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Brasileira de 16 anos vai à Grécia para ajudar refugiados

Segundo Gabriela Shapazian, a questão dos refugiados é hoje um problema mundial, onde todos devem ajudar e não virar as costas

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Arquivo pessoal
brasileira refugiados
1 de 1 brasileira refugiados - Foto: Arquivo pessoal

A paulistana Gabriela Shapazian, está encerrando o ensino médio com um único pensamento, passar o maior tempo possível se dedicando a crise dos refugiados na Europa. Por conta disso, pela terceira vez, a jovem de 16 anos, embarca em novembro para ser novamente voluntária na Grécia auxiliando migrantes, especialmente da Síria, Afeganistão e Paquistão que chegam debilitados em botes e barcos precários fugindo da Guerra rumo à Europa.

Segundo Gabriela, a questão dos refugiados hoje é um problema mundial, onde todos devem ajudar e não virar as costas como a jovem diz que está acontecendo.

“São pessoas que precisam da ajuda de todos nós, é um problema de todos. É um problema humanitário, e nós como humanidade viramos as costas completamente para os refugiados. Todos os políticos, a ONU, todas as organizações maiores, com exceção dos Médicos Sem Fronteiras não estão fazendo nada na crise. São pessoas que nem eu e minha mãe, que largamos absolutamente tudo e foram lá para ajudar.”

Para custear as viagens, a jovem e a mãe lançaram o projeto ‘Flores para os refugiados’, onde fazem arranjos de flores em garrafas decoradas e as vendem no Armazém da Cidade, no bairro da Vila Madalena, em São Paulo por valores entre R$ 15 a R$ 25. “Hoje é o grande projeto meu e da minha mãe. Nós reciclamos garrafas de vidro, decoramos essas garrafas e montamos arranjos de flores e vendemos. A cada R$ 15 que arrecadamos, R$ 9 são meus para que consiga me manter lá, enquanto eu faço esse trabalho voluntário, porque até agora todo dinheiro que a gente gastou saiu do nosso bolso.”

Ao falar como é ser uma voluntária no auxílio aos refugiados nas duas vezes em que foi para a Grécia, a primeira vez em dezembro de 2015, quando ficou na Ilha grega de Lesbos, e da segunda vez em junho este ano, quando voltou sozinha para lá, a jovem conta que não há uma rotina certa para dar auxílio aos migrantes e que as duas viagens foram muito diferentes. Por conta das muitas ações, ela e a mãe quase não se encontraram.

“A primeira vez que fui com minha mãe, passamos 45 dias em Lesbos, entre dezembro (2015) e janeiro (2016) e foi uma época onde ainda tinham muitos barcos chegando. Nós trabalhamos com o recebimento dos barcos e era uma loucura. Nós não tínhamos horário. Eu estava lá (de prontidão) toda vez que tinha um barco chegando. Se tinha um barco chegando às 2 da manhã, eu acordava para ir ajudar. Eu acordava sempre muito cedo, era uma das primeiras pessoas a chegar no campo dos refugiados, eu organizava tudo e esperava os primeiros barcos. À noite quando tinha barcos chegando era hora de fazer sanduíches, e fazíamos 500 a 800 sanduíches para ficarem prontos para o dia seguinte. Eu e minha mãe, nós nunca estávamos juntas, porque tinha tanta coisa acontecendo, e a ajuda era necessária em tantos lugares que eu ia para um lado e minha mãe para outro.”

Gabriela Shapazian auxiliando um refugiado Entre os momentos mais marcantes da última viagem, a jovem Gabriela ressalta o atendimento na chegada dos barcos, onde em estado de choque os migrantes recebiam o primeiro acolhimento, que lhes traziam de volta a alegria para seguir viagem. “Quando um barco chegava grande parte dos refugiados estavam em choque, todos chorando, só que isso começava a se transformar em uma alegria muito grande, porque eles estavam vivos ao passar pela parte mais difícil da travessia deles. Os voluntários que estavam trabalhando com o recebimento dos barcos, distribuição de roupas para os homens e mulheres, trocar as crianças e bebês, depois distribuir comida, das informação para as pessoas antes delas seguirem viagem, nós vivemos os momentos mais felizes com os refugiados.”

Por outro lado, a estudante também teve que contornar momentos difíceis, como presenciar a morte de pessoas que não sobreviveram a travessia até a Grécia, mas era preciso dar continuidade ao trabalho de auxílio, principalmente aos menores que faziam a viagem sozinhos. “Eu aprendi muito bem a lidar com as dificuldades que eu encontrava todo dia. Eu vi gente morrendo de frio na minha frente, só que não dava para parar tudo e pensar naquela situação, porque tinham outros 10, 15 barcos chegando e outras centenas de pessoas que precisavam de ajuda. Eu tive um aprendizado muito grande em como lidar com essas tragédias, mas no geral o que mais me toca hoje são os menores desacompanhados, as crianças e adolescentes que estão fazendo essa viagem sozinhos, pois as famílias não tem condições de bancar para que todos consigam sair do país de onde eles moram.”

De acordo com Gabriela Shapazian, hoje poucos barcos chegam nas ilhas gregas, e cerca de 70 mil refugiados estão presos em campos militares na Grécia por causa do fechamento da fronteira com a Macedônia, com isso, a jovem falou das experiências de afeto, que acabam surgindo no dia a dia dos acampamentos, entre os voluntários e os refugiados, onde muitas vezes eles se tornam parte da família migrante.

“Da segunda vez que eu fui para a Grécia, em junho/julho, eu passei todo o meu tempo trabalhando com os refugiados que estão em campos militares, ocupações anarquistas, um campo informal, porque eu peguei o último campo informal na Grécia antes dele ser evacuado, e é um centro de detenção, onde o trabalho é ficar com os refugiados, mostrar para eles, que eles estão sendo vistos, porque eles foram abandonados por todos, e aí chega um grupo de voluntários para jantar com eles, escutar as histórias, comer a comida deles, isso significa muito. Eu fiquei tão próxima de uma família síria, que está morando em um campo militar no Norte da Grécia, que eles não me deixavam ir embora. Eu dormi nesse campo duas noites, porque eles não queriam que eu fosse embora. Hoje eu converso com eles quase todo dia.”

Na terceira viagem como voluntária na crise dos refugiados, que começa em novembro, Gabriela diz que não tem rumo certo, mas quer tentar chegar na França, antes da evacuação do maior campo de refugiados hoje na Europa, mas quando voltar, já decidiu que vai fazer faculdade de psicologia, para dar seguimento ao seu trabalho humanitário, especialmente com os menores desacompanhados que estão em busca de um novo lar fora de seu país de origem e longe de suas famílias.

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