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Lula aprofunda aliança com Rússia e China para contrapor EUA e Europa

Cúpula dos Brics terminou com promessa de moeda de negócios que dispute com o dólar e a inclusão de seis novos membros no bloco

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Chefes de Estado dos Brics
1 de 1 Chefes de Estado dos Brics - Foto: Ricardo Stuckert/PR

O bloco Brics sai de sua 15ª reunião de cúpula ampliado no número de membros e na ambição de ter mais voz no debate econômico com os países ricos. Encerrado nessa quinta-feira (24/8) em Joanesburgo, na África do Sul, o encontro de chefes de Estado avançou em tratativas por uma moeda comum para negócios entre os países emergentes. A reunião serviu ainda para buscar interesses em comum entre 11 nações de diferentes partes do mundo.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), celebrou o apoio dos demais membros do Brics a uma pauta que ele traz de seus outros mandatos: a reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

“Estamos brigando há mais de 20 anos nisso. Entendemos que a geopolítica de hoje não tem nada a ver com a de 1945 [quando a ONU foi criada]. É importante que a ONU tenha representatividade, que possa deliberar coisas que as pessoas acatem, que as pessoas obedeçam, sobretudo nesse momento que a gente discute a questão climática”, disse o petista, em entrevista coletiva antes de deixar Joanesburgo e ir para Luanda, capital de Angola, onde continua o tour pela África. O mandatário ainda vai passar por São Tomé e Príncipe.

Vitória para Rússia e China

No noticiário internacional, o resultado da cúpula do Brics está sendo visto como uma grande vitória diplomática para a China, que ganhou mais apoio em sua disputa econômica com os Estados Unidos, e para a Rússia, que rebate a sensação de isolamento mundial como consequência de sua guerra contra a Ucrânia.

Foram convidados a entrar no Brics a Argentina, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes, o Egito, a Etiópia e o Irã. Havia 22 pedidos oficiais de países para ingressar no grupo, e seus membros originais (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) deixaram as portas abertas para novas entradas.

O incremento do Brics majoritariamente com ditaduras incomodou a diplomacia brasileira, que teme o enfraquecimento de pautas ligadas a direitos humanos e mudanças climáticas nas decisões tomadas em grupo. Mas o Brasil cedeu (principalmente aos pedidos da China) em troca do apoio geral no sentido de pressionar a ONU por reformas na governança.

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Dilma e Lula na posse do Banco dos Brics
Lula na Cúpula do Brics, em Joanesburgo
Cúpula do Brics em Joanesburgo
Brics faz sua reunião anual na África do Sul
Lula na África do Sul
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Lula e Janja na chegada a Joanesburgo

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Dilma e Lula na posse do Banco dos Brics

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Lula na Cúpula do Brics, em Joanesburgo

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Cúpula do Brics em Joanesburgo

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Brics faz sua reunião anual na África do Sul

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Lula na África do Sul

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Promessas e dúvidas

O cientista político Julián Durazo-Herrmann, pesquisador e professor na Universidade do Quebéc em Montreal (UQAM), no Canadá, avalia que o crescimento do Brics é “um fato significativo na dimensão geopolítica, pois incomoda a pretendida hegemonia global dos Estados Unidos”.

“O fato de vários países desejarem se juntar ao Brics enquanto há uma guerra da Rússia contra a Ucrânia e uma disputa entre China e EUA mostra que há muitos descontentes com as posições americana e europeia no balanço de poder”, afirma Durazo-Herrmann, que pesquisa a política da América Latina, em entrevista ao Metrópoles.

Por outro lado, ainda há um longo caminho pela frente, alerta o cientista político, para que o Brics signifique uma ameaça real à hegemonia dos países da América do Norte e Europa. “A cúpula trouxe muitas promessas, além de muitas dúvidas. A entrada de países grandes e diferentes pode fortalecer, mas também pode esvaziar o poder de decisão do grupo”, ressalta Durazo-Herrmann.

Em sua análise dos resultados da cúpula, o pesquisador sublinha ainda que, se do ponto de visto geopolítico, o Brics apresenta resultados, com a inclusão de novos membros, na dimensão econômica, que motivou a criação do bloco há quase duas décadas, não houve grande avanço este ano.

A principal promessa é que as equipes econômicas dos membros vão trabalhar para criar a proposta de uma moeda que sirva para os sócios negociarem entre si, ficando menos dependentes do dólar. Os chefes de Estado do grupo só irão se debruçar sobre o tema na próxima reunião de cúpula, já marcada para a Rússia, em 2024.

Repercussão

O The New York Times, principal jornal do país que tem a hegemonia desafiada pelo Brics, ouviu analistas que não se assustaram muito com a ampliação do bloco. Tom Lodge, professor de estudos sobre paz e conflitos na Universidade de Limerick, disse ao jornal que o plano para que o Brics se torne uma organização real está em processo de construção. No entanto, tem ainda um longo caminho a percorrer.

O jornal norte-americano também apontou que os países que se juntaram ao Brics “não têm nenhuma coerência política clara, exceto no desejo de remodelar o atual sistema financeiro e de governo global para um que seja mais aberto, mais variado e menos restritivo – e menos sujeito às políticas americanas”.

Um outro analista ouvido pelo NYT disse que a inclusão do Irã, inimigo dos EUA, “é um problema” e que mesmo alguns dos outros membros do Brics “temem que isso possa aumentar as tensões geopolíticas com as potências ocidentais”.

Lula foi confrontado com perguntas sobre a inclusão de ditaduras no grupo na entrevista em Joanesburgo e respondeu que as adesões foram guiadas pela importância geopolítica dos países.

“Não podemos negar a importância geopolítica desses países”, disse o presidente brasileiro. “O Irã é um país importante, fico muito feliz quando vejo que o Irã está conversando com o mundo árabe, está tentando se colocar de acordo com a Arábia Saudita… Isso é uma mudança de comportamento da humanidade. A gente vai vivendo, vai apanhando e vai aprendendo”, argumentou Lula.

“Ninguém pode negar a importância mundial da China”, frisou Lula. “Se teve alguém que tirou proveito da ganância do capitalismo, foi a China. Nos anos 1970 e nos anos 1980, quando o capital ia para a China atrás de trabalho escravo, a China soube tirar proveito dessa ganância e se transformou num dos países mais desenvolvidos do mundo do ponto de vista científico e tecnológico. E o PIB chinês já passou ou vai passar o PIB americano. Então, são países que não podem ficar fora de qualquer agrupamento político que se queira fazer, seja para discutir economia, seja para discutir ciência e tecnologia, seja pra discutir cultura”, concluiu o presidente brasileiro.

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