Brasil tem 3.775 vias públicas que homenageiam líderes e torturadores da ditadura militar
São ruas, travessas e avenidas que têm em seus nomes aqueles que figuram como responsáveis por crimes cometidos durante a ditadura militar
atualizado
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Em 3.775 vias públicas do país, indivíduos que estão na lista de torturadores e responsáveis por crimes cometidos durante a ditadura militar são homenageados. A relação de nomes consta no relatório final da Comissão Nacional da Verdade, de 2014, e aponta 377 pessoas como responsáveis diretas ou indiretas pela prática de tortura e assassinatos no período entre 1964 e 1985.
Ruas, travessas e avenidas homenageiam figuras como o general de Exército e presidente da República (1969-1974) Emilio Garrastazú Médici, que criou em seu governo os Destacamentos de Operações de Informações-Centros de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), usados para coordenar o combate a opositores políticos no país.
Outro homenageado é o marechal do Exército Castello Branco, primeiro a assumir o governo do país após a deposição do então presidente eleito democraticamente, João Goulart, o Jango, em 1964. Castello Branco é o nome mais recorrente em ruas de cidades do Brasil: são 351 vias.
Foi Jango que teve o nome vetado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nesta quinta-feira (14/10).
Bolsonaro vetou integralmente o projeto de lei que nomeava o trecho da BR-153 de Rodovia Presidente João Goulart. O trecho, de 3,5 mil km, vai do município de Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul, a Marabá, no Pará. O veto foi publicado na edição desta quinta-feira (14/10) do Diário Oficial da União (DOU).
Na justificativa para o veto, Bolsonaro afirmou que a proposição legislativa contraria o interesse público e disse que a homenagem era “inspirada por práticas dissonantes da democracia”.
“Tal medida é inoportuna por não considerar as especificidades e as peculiaridades de cada estado. Além disso, entende-se que escolher homenagear apenas uma figura histórica poderia representar descompasso com os anseios e as expectativas da população de cada unidade federativa abrangida pela rodovia”, diz o governo em mensagem ao Congresso Nacional.
Veja o mapa com todas as vias públicas que homenageiam os acusados por crimes na ditadura:
Em seu perfil no Twitter, Cristopher Goulart, neto do ex-presidente, afirmou que o veto representa “a contradição tosca e patética dos tempos em que vivemos”.
“Tempos estes em que um apoiador de torturadores e de regime militar veta um presidente marcado na história justamente por defender a democracia plena e as reformas de base. De outra sorte, não surpreende, pois, Bolsonaro representa a antítese do projeto de país de Jango”, escreveu Cristopher Goulart.
O levantamento com o nome das ruas foi realizado pelo (M)Dados, núcleo de análise de grande volume de informações do Metrópoles, com base na lista de endereços publicados pelo OpenStreetMap, plataforma colaborativa com informações sobre localizações geográficas e endereços. Também foi utilizado como base para o levantamento, partes de códigos de programação utilizadas nesta reportagem publicada pela Agência Pública.