Brumadinho: bombeiros e voluntários usam cajados e se arrastam na lama
O suporte é utilizado para que eles não afundem enquanto procuram corpos e sobreviventes da tragédia ocorrida na sexta-feira (25/1)
atualizado
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Enviados especiais a Brumadinho (MG) – “Estou me guiando pelo cheiro. Como já tem quatro dias, acho que assim vai ser mais fácil encontrar.” Esse relato triste, quase mórbido, foi feito pelo agricultor aposentado Jair Ferreira dos Santos, de 60 anos, que caminha há três dias em busca do corpo do irmão, Paulo Santos, 40, que morava em um sítio próximo à barragem que se rompeu na última sexta-feira (25/1).
Sem muita esperança na fala, ele busca apenas a dignidade de poder enterrar o corpo do irmão. Na sua avaliação, dada a proximidade entre o sítio e a barragem, a propriedade deve ter sido a primeira a ser atingida após o rompimento. Até por isso, ele conta, restaram poucas esperanças.
Com um grande pedaço de madeira na mão, usado como cajado, Jair caminha. Mesmo com pouca força física restando para caminhar, o aposentado diz que não vai desistir de pelo menos enterrar o corpo de Paulo.
“Presto atenção no vento. Viu como aqui tem um cheiro forte?”, perguntou para a reportagem. “Ele pode estar soterrado bem aqui”, disse, fincando a madeira na montanha de rejeitos.
Processos
Santos não é o único que adotou o cajado como ferramenta de buscas. Os bombeiros militares que fazem os resgates na região aderiram à mesma prática para não afundar, já que a lama está fofa, e, ademais, para perfurar a terra em busca de corpos que não estão na superfície. No meio do processo, é necessário arrastar-se na lama.
Os bombeiros estimam que os trabalhos durem ao menos até julho. A corporação explica que o serviço está sendo feito em etapas. Primeiramente, os helicópteros sobrevoam a região à procura de pessoas ou animais.
Caso vejam algo, uma equipe vai até o local e coloca o corpo em macas ou sacos pretos. Posteriormente, uma outra aeronave os recolhe e encaminha até à igreja de Nossa Senhora das Dores, onde os peritos fazem uma limpeza superficial dos cadáveres e os levam para o Instituto Médico Legal (IML) de Belo Horizonte.
Há dois pontos de apoio em Brumadinho. O primeiro está na igreja do Córrego do Feijão, a Nossa Senhora das Dores. Os resgates estão concentrados lá. O Corpo de Bombeiros de Minas Gerais recebe o apoio de militares de Goiás, Rio de Janeiro, Maranhão, Alagoas, Pará e Espírito Santo.
A outra base está na faculdade ASA, na entrada da cidade de Brumadinho. Esse segundo local funciona como apoio técnico para possíveis retiradas de moradores que ainda estão em áreas de risco.
Peritos ouvidos pela reportagem explicaram que a identificação dos corpos está difícil devido à decomposição. Eles estão colhendo materiais biológicos, pois muitos não possuem mais as impressões digitais.
Desastre
A barragem Mina Feijão, em Brumadinho (MG), rompeu-se por volta das 13h de sexta-feira (25/1). O vazamento de lama fez com que uma outra barragem da Vale transbordasse. O restaurante da companhia foi soterrado. O prédio administrativo também foi atingido.
A lama se espalhou pela cidade e moradores precisaram deixar suas casas. Equipes de bombeiros e da Defesa Civil foram mobilizadas para a área e estão em busca de vítimas. Tanto o governo federal quanto o local montaram gabinetes de crise e deslocaram autoridades para a região.
Veja fotos da tragédia de Brumadinho (MG):