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Brumadinho: agricultores da região não conseguem escoar a produção

Medo de contaminação e falta de acesso fazem com que a agricultura familiar em Brumadinho seja comprometida

atualizado

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Bárbara Ferreira/Especial para o Metrópoles
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1 de 1 personagem brumadinho - Foto: Bárbara Ferreira/Especial para o Metrópoles

A lama da Barragem I, da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), afetou grande parte da zona rural do município. Nas imediações, a agricultura familiar é uma das principais fontes de renda de várias famílias, que mesmo sem serem atingidas diretamente pela tragédia, estão com os produtos parados há, pelo menos, 15 dias.

Isso porque as estradas estão obstruídas pelo rejeito, sem contar o medo de contaminação entre a comunidade. Clientes deixam de comprar e, assim, escoar a produção passa a ser um desafio. A maior parte das trabalhadoras impactadas são mulheres e elas se articulam em um grupo para discutir a situação.

“Isso também é um crime contra os que restaram. Pessoas estão rompendo os contratos com a gente por medo de comer o que é produzido na cidade. Muitos usam água de mina para as hortaliças, mas o alarde que tem sido feito causa um medo generalizado. Além disso, eu escoava a produção em Brumadinho, mas agora tenho que dar a volta e andar 100km para chegar ao centro da cidade. Antes, percorria apenas 10km”, denuncia a agricultora Maria Betânia da Silva, 45 anos.

Para ela, falta esclarecer que Brumadinho não acabou e parte da cidade precisa viver e trabalhar. O prejuízo indireto dela já chega na casa dos R$ 30 mil. Isso porque além das hortaliças, ela tem uma criação de peixes que sai de três em três meses. A última foi antes do rompimento da barragem e está toda parada. “Vendia para restaurantes em Belo Horizonte, mas agora ninguém mais compra. E os peixes são de cativeiro, sem nenhum contato com o rio ou com a lama”, explica.

Além disso, ela usa uma tecnologia chamada aquaponia — uso dos resíduos e água dos peixes para as hortaliças — e explica que antes mesmo da chegada dos rejeitos, a água do rio não era a melhor opção para as hortaliças. Maria Betânia mora no bairro Alberto Flores, na região do Parque da Cachoeira, uma das mais atingidas pelo mar de lama.

“A sensação é de que a Vale desapareceu. Fomos atingidas indiretamente e não sei até agora qual será o tipo de ressarcimento que receberemos. Está tudo prejudicado. As pessoas acham que não podem consumir mais nada da região. Eu realmente não sei o que vou fazer a partir de agora”.

A agricultora trabalha em uma propriedade familiar e, junto com o marido, tira do trabalho no campo o sustento da família. Maria Betânia afirma já ter procurado as equipes da Vale que fazem o cadastramento dos atingidos e aguarda algum posicionamento da mineradora. A empresa já iniciou o processo de pagamento de doações para as vítimas e desaparecidos, no valor de R$ 100 mil, para quem perdeu a casa, de R$ 50 mil, ou o emprego, de R$ 10 mil.

A saída encontrada por Maria Betânia e outros agricultores foi a articulação de um grupo e a proposição de uma reunião, marcada para a noite desta segunda-feira (11/2), para que a reivindicação seja feita coletivamente e para pensar alternativas no escoamento e venda dos produtos que estão parados.

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