Calor: entidades não veem risco de apagão, apesar de alto consumo
Onda de calor extremo causa aumenta consumo de energia elétrica. Entidades garantem que o sistema tem capacidade para atender à demanda
atualizado
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A onda de calor extremo que atingiu boa parte do país tem elevado o consumo de energia nos lares brasileiros. Com isso, a preocupação em torno de episódios de apagões e desabastecimento volta a rondar os consumidores, que temem ficar sem ar-condicionado e ventiladores para se refrescar.
Bairros de São Paulo e municípios do Rio de Janeiro registraram quedas de energia na última segunda-feira (13/11), mesmo dia em que o país bateu recorde na demanda instantânea de carga no Sistema Interligado Nacional (SIN), do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), alcançando 100.955 megawatts (MW).
Na quarta (14/11), o sistema atingiu novo patamar, chegando a 101.475 MW. O número é 16,8% maior que o registrado no início de novembro, de 86.800 MW.
Apesar da alta, o ONS garante que o sistema tem capacidade para atender à alta no consumo. “O SIN é robusto, seguro, possui uma ampla diversidade de fontes e está preparado para atender às demandas de carga e potência da sociedade brasileira”, afirma.
O órgão faz o monitoramento das condições climáticas para estimar o comportamento da carga e perspectiva de chuvas, por exemplo.
O diretor-presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica (ABCE), Alexei Vivan, avalia que, atualmente, o país tem “sobra estrutural de geração”, o que significa que o sistema de energia possui mais potência instalada do que demanda.
O problema das quedas de energia pode ocorrer quando há um pico de consumo e algumas fontes de geração — eólica, solar, hídrica — não estão funcionando plenamente.
“A questão é conjuntural. Nesse momento de pico de consumo, você demanda uma carga muito grande. Então, você precisa de todas as fontes funcionado muito bem. Caso contrário, é nesse momento que ocorrem as falhas”, explica.
“A grande preocupação é especialmente com as fontes intermitentes [solar e eólica, por exemplo, que dependem que haja sol e vento para gerarem energia]. Se tivermos um pico de consumo e essas fontes não estiverem disponíveis, temos de usar mais hidrelétricas, as térmicas.” Nesses casos, o sistema pode ficar sobrecarregado.
Durante a alta registrada na terça, 59,8% da demanda foi atendida por energia gerada por hidrelétricas; 11,2% de geração solar distribuída (de consumo próprio); 11,5% térmica; 9,5% eólica; e 11,2% solar centralizada (que vêm de distribuidoras).
Apesar da alta no consumo, a Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace) também analisa que não há risco de desabastecimento. A entidade ressalta que é contra a criação de novos subsídios ou outros benefícios para qualquer fonte de energia.
“Tanto as usinas térmicas como as solares, incluído a geração distribuída, contribuíram com o atendimento da carga, assim como as hidrelétricas. Ou seja, não se pode negar a importância de todas”, observa o diretor-presidente da Anace, Carlos Faria.
“Mas a expansão de cada uma na matriz elétrica brasileira tem de ser estudada pelo planejamento, de responsabilidade da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), e não definida com base em eventos específicos dessa natureza”, pontua.
Calor extremo
A onda de calor extremo que atingiu o país é impulsionada pelo El Niño, que se caracteriza pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico. O fenômeno ocorre a cada cinco e sete anos, e afeta diversos países — entre eles, o Brasil. O El Niño contribui para que a primavera e o verão registrem temperaturas em torno ou acima da média, favorecendo períodos prolongados de calor mais intenso. Com o aquecimento global, os impactos nas temperaturas tendem a aumentar.
O aquecimento global, que pode intensificar o El Niño, é gerado pelo acúmulo crescente de dióxido de carbono e outros gases causadores do efeito estufa na atmosfera, graças a ações de intervenção humana relacionadas à queima de combustíveis fósseis e ao desmatamento.
Na terça (14/11), cidades ao redor do país voltaram a computar altas temperaturas. Goiânia, capital de Goiás, bateu o recorde de dia mais quente para o mês de novembro da história, com máxima de 39,2ºC. O Distrito Federal registrou recorde de calor, com 37,3 ºC, pelo segundo dia seguido. No Rio de Janeiro, a sensação térmica chegou a bater 58,5°C, a maior desde 2014.