SP: brunch vip de R$ 350 na Catedral da Sé ajuda sem-teto do entorno
Com fila de espera até setembro, o refinado brunch reverte o dinheiro arrecadado para parte dos milhares de moradores de rua na Praça da Sé
atualizado
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São Paulo – A Praça da Sé, marco zero da capital paulista, traz alto potencial turístico, acesso farto por transporte público e comércio fervilhante ao redor. Há muito tempo, entretanto, o espaço no centro de São Paulo mostra sinais de decadência, principalmente aos finais de semana, com pouca frequência e excesso de moradores de rua e sujeira ao redor.
Uma iniciativa da portentosa Catedral da Sé, entretanto, vem mudando a paisagem local. Em um contraste singular, o chamado Brunch da Catedral leva interessados em pagar R$ 350 por uma experiência refinada na igreja. Pede-se, inclusive, para os convidados vestirem trajes esporte fino.
O passeio inclui banquete com pratos salgados e doces, espumante, vinho, trilha sonora ao vivo com um violinista… Além disso, tem vez, depois do almoço, um tour por espaços restritos do templo, famoso por sua arquitetura, a exemplo da torre dos sinos e da cripta.
“Conseguimos atingir a alta sociedade e, com isso, atrair seu olhar para a população de rua. O centro de São Paulo ficou esquecido pela sociedade paulistana. Quando ela tem mais contato com essa realidade, começa a se movimentar para ajudar”, afirma Roseli Caceres, de 64 anos. Ela, que dirige a iniciativa de forma voluntária, é dona de uma empresa de informática e tem como lema “Deus me deu tanto, que tenho que dividir”.
Engana-se quem pensa que o preço salgado afasta o público. Mesmo com capacidade para 190 pessoas e brunchs três vezes ao mês, há fila de espera até setembro (quem quiser participar deve entrar em contato pelo telefone 11-98496-9702). A ideia é em breve expandir o negócio, com eventos também aos sábados e chás da tarde.
Moradores de rua
Da fartura do bufê interno aos moradores de rua aos montes do lado de fora. A diferença entre os dois mundos é bastante notável para quem frequenta o local. Porém, o evento está longe de ser pura ostentação. Todo o valor arrecadado é revertido para manutenção da igreja e ajuda aos sem-teto da região.
Brinca-se que a organização é um “conglomerado de Robin Hoods”, personagem que tirava dos ricos para dar aos pobres.
“Não escolhemos a localização da catedral. Não é nossa culpa esse cenário. É obrigação do poder público, de quem sempre cobramos, resolver isso”, rebate Roseli. “A igreja começou com esse projeto porque não conseguia se manter. Ela está fazendo a parte dela. Não conseguimos resolver o problema de toda aquela comunidade, mas ajudamos muito.”
Inclusive, o mesmo cardápio do evento é distribuído em marmitas para 220 moradores de rua, após o encontro. “Eles comem do melhor. Já teve salmão defumado, massas artesanais, bacalhau, carnes de diversos tipos, pães, frios…”, enumera a chef Gil Gondim, 46, responsável pelo menu dos brunches, também de forma voluntária.
A banqueteira – que por acaso é evangélica e não católica (“a ideia é sempre o amor ao próximo”, diz) – reforça que o dinheiro dos ingressos tem bom uso. “O entorno poderia estar 100 vezes pior se não fosse o trabalho sério que fazemos”, acredita.
Parte do valor arrecadado segue ainda para a distribuição de marmitas de segunda a sexta, preparadas por 11 funcionários da equipe de Gil. A comida serve necessitados atendidos pela Missão Belém, movimento nascido na Arquidiocese de São Paulo em 2005, com 180 casas de acolhida para moradores de rua.
“Não é só um dia, é um trabalho constante, para levar um pouco de dignidade, carinho e alimentação saudável para essas pessoas”, explica Gil. Ela também realiza eventos corporativos e sociais e escreve livros. “É o que o me dá dinheiro para tocar o projeto social e fazer o bem.”
Brunch
O brunch começou em 2017 de maneira discreta. Roseli participou do evento, mas viu que poderia ir além. Pediu, então, para assumir a direção e melhorá-lo. “Lembro que era dezembro e a igreja estava sem dinheiro para pagar o 13° salário de seus 21 funcionários”, conta.
“É um templo de passagem, não possui muitos fiéis para fazerem doações. Não realiza casamentos, batizados. E só tem ajuda governamental pela isenção do IPTU. Então, precisa de dinheiro para se sustentar”, explica.
A iniciativa voltou de vez em 2019 e, quando começou a decolar, bateu a pandemia. Em setembro de 2021, retornou à ativa e virou febre depois de um vídeo no TikTok (assista abaixo) sobre o projeto, com mais de 1,2 milhão de visualizações.
“O brunch fez toda a diferença. Agora, a catedral consegue manter suas contas em dia e ajudar a Missão Belém”, comemora Roseli.
@gastronomilhas JÁ IMAGINOU UM BRUNCH COM DIREITO A UM TOUR NA CATEDRAL DA SÉ? 😱😱 #Saopaulo #fy #brunch ♬ love nwantiti (ah ah ah) – CKay
Prefeitura
Em nota, a prefeitura afirmou que realiza ações diárias na Praça da Sé. “A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) informa que as equipes de orientadores do Serviço Especializado de Abordagem Social (Seas) percorrem diariamente a região da Catedral da Sé e entornos e realizam abordagens diárias à população em situação de rua ou em situação de vulnerabilidade social.”
“Somente neste ano, na região da Sé, foram inaugurados dois novos Núcleos de Convivência para a População de Rua, o Rodrigo Silva e o Boticário, com 200 vagas cada. Ao todo, a rede conta com nove núcleos dessa modalidade na região, com 1.800 vagas. Além disso, a região conta com 38 serviços e mais de 8 mil vagas de acolhimento para a população em situação de rua”, afirmou.
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