Camboriú: moradores apostam em qualidade de vida com alargamento da praia
A obra para aumentar a orla custará R$ 66,8 milhões e a previsão de término está marcada para novembro deste ano
atualizado
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O alargamento da faixa de areia na Praia Central, em Balneário Camboriú (SC), vai alterar a vida de um dos principais cartões-postais da cidade. Para os moradores da região, a obra vai aumentar a qualidade de vida e ajudar no desenvolvimento, incentivando turismo e o mercado imobiliário.
A obra pretende aumentar em 35 metros a largura da Praia Central, que está recebendo areia vinda do fundo do mar em dutos ligados a um navio com draga. O alargamento da orla custará R$ 66,8 milhões e a previsão de término está marcada para novembro deste ano.
Lorelize Centurião é síndica de um edifício na região onde o alargamento da orla ocorre. Para ela, o processo “vai trazer, a princípio, ganhos como uma maior faixa de areia e mais sol nas praias”. A mulher de 63 anos imagina que o processo não causará problemas ambientais e que o turismo ganhará bastante.
“Eu, pessoalmente, não conheço quem seja contrário. Com certeza, existe alguém, mas as pessoas que conversaram comigo sobre o assunto eram favoráveis”, conta a síndica.
Elisabete Bitencourt Alves, 72, vive na cidade há mais de 20 anos e vê com bons olhos a obra de alargamento da orla de Balneário Camboriú: “Acho maravilhoso ficar vendo as dragas e o processo do que está acontecendo”.
A aposentada compara a região da Praia Central, onde vive, com uma “Copacabana pequena”. A moradora de Balneário Camboriú afirma que as obras na orla “parecem ser muito bem planejadas e vão servir como um investimento para cidade”.
Enquanto trabalhava no Ministério da Educação, em Brasília, ela sonhava em passar sua aposentadoria na cidade. Elisabete comenta que “os prédios foram crescendo, subindo e a sombra apareceu e o pessoal começou a reclamar”, mas o desejo dos moradores pelo alargamento das praias já era antigo.
“Pertence ao povo”
Fábio Perdigão Vasconcelos, coordenador do Laboratório de Gestão Integrada da Zona Costeira da Universidade Estadual do Ceará, relembra que o alargamento de praias é um processo antigo e a primeira obra do tipo foi feita em Copacabana nos anos 1960.
Para Vasconcelos, a recomposição dessa areia perdida é uma solução mais natural para a erosão costeira, desde que a situação seja bem analisada e estudada pelos órgãos ambientais.
“Os aterros repõem o sedimento perdido para o mar trazendo o sedimento do próprio mar. Você pega de uma jazida de areia ou próximo do banco de areia, e com uma draga você recompõe a praia tentando tornar o ambiente natural novamente”, diz.
Segundo o pesquisador, os alargamentos de orla “têm a característica de devolver à população o patrimônio público que é a praia”, onde podem ser feitas atividades de lazer e econômicas.
“É um lugar que pertence ao povo… Então, a recomposição desses ambientes é uma maneira de você devolver à população esse patrimônio. Essa, no momento, tem sido a necessidade.S ão obras caras, que são feitas em grandes centros urbanos, onde tem uma atividade econômica importante. A praia é um motor para o desenvolvimento econômico com o lazer, com a recreação, com turismo”, ressalta.
O coordenador considera o tipo de obra como um investimento no desenvolvimento da cidade, a não ser que o projeto seja muito malfeito e o alargamento não se segure por muito tempo. “Normalmente, antes de se fazer um aterro desses, você estuda toda a dinâmica do lugar”, afirma.
Além de Camboriú, Florianópolis (praias de Ingleses, Jurerê Tradicional e Armação), Natal (Ponta Negra) e Fortaleza (Praia de Iracema) têm projetos de alargamento de orlas.
Confira vídeo sobre a obra:
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Interferência
Apesar do otimismo dos moradores, Paulo Horta, professor de Ecologia e Oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ressalta os riscos ambientais: “Estamos interferindo nos ecossistemas das regiões costeiras com processos de urbanização e o desenvolvimento de grandes cidades”.
“A medida que nós interferimos nesse balanço na região costeira, estamos diminuindo a quantidade de areia para nossas praias”, afirma o especialista.
Horta ressalta que o alargamento não altera o nível do mar, mas é uma obra que não colabora para a proteção ambiental e climática das regiões litorâneas do país. O contexto atual “é muito preocupante” porque reduz a capacidade de enfrentar os extremos das mudanças no clima.
O professor acredita que o investimento gasto com as obras de alargamento das praias possivelmente será erodido aos poucos. De acordo com o especialista, “estamos amenizando os danos de um grande equívoco na ocupação da linha de costa”, causado por desconsiderar a ciência no processo de construção de cidades litorâneas, como Balneário Camboriú.
Para Paulo Horta, o banco de areia drenado possui uma grande quantidade de animais e algas mortos nesse processo. Essa biodiversidade é importante porque consegue filtrar as águas do local e é fonte de alimentos para peixes.
Além disso, existem outros impactos quando a areia chega na praia. O professor explica que o funcionamento das máquinas e de todo processo do alargamento acaba matando boa parte da biodiversidade que está ali. Também é gerada uma onda de areia e sedimentos que pode carregar poluentes como metais pesados e nitrogênio.
Proteção da cidade
A Prefeitura de Balneário Camboriú argumenta que o alargamento da Praia Central foi “motivado por questões ambientais, para a proteção da cidade contra o avanço das marés, que quando tem ressaca mais forte invadem as ruas do centro”.
O governo da cidade nega que as obras foram motivadas pela sombra de grandes prédios na praia. “É fruto de uma decisão que a cidade tomou em um plebiscito realizado ainda em 2001, ou seja, mais de duas décadas atrás. É claro que a área com sol na faixa de areia aumentará”, explica o governo.
“Com o alargamento, será possível, também, a recuperação de áreas de restinga ao longo da orla, e a construção de um grande parque urbano com áreas de lazer, esporte e contemplação. Nossa grande motivação é entregar à cidade as mesmas condições da faixa de areia que tínhamos originalmente”, afirma.
(*) Jonatas Martins é estagiário do Programa Mentor e está sob supervisão da editora Maria Eugênia