em um vídeo obtido pelo Metrópoles, dezenas de caminhoneiros reunidos em assembleia na semana passada gritam palavras de ordem a favor da greve, dizendo que “chegou a hora” de lutarem por seus direitos. Alguns, mais exaltados, respondem que a situação virou uma “guerra”.

Esta segunda-feira de feriadão vai mostrar se o governo acertou em minimizar o movimento ou se as lideranças mais radicalizadas vão conseguir promover  greve de grandes proporções.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?