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Cães-guias: as estrelas que Iluminam o caminho da independência

Adestramento dos cães-guias começa na fase inicial de vida, sendo dividido em etapas de socialização e treinamento

atualizado

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Cães-guias são criados e treinados para auxiliar pessoas com deficiência visual - Metrópoles
1 de 1 Cães-guias são criados e treinados para auxiliar pessoas com deficiência visual - Metrópoles - Foto: Reprodução/ Getty Images

O cão-guia, também chamado de cães de assistência, fazem jus à expressão de melhor amigo. O animal é essencial para ajudar pessoas com necessidades especiais, desde o auxílio na procura de um objeto dentro de casa até complexas rotas. Eles sempre seguem comandos específicos e tomam decisões rápidas para garantir a segurança dos tutores.  

Antes de se tornar um companheiro de vida, os cães-guias devem passar por um treinamento especializado em que uma série de habilidades são ensinadas, entre elas, ter o espírito de liderança, ser calmo e ter a facilidade em aprender. 

Estes animais não apenas oferecem assistência prática na navegação diária, mas também proporcionam um senso renovado de liberdade e confiança aos tutores.

O vínculo entre o usuário e o cão-guia é baseado em confiança e apoio incondicional, o que proporciona um senso de segurança e bem-estar. A psicóloga Estrela Rodrigues, moradora de Fortaleza, é deficiente visual e tem a ajuda da cadela Bella para seguir uma vida mais tranquila. 

Aos 20 anos, Estrela teve um glaucoma congênito, e percebeu a necessidade de ter a ajuda de um cão-guia. “Hoje eu tenho 34 anos, e a minha vida inteira eu fui uma pessoa com deficiência visual, porém a maior parte da minha visão era corrigida com lentes de contato, óculos de grau, com fontes ampliadas, então eu não tinha tanta necessidade de recursos de acessibilidade. Quando eu perdi a visão aos 20 anos, a primeira coisa que eu pensei foi ‘eu adoro cachorro, eu quero ter um cão guia’.  Achava que era muito fácil ter um cão guia, entretanto, Infelizmente, a fila é grande e é preciso ter alguns requisitos”, diz. 

A psicóloga conta que passou um tempo fazendo as inscrições, mas nunca tinha uma resposta sobre ter um cão-guia. “Isso me deixava muito triste, porque eu sabia que não preenchia os requisitos necessários, mas eu ia seguindo a vida. Aprendi a andar de bengala sozinha, aprendi a andar de ônibus sozinha, mas não foi uma tarefa rápida e nem fácil, porém deu certo”, aponta.

“Me formei, construí a minha família, me casei, mas eu nunca desisti dessa ideia de ter um cão-guia. Entretanto, em 2022 quando o edital abriu, eu engravidei da minha segunda filha e eu estava em uma gestação de alto risco, foi uma gestação delicada, foi quando eu precisei recuar desse sonho”, conta Estrela. 

De acordo com a mulher, ela sempre se inscreveu nos editais e mostrava para as escolas que tinha todos os requisitos para receber um companheiro, foi quando em 2023, esse sonho passou a se tornar realidade graças ao Instituto de responsabilidade e inclusão Social (IRIS). “Me candidatei no edital do ano passado e fui passando em todas as fases, foi quando somente neste ano, em 2024, eu recebi uma resposta de uma escola em São Paulo, que percebeu que eu tinha um perfil adequado para um futuro cão-guia”, diz. 

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Cão-guia Bella com a tutora
A cadela Bella chegou na vida de Estrela no início de 2024
Estrela e Bella durante passeios de rotina
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Estrela Rodrigues e a cadela Bella em passeio do dia a dia

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Cão-guia Bella com a tutora

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A cadela Bella chegou na vida de Estrela no início de 2024

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Estrela e Bella durante passeios de rotina

Arquivo Pessoal

Estrela conta que teve algumas dificuldades, mas nada que a impedia de aprender com a nova companheira de vida, a cadela chamada Bella. “A rotina com um cão-guia é totalmente diferente, a gente anda com uma velocidade maior, com mais liberdade, a gente desvia de obstáculos sem nem saber, porque ela vai visualizando e vai me protegendo e eu nem sabia. Só que no começo, eu tive insegurança, é diferente, é difícil, e por isso o processo de adaptação é tão necessário”, explica. 

Apesar da demora de conseguir ter um companheiro, a psicóloga conta que Bella transformou a rotina. “Eu percebo que a Bella melhorou muito a minha vida, ela me deu uma liberdade muito grande na locomoção, de poder ir para qualquer lugar, sem precisar de acompanhante e com a segurança muito grande. Aprendi também que ter um cão-guia é entender que temos responsabilidades, é uma vida que está sob os nossos cuidados. O animal quer atenção, ele precisa de lazer, ele não trabalha o tempo todo. É um desafio muito grande, mas para quem gosta e tem essa oportunidade de ter é fantástico, eu digo que minha vida mudou 100% para melhor depois que a Bella chegou”, explica. 

Por fim, Estrela relata que além dos cuidados com o animal, outro desafio é no caminhar durante o dia a dia. Hoje, ela compartilha a rotina e o dia a dia com a Bella nas redes sociais. “Muitas pessoas acham muito fofinho, porque é lindo mesmo, mas elas querem tocar, querem chamar o cachorro na hora que ele precisa de atenção. Então o cão-guia tem um equipamento de trabalho e quando ele coloca esse equipamento, ele entende que está trabalhando, ele mantém o foco e atenção no nosso trajeto, porém, ele não deixa de ser um cachorro, ele tem o instinto dele. No momento que o cão-guia é distraído, ele pode olhar para o lado e ao invés de olhar para frente, pode nos esbarrar em algo. Outra questão é sobre o transporte, tanto por aplicativo quanto os táxis, eles consideram que o cachorro é um pet, na verdade, eles são uma extensão do nosso corpo, o cão-guia é como a nossa segurança”, aponta. 

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Após 14 anos de tentativas, Estrela conseguiu ter um cão-guia, a Bella
Cadela Bella acompanhando a tutora em eventos
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A cadela Bella e a tutora Estrela

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Após 14 anos de tentativas, Estrela conseguiu ter um cão-guia, a Bella

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Cadela Bella acompanhando a tutora em eventos

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Papel do cão-guia

O treinador e instrutor de cães-guias do Corpo de Bombeiro Militar do Distrito Federal Franklin Amorim explica a importância de ter um cão-guia na vida de um deficiente visual. “A partir do momento que o cão-guia faz parte da vida do utilizador, ele leva um divisor de água, porque ele vai dar mais segurança, mais mobilidade, vai dar mais autonomia e mais liberdade. Além disso, vai fazer o deficiente parar de usar bengala para ter um companheiro, ele vai conseguir identificar os obstáculos nas vias. O animal é uma ajuda importante para quem necessita, trazendo para a vida do usuário a inclusão”, explica. 

Franklin explica que o cachorro, antes de ser enviado para um utilizador, passa pelo processo de treinamento e de socialização. “Então, o cão-guia exige uma logística enorme para começar o treinamento, são cães selecionados, tanto na parte comportamental quanto na saúde. Os animais precisam estar em perfeitas condições para adquirir conhecimentos e começar os treinos”, conta. 

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Tutora atravessando a via com a ajuda de um cão-guia
Cão-guia acompanhando o tutor pelas ruas
Cão-guia ajudando o dono a atravessar via em segurança
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Cão-guia leva o tutor em segurança para o destino

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Tutora atravessando a via com a ajuda de um cão-guia

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Cão-guia acompanhando o tutor pelas ruas

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Cão-guia ajudando o dono a atravessar via em segurança

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De acordo com o treinador, os cães nascem em instalações das escolas especializadas, enquanto alguns são adquiridos de criadores parceiros para manter uma matriz reprodutiva. “O animal nasce dentro de matrizes, passando por triagem, seleção clínica e todo processo de preparo. Por volta de quatro meses, ele já está pronto para fazer parte da sociedade como um todo, assim selecionamos um família para que o filhote seja cuidado e aprenda a se comportar socialmente em diferentes lugares. Além disso, a família socializadora também tem o direito de entrar em estabelecimentos públicos e privados conforme a Lei Federal 11.126/2005. Após as cinco fases de treinamento completo, o cachorro é aprovado e está pronto para ser selecionado para algum deficiente visual”, ressalta.

Algumas regras são necessárias para adquirir um cão-guia no Brasil:

  • Ser maior de 18 anos;
  • Ter uma deficiência visual;
  • Residir em território brasileiro;
  • Ter condições para cuidar do animal, financeiras e psicológicas;
  • Ter o curso de mobilidade — oferecido pelas instituições de treinamento.

Assim como os humanos, os animais também possuem tempo de atuação na profissão. Após 8 anos a 10 anos de trabalho, o cachorro descansa, podendo ficar com o tutor ou ser adotado por uma família que tenha afinidade.

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