Calor e seca: número de botos mortos no Amazonas sobe para 178
A seca extrema na região Norte tem sido apontado com um dos fatores pela morte dos botos no Amazonas
atualizado
Compartilhar notícia
O número de botos mortos no Amazonas subiu para 178, segundo a organização não governamental (ONG) WWF. Os animais foram encontrados nos lagos Tefé e Coari, no interior do estado.
Os dois lagos são afluentes do Rio Solimões e têm sofrido com a seca extrema que assola a região Norte. “A única diferença é que o Coari tem um canal muito mais curto até chegar ao Médio Solimões”, explica a oceanógrafa Miriam Marmontel, líder do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM).
Foram encontradas 155 carcaças de botos-cor-de-rosa e tucuxis no Lago Tefé e 23 no Lago Coari. Anteriormente, os pesquisadores identificaram 130 animais mortos na região.
Uma das principais causas da estiagem no Norte é o fenômeno climático El Niño, responsável pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico. “Secas e cheias extremas vão acontecer com cada vez mais frequência e intensidade. E a tendência é que a situação na região amazônica piore, pois a expectativa é de que no ano que vem o El Niño seja ainda mais forte”, afirma Miriam.
No Lago Tefé, 10% da população de botos foi perdida em apenas uma semana. Dos 155 animais mortos, 84,5% são cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e 15,5% são tucuxis (Sotalia fluviatilis), em geral os mais vulneráveis.
Segundo a Defesa Civil do Amazonas todos os 62 municípios do estado estão sendo afetados pela seca extrema. Destes, 60 estão em estado de emergência, onde mais de 600 mil pessoas sofrem com as consequências da estiagem.
Para Ayan Fleischmann, líder do Grupo de Pesquisa em Geociências e Dinâmicas Ambientais na Amazônia do IDSM, a morte dos botos aconteceu por causa que os animais perderam a capacidade de regular a temperatura corporal.
“Em situações assim, a pressão sanguínea sobe e pode haver um colapso cerebral, como congestão ou derrame. Mas ainda estamos aguardando as análises de histopatologia para bater o martelo”, salienta Ayan.
“Se o aumento da pressão sanguínea for confirmado nos exames, teremos descoberto da pior forma possível o limite de temperatura que os botos suportam. Por isso, os próximos anos nos apavoram”, completa o pesquisador do IDSM.
Segundo os pesquisadores, o Lago Tefé chegou a registrar 39,1ºC de temperatura. Um número que preocupa tendo em vista a dificuldade de adaptação corporal dos animais que vivem na região.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) investiga as mortes dos animais.