Brumadinho: Sociedade Civil monta gabinete de crise após tragédia
Ambientalistas afirmam que é preciso antecipar os riscos de uma possível falta de água na região metropolitana de Belo Horizonte
atualizado
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O rompimento da Barragem I da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), e a falta de transparência e de resoluções após a tragédia de Mariana, em 2015, geraram uma reação da sociedade civil. Foi criado nesta quinta-feira (14/2) um gabinete de crise para acompanhar as ações do governo. A organização tem entre os integrantes movimentos sociais, pesquisadores, acadêmicos e ativistas.
O grupo atua em várias frentes: reivindicação de direitos dos atingidos, denúncias sobre problemas nas indenizações, ressarcimentos e acolhimento, coleta e divulgação de informações sobre as falhas cometidas tanto pela empresa quanto no processo de licenciamento ambiental. Além disso, o gabinete de crise vai estudar os impactos ambientais e cobrar ações para garantir a segurança hídrica da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Para os integrantes, o rompimento da barragem colocou em risco o abastecimento de água em toda a região.
“O Paraopeba [Rio] já foi atingido, e a captação de água está interrompida. O Rio Manso, que hoje é a nossa alternativa, convive com a proximidade de uma barragem instável. No Rio das Velhas existem pelo menos oito barragens que não têm atestado de estabilidade. Se qualquer uma delas romper, Belo Horizonte entra em colapso hídrico, pois no caso do Rio das Velhas não há um sistema de armazenamento em represas”, denunciou o coordenador do Projeto Manuelzão, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e presidente do Fórum Mineiro de Comitês de Bacias Hidrográficas, Marcus Vinícius Polignano.
O geógrafo e especialista em direito ambiental Rodrigo Lemos explica que os três principais mananciais no sistema do Paraopeba não foram impactados diretamente, mas foi impedida a retirada de água. O líquido é bombeado para abastecer os reservatórios, que atualmente estão cheios. A preocupação é por quanto tempo.
“Houve o investimento de R$ 128 milhões para garantir a nossa segurança hídrica e para a criação desse reservatório. Mas até que seja possível controlar o nível de impacto no Paraopeba é algo que está perdido. Se esse controle demorar mais tempo, como estaremos no ano que vem?”, questiona Rodrigo.
Além disso, eles garantem que, de alguma forma, o rejeito chegará ao São Francisco. Isso por que há um sedimento mais denso contido pelo barramento e uma pluma mais leve que pode correr pelo rio. O gabinete se propõe a acompanhar todo o impacto ambiental e divulgar relatórios para que a população tenha conhecimento do dano gerado pela lama da barragem.
Críticas
Durante a apresentação do gabinete, Polignano criticou a postura do governador Romeu Zema ao tratar a tragédia como um “incidente”, quando participava de encontro com a bancada mineira na Câmara dos Deputados, na última terça-feira (12/2).
O coordenador do Manuelzão diz ser um equívoco enorme e uma falta de sensibilidade com as vítimas. “A sociedade tem muito claro: é um crime. Quero dizer ao governador que ele não está sendo sensível com a comoção que isso tem na população. Ele tem o papel de defender a sociedade e não a empresa”, afirma.
Também foram feitas uma série de críticas em relação aos processos de licenciamentos ambientais do estado e da impunidade no caso do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana. O compromisso do gabinete de crise da sociedade civil é divulgar informações e monitorar todos os desdobramentos da tragédia. O site já está no ar, mas será abastecido aos poucos. Ele pode ser acessado em: gabinetedasociedade.org.