Butantan alertou o governo sobre escassez de IFA, revelam documentos enviados à CPI
Instituto avisou o Ministério da Saúde sobre o problema, em fevereiro, e pediu ajuda ao governo para intervir via Itamaraty
atualizado
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São Paulo – O Instituto Butantan alertou ao Ministério da Saúde sobre atrasos na entrega de Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) em fevereiro deste ano. Em ofício encaminhado à pasta federal, o instituto informa que o carregamento previsto para janeiro só tinha chegado naquele mês.
O documento, ao qual o Metrópoles teve acesso, faz parte de um pacote entregue à CPI da Covid. O texto indica ainda que, naquela época, o governo já estava ciente de que faltaria matéria-prima para a fabricação da Coronavac e da vacina da AstraZeneca, produzida pela Fiocruz.
Em outro ofício, de 15 de abril, o Butantan volta a fazer o alerta de que a escassez de insumos poderia impactar o Plano Nacional de Imunizações (PNI). Nesse documento, o instituto pede à União ajuda junto ao governo chinês.
O atraso e a redução na previsão de entrega de IFAs foram acentuados no fim de abril. Sem o ingrediente, a produção das duas vacinas está paralisada no país.
Já no primeiro documento em que relata atraso da chegada do material, o Instituto Butantan destaca que a questão também envolve a Fiocruz e afirma que tem feito esforços em contato com a Embaixada da China para “debelar o problema”.
No segundo ofício, a instituição paulista volta a dizer que houve contato com a embaixada e que o atraso afeta, de forma significativa, a entrega de vacina em momento “particularmente crítico”.
“Solicitamos empenho do V. Ministério e, eventualmente, do Ministério das Relações Exteriores, para que sejam feitas gestões junto ao governo chinês para debelar a questão”, diz texto assinado pelo diretor do instituto, Dimas Covas.
Leia os documentos:
Ofício Instituto Butantan by Grasielle Castro on Scribd
Oficio Instituto Butantan by Grasielle Castro on Scribd
Ataques à China
Para o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), os atrasos se devem ao desrespeito do governo brasileiro em relação à China. O chefe do Executivo estadual cita falas do presidente e de seus aliados fazendo chacota do país asiático. Doria destaca que outras nações, como o Chile, não tiveram problemas com a entrega, diferentemente do Brasil.
“O mesmo laboratório, Sinovac, disponibiliza insumos para um país vizinho, o Chile, que não agride a China, que não tem o seu presidente falando mal do governo chinês, do povo chinês e de sua vacina. O fluxo é normal de entrega desses insumos para o Chile. Por que não é para o Brasil? Razões de ordem diplomática e, sobretudo, as formas desastrosas de manifestação em relação ao governo da China”, argumentou Doria em 10 de maio.
O governo brasileiro nega entraves diplomáticos. No último dia 14, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que a questão é “contratual“.
O Butantan, no entanto, assegura que o laboratório chinês Sinovac tem 10 mil litros de IFA prontos para envio. Os insumos, segundo Dimas Covas, só não foram despachados em sua totalidade por falta de liberação do governo da China.
Nesta semana, o governo chinês liberou o envio de 3 mil litros, que devem chegar no próximo dia 25 e serão suficientes para a fabricação de 5 milhões de doses. Também houve liberação de insumos para a Fiocruz, com expectativa de produção de 12 milhões de unidades do imunizante.
Na quinta-feira (20/5), o embaixador da China no Brasil, Yang Winming, afirmou que o governo chinês está comprometido com a parceria para a vacina. Winming foi vítima de racismo pelo ex-ministro da Educação Abraham Weintraub.
Em novembro do ano passado, a embaixada chinesa reagiu a ataque do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e disse que a fala traria “consequências negativas”. Na época, o filho do presidente havia acusado a China de espionagem.