Brumadinho: MP confirma que rompimento de barragem é crime
Investigações apontam para uma tentativa de chantagem, por parte da Vale, para a liberação dos laudos que atestaram segurança da estrutura
atualizado
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Após a conclusão de mais uma operação da força-tarefa que investiga o rompimento da Barragem I da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), ocorrido no dia 25 de janeiro, o promotor do Ministério Público no município e coordenador do grupo, William Garcia, afirmou, nesta quinta-feira (15/2) se tratar, de um crime doloso e de homicídio.
As investigações já estão avançadas e demonstram que a mineradora Vale assumiu o risco da tragédia, mesmo sabendo que a estrutura da barragem não era estável. Além disso, e-mails mostram que a empresa tentou chantagear a empresa alemã TÜV SÜD, para a emissão dos laudos que atestaram a segurança da estrutura.
“Um e-mail chave encontrado durante a investigação demonstra que a Vale pressionou a TÜV SÜD, perguntando se o laudo sairia ou não. No decorrer do texto, um funcionário da empresa menciona contratos futuros. Houve a promessa de contratos futuros como chantagem e a palavra ‘blackmail’ (chantagem em inglês) aparece no texto”, revela Garcia.
Foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão, sendo 9 deles em Belo Horizonte, 4 em São Paulo e 1 no Rio de Janeiro. Na capital mineira, a Polícia Civil efetuou buscas nas residências das oito pessoas presas temporariamente e também na casa de um funcionário da TÜV SÜD.
No Rio de Janeiro, a operação foi focada na sede da Vale, tentando entender o funcionamento do fluxo de informações dentro da mineradora e mais indícios da tentativa de maquiar o dados referentes à barragem que rompeu. Em São Paulo, os policiais entraram na casa de 4 funcionários da TÜV SÜD.
Entre as oito pessoas que foram presas temporariamente em Minas Gerais, estão quatro gerentes da Vale, dois deles administrativos e dois de área – que é um cargo mais técnico. Outros quatro funcionários ligados diretamente a área de geotécnica e à Barragem I também foram detidos.
As investigações apontam para a prática dos crimes de homicídio doloso, falsidade ideológica e diversos crimes ambientais. “Arrecadamos vários materiais importantes e foram analisados um volume enorme de equipamentos eletrônicos. Tudo o que conseguimos até agora demonstram de forma muito convincente que não se trata de um acidente”, explica o promotor William Garcia.
Alta cúpula da Vale
Eles tiveram acesso a e-mails, mensagens de texto, mensagens de áudio, telefonemas e vários documentos referentes aos investigados e à Barragem I. Quanto à alta cúpula da Vale, o promotor explicou que a difusão de responsabilidades ainda está confusa, o que dificulta chegar a todos os culpados.
Com a documentação colhida no Rio de Janeiro, a equipe vai analisar o organograma da empresa e todos os fluxos para entender exatamente quem é responsável ou não pelo crime cometido no dia 25 de janeiro deste ano.
Todos os presos na operação já foram encaminhados para o sistema prisional. Os homens estão detidos na Penitenciária Nelson Hungria e as mulheres, no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto. Apenas duas pessoas foram ouvidas nesta sexta, mas os interrogatórios continuarão ao longo da próxima semana.
Moradores da comunidade afetada e outros funcionários também serão ouvidos. A força-tarefa reforça o pedido de que todos, mesmo que funcionários da empresa, devem falar abertamente sobre o ocorrido e garantiu que haverá medidas de segurança para os que forem ouvidos pela polícia.
Maquiar os números
Quanto aos e-mails, houve um grande esforço por parte da Vale e da TÜV SÜD para maquiar os números e omitir o estado crítico da barragem. Mas eles mostram que era do conhecimento de todos a não estabilidade da mesma. “Ocorreu um conluio para apresentar declarações de estabilidade que não refletiam a situação crítica que todos os envolvidos já tinham conhecimento”, ressaltou o delegado Bruno Tasca, que integra a força-tarefa pela Polícia Civil.
As investigações continuam, mas o promotor William Garcia garantiu que até o momento não foi encontrada nenhuma prova direta de que o presidente da empresa sabia da insegurança da barragem ou da tentativa de chantagem com a TÜV SÜD.