Câmera em uniforme da PM motiva discussão entre pré-candidatos de SP
Enquanto alguns defendem sua manutenção, outros defendem mudanças e chamam câmeras de “abuso” e “voto de desconfiança”
atualizado
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São Paulo – Nem educação, nem saúde, nem emprego e renda. Um tema que tem dividido pré-candidatos ao governo de São Paulo nos últimos meses é a utilização de câmeras pelos policiais militares do estado. Enquanto alguns elogiam o uso de equipamento – que já mostra resultados na diminuição da violência policial – outros prometem mudanças ou a retirada dos aparelhos.
As câmeras acopladas nos uniformes da PM são um legado da gestão João Doria (PSDB) que, em junho de 2021, lançou o programa Olho Vivo – que vinha sendo estudado desde 2018. De lá para cá, foram instaladas 5.600 câmeras em fardas dos policiais de batalhões de diversas regiões do estado. Até o fim do ano, o governo pretende chegar a 10 mil.
Do ponto de vista de indicadores da segurança pública, os resultados foram positivos até agora. Em junho do ano passado, nenhuma morte por intervenção policial foi registrada nos 18 batalhões que estavam usando as bodycams.
Nos dois primeiros trimestres de 2021, foram 272 pessoas mortas em confronto com a polícia militar em serviço. Já nos dois últimos trimestres (de julho a dezembro) do mesmo ano, o número foi de 151 mortes – uma redução de 44%. Em 2020, os últimos seis meses tiveram 224 mortes do tipo.
Defensores do fim
Em um aceno aos setores das polícias que são contra o equipamento e até mesmo do eleitorado defensor do “bandido bom é bandido morto”, alguns dos políticos que agora postulam uma vaga no Palácio dos Bandeirantes prometem acabar com as câmeras, ou ao menos mudar radicalmente o modelo da política pública.
A área da segurança pública tem tomado espaço relevante nos discursos e entrevistas dos aspirantes a governador, que tentam equilibrar as promessas de diminuir os crimes com a valorização dos policiais militares e civis.
Ao mesmo tempo, os políticos adotam certa cautela para não incorrer no erro que Doria cometeu quando era candidato, em que prometeu que a polícia paulista teria o segundo maior salário do país.
A sinalização não se concretizou, o que gerou insatisfação das forças de segurança com o governo. Um aumento expressivo para a categoria (de 20%) só veio de fato quando o tucano já estava perto de deixar o governo – em março deste ano.
O que dizem os pré-candidatos
Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Márcio França (PSB), o primeiro do espectro político à direita e o outro ao centro, são dois dos pré-candidatos que entendem que as câmeras são prejudiciais aos trabalhos dos agentes da PM e defendem mudanças.
Tarcísio já disse que quer acabar com o uso do equipamento e afirmou, na última quinta-feira (5/5) em sabatina realizada pelo UOL e pela Folha de S.Paulo: “Sou a favor de rever. Para mim, é um voto de desconfiança para o policial, e eu acredito no policial. Acredito naquele profissional que coloca uma farda e coloca a vida em risco para nos defender. [Com a câmera] você tira privacidade do policial e não permite que coisas que eram rotina aconteçam”.
Já França chamou de “abuso” gravar os PMs por 12 horas e sugeriu que as câmeras possam ser ligadas e desligadas a depender da situação. “Imagina uma policial que vai ao banheiro, e a câmera gravando, 12 horas seguidas sem nenhuma interrupção. Só vai ligar a câmera quando estiver em ação, quando a pessoa saca a arma, liga a câmera. É automático, sacou a arma, ligou, mexeu no cassetete, ligou”, propôs, sem explicar detalhadamente como funcionaria esse mecanismo.
A posição mais curiosa veio justamente do atual governador Rodrigo Garcia (PSDB), vice de Doria até março deste ano. Era de se esperar que ele defenderia a medida, mas inicialmente, chegou a questionar o uso das câmeras nos batalhões do Choque e em operações especiais.
Nesta semana, entretanto, recuou: “Dialoguei com os comandantes, fiz várias reuniões com capitães, coronéis, majores e hoje eu não tenho nenhuma dúvida de que a câmera corporal é um avanço para a polícia de São Paulo, protegendo o cidadão e protegendo o policial”.
O pré-candidato Fernando Haddad (PT) é um notório defensor do uso dos equipamentos. Em entrevista ao Metrópoles disse que pretende fixar metas de redução de violência policial e citou as câmeras como uma boa política para alcançar essa diminuição, e criticou os adversários que são contra a medida.
O também pré-candidato Elvis Cezar (PDT), por sua vez, se mostrou contrário ao uso das câmeras como é atualmente. “Segundo dados, [as câmeras] têm dado resultados positivos. Por outro lado, 12 horas uma câmera ligada ao seu lado chega a ser desumano. Nós precisamos, junto com a corporação, com o comando, encontrar uma solução técnica melhor para adequar essa situação”, falou durante sabatina realizada pelo UOL e pela Folha de S.Paulo.
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