Caixa tem 6 denúncias de assédio por dia após saída de Pedro Guimarães
Ao menos 560 relatos de assédio foram feitos à Caixa desde o início deste ano. Número é o maior desde 2013
atualizado
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A Caixa Econômica Federal recebeu, em média, seis denúncias de assédio por dia após a saída de Pedro Guimarães (foto em destaque) da presidência do banco.
Guimarães foi exonerado em 29 de junho deste ano, após o colunista Rodrigo Rangel, do Metrópoles, revelar relatos de assédios sexual e moral praticados pelo executivo. Desde então, 404 denúncias foram formuladas nos canais internos da Caixa.
Esses dados constam em uma ação ajuizada nessa quinta-feira (30/9) pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) contra Pedro Guimarães.
A ação civil pública foi proposta à Justiça do Trabalho em Brasília e pede que o banco público seja condenado a pagar R$ 305 milhões em indenização. O MPT também pede uma indenização de R$ 30,5 milhões de Pedro Guimarães e de R$ 3 milhões de outros sete executivos ou ex-funcionários.
A quantidade de denúncias de assédio recebidas neste ano pela Caixa é a maior desde, ao menos, 2013.
O banco recebeu 561 acusações entre 1º de janeiro e 1º de setembro deste ano.
Na petição, o procurador do Trabalho Paulo Neto destaca o aumento de casos de assédio na gestão do ex-presidente. De 2013 a 2018, a média de denúncias recebidas era de 79 por ano.
A partir de 2019, essa média subiu para 343, alta de 425%.
Houve também aumento na quantidade de funcionários afastados por doenças mentais após a chegada de Pedro Guimarães. Até 2018, a média era de 277 trabalhadores por ano. Passou para 383 afastamentos ao ano. Crescimento de 43%.
Ação
De acordo com a denúncia, a Caixa falhou em proteger seus funcionários do assédio imposto por Guimarães e outros membros da diretoria.
Para apresentar a denúncia e apontar a omissão da empresa, o MPT apurou que a primeira queixa contra Guimarães foi feita em junho de 2019 à corregedoria do banco, quando ele havia sido nomeado há apenas seis meses. O banco nunca apurou a conduta do presidente, além de ter tentado esconder as denúncias de órgãos de controle, como o Ministério Público.
A ação do MPT ilustra as consequências da publicação da denúncia pelo Metrópoles e investigações que se seguiram. São detalhados os conteúdos de 20 depoimentos tomados pelo MPF com servidoras, servidores e ex-funcionários da Caixa indicando que Pedro Guimarães “aproveitava as viagens oficiais para assediar sexualmente empregadas do banco”.
“Comigo, em uma das viagens, ele passou a mão nas minhas nádegas, depois de sempre fazer brincadeiras que me constrangiam, pegando na cintura, no pescoço e me abraçando encostando todo seu corpo em mim e falando no pé do ouvido, com uma intimidade que nunca dei e que me ofendia”, disse uma das depoentes.
“Pelo menos outras duas colegas passaram pelo mesmo, sendo apalpadas por ele nas nádegas em viagens. Ele também constrange as colegas pedindo para levar coisas no quarto dele à noite. Várias mulheres já foram vistas saindo do quarto dele nos hotéis em que se hospeda. Ele acha que as pessoas não veem, mas veem e comentam. Temos muito medo, mas algo precisa ser feito”, completou ela.
Outra testemunha citada na ação relatou que “que quando o presidente abria a porta, ele passava o braço no peito da depoente; que era muito sutil; que num primeiro momento não deu para sentir que era uma coisa pensada; que parecia um esbarrão, mas depois de um momento a coisa passou a ficar mais objetiva, ele passava a mão no peito, nas nádegas, como se fosse um esbarrão”.
Em resumo, o MPT justificou a ação na Justiça acusando o ex-presidente Pedro Guimarães de assédios sexual e moral, além de agressões físicas. Já o banco foi acusado de omissão diante dos abusos e de não ter protegido seus funcionários.
“Induvidoso, portanto, que as condutas denunciadas – e robustamente comprovadas pelos depoimentos acima transcritos, além de documentos carreados aos autos do inquérito civil público – caracterizam assédio sexual e assédio moral, além de tratamento discriminatório”, diz o documento.