Câmara autoriza comissão para investigar morte de Marielle Franco
O pedido de criação do colegiado foi protocolado pelos partidos de oposição da Casa durante sessão solene em homenagem à vereadora
atualizado
Compartilhar notícia
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), autorizou nesta quinta-feira (15/3) a abertura de uma comissão externa para investigar o assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol), morta na noite dessa quarta (14) no Rio de Janeiro. O pedido de criação do colegiado foi protocolado pelos partidos de oposição da Casa durante sessão solene realizada em homenagem à parlamentar.
A vereadora foi morta em um ataque a tiros no centro do Rio. Nove cápsulas de arma de fogo foram recolhidas no local do crime. No mínimo, quatro projéteis atingiram a cabeça da parlamentar – a suspeita de execução é investigada. O motorista Anderson Pedro Gomes, que dirigia o carro usado para transportar Marielle, também morreu baleado. Ele levou pelo menos três tiros nas costas.
Organizado por parlamentares da oposição e movimentos sociais, o ato em homenagem à Marielle, na Câmara, teve início às 11h, com cortejo em direção ao Plenário da Casa. Carregando girassóis e cartazes com frases como “Maré chora a execução da sua filha”, políticos e manifestantes entoavam “Marielle, presente”.
Na tribuna, deputados cobraram o avanço das investigações sobre a morte da vereadora carioca e criticaram a intervenção federal no Rio de Janeiro, em vigor desde 16 de fevereiro. A deputada Maria do Rosário (PT-RS) solicitou a participação de membros da sociedade civil na comissão que investigará o assassinato da parlamentar. “Não confiamos mais nas autoridades constituídas para garantir a paz”, disse.
A sessão também foi acompanhada por parlamentares da base do governo. O deputado Alberto Fraga (DEM-DF), líder da frente parlamentar de segurança pública, a “bancada da bala”, foi hostilizado por manifestantes ao subir na mesa do plenário. Rodrigo Maia, que presidiu a reunião, também foi alvo de gritos de “golpista” e “fascista”.
Ao final do evento, Maia minimizou as críticas. “É um momento de mais estresse, mais radicalismo das pessoas. Acho importante a Câmara participar, já que foi o assassinato de uma parlamentar. Os órgãos de segurança estão sob responsabilidade do governo federal, então cabe uma comissão externa para tratar desse assunto”, afirmou.
“Poderia ser eu”
Estudante de filosofia da Universidade de Brasília (UnB) e integrante do coletivo Juventude e Revolução, Ana Luísa Guimarães compôs a mesa diretora da sessão solene. “Poderia ter sido eu, poderia ter sido uma amiga. Quantas de nós vamos ter de morrer para entenderem que racismo mata?”, discursou, em meio a lágrimas, a jovem no plenário.
O sangue de Marielle está nas mãos desse estado fascista que mata todo dia. A resistência pode doer, e dói, mas vamos continuar em pé, lutando
Ana Luísa Guimarães, estudante
Pauta de segurança
Rodrigo Maia afirmou que a Câmara avançará, nas próximas semanas, em projetos na área de segurança pública. Segundo o presidente da Casa, deverão ser apreciados o texto que cria o Sistema Único de Segurança Pública (Susp) e a proposta de endurecimento das leis de combate ao tráfico de drogas.
A apreciação do projeto que propõe a flexibilização do Estatuto do Desarmamento, criticada por manifestantes e parlamentares durante a sessão solene desta quinta (15), deverá, segundo Maia, ser adiada. “Esse é um debate sempre polêmico, com muito radicalismo dos dois lados”, disse.