Brasileiro repatriado relata saída “cinematográfica” de Kiev
Rony de Moura dos Reis é estudante de medicina e morava na Ucrânia havia três anos. Ele foi um dos resgatados pela FAB nesta semana
atualizado
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O brasileiro Rony de Moura dos Reis, natural de Niquelândia (GO), foi um dos 43 brasileiros resgatados pela Força Aérea Brasileira (FAB) em aeronaves que desembarcaram nesta quinta-feira (10/3), em Brasília, fugindo da guerra na Ucrânia. Rony é estudante de medicina e morava naquele país havia três anos, depois de uma temporada na Rússia.
Ele e os outros que saíram da Polônia foram recebidos na Base Aérea de Brasília pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras autoridades. Em conversa com a imprensa, Rony relatou a situação vivida nos últimos dias. O estudante disse ter escutado duas bombas caindo próximo do local em que morava, em Kiev, e falou da dificuldade em comprar mantimentos em supermercados, devido ao racionamento.
“Estava horrível, estava horrível. A gente não conseguia entrar no supermercado. Tinha filas gigantescas. Estavam racionando [mercadorias]. As pessoas não podiam comprar muitas coisas.”
Sobre a saída da capital ucraniana, ele disse ter passado por momentos de tensão.
“Na fronteira da Varsóvia foi dramático, porque nós tínhamos o apoio da embaixada, então, a gente conseguiu atravessar. Porém, o pessoal que estava lá [na fronteira] formava uma fila gigantesca para pode sair. Eram só crianças e mulheres. Homens a gente não via”, afirmou o estudante.
“A saída foi algo cinematográfico. Quando chegamos de Lviv… Saímos de Kiev, eu e um grupo de quatro brasileiros. Saímos de Kiev. (…) É uma trajetória que tem cerca de 540 quilômetros. Levamos 13h de Kiev para Lviv. E quando chegamos lá fomos recebidos no hotel da embaixada e tivemos todo o apoio possível que eles poderiam proporcionar pra gente. De Lviv para a fronteira foi mais tranquilo. Nós tínhamos escolta policial, a Cruz Vermelha, tínhamos cinco carros levando todos os grupos de brasileiros que vieram com a gente. Então, quando cruzamos a fronteira, foi só tranquilidade”.
O brasileiro agradeceu o apoio do diplomata Norton de Andrade Mello Rapesta, embaixador do Brasil na Ucrânia. “Gostaria de deixar ressaltado aqui o excelente trabalho do embaixador Norton. Fez um excelente trabalho, não apenas conosco mas com todos os brasileiros que estavam lá. Então tenho que ressaltar e agradecê-lo.”
Operação Repatriação
Dois aviões da FAB, um KC-390 Millennium e um VC-99B Legacy, buscaram brasileiros e estrangeiros que fugiram da guerra na Ucrânia. Antes do pouso, os aviões foram escoltados por caças militares.
Segundo a FAB, a Operação Repatriação transportou 43 brasileiros, 19 ucranianos, cinco argentinos e um colombiano. Do total dos 68 resgatados, 16 eram crianças, sendo 12 brasileiras, três ucranianas e uma argentina. Oito cães e dois gatos também retornaram ao Brasil. Todos os que estavam nas aeronaves foram recepcionados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), a primeira-dama Michelle Bolsonaro e outras autoridades do governo.
Inicialmente, apenas o KC-390 havia sido escalado para fazer o retorno dos cidadãos ao Brasil, mas o Legacy foi cedido pelo governo federal para transportar 11 passageiros, incluindo uma grávida e duas famílias com crianças de colo, uma vez que a aeronave é mais confortável.
O KC-390 pousou em Varsóvia, na Polônia, na quarta-feira (9/3), e começou o retorno ao Brasil no mesmo dia. Antes de o grupo chegar ao Distrito Federal, foram feitas escalas em Lisboa (Portugal), Cabo Verde (África) e Recife (Pernambuco). Na capital pernambucana, cinco dos 68 passageiros desembarcaram. O restante seguiu para Brasília.
No voo de ida, foram levados 11,6 toneladas de medicamentos para atendimento emergencial, alimentos e itens de necessidade básica com tecnologia para funcionamento autônomo – usados em locais sem recursos e em situações extremas, como guerras e conflitos.
Veja imagens do desembarque:
“Alívio”
Rony classificou o retorno ao Brasil como um “alívio”, mas pontuou: “Ao mesmo tempo eu estou um pouco preocupado com os ucranianos que eu conheço. Por exemplo, o dono da ex-casa que eu vivia lá de aluguel, ele não entra na internet tem 10 dias mais ou menos. E eu não sei onde eles estão. São pessoas que eu realmente conheço, que eu tive um convívio”.
“Eu estou tranquilo, estou aliviado, mas eu estou preocupado com as pessoas que eu conheço lá”, completou.
O estudante disse que sua situação está incerta porque ele trabalha remotamente, mas pode haver uma mudança que o obrigue a voltar para a Ucrânia. “Ainda tem um curso de medicina que ainda está pendente também. É tudo muito incerto. Não tem nada de certeza por enquanto”, concluiu.
O estudante afirmou que a primeira coisa que fará no Brasil será “dar um cheiro” em sua namorada. Agora, ele tem a intenção de permanecer no Brasil e transferir o curso de medicina para concluir em seu país.