Brasil sofreu com ondas de calor e desastres pelas chuvas em 2023
Brasil registrou desastres naturais: ondas gigantes, vendavais, tempestades, incêndios e seca histórica. E recordes de altas temperaturas
atualizado
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O litoral carioca é atingido por ondas gigantes, São Paulo fica às escuras devido a um vendaval com força de furacão, Manaus enfrenta tempestades de areia, o Rio Grande do Sul sofre com enchentes que destroem ruas, enquanto rios amazônicos secam abruptamente. De outro lado, países da América do Norte, Europa e Ásia – e o Brasil – registraram novos recordes de temperatura por causa da onda de calor extremo que atinge o planeta.
As ondas de calor foram causadas principalmente pelo agravamento das mudanças climáticas, provocadas pela emissão de gases de efeito estufa e destruição das reservas nativas. Não tem jeito: seja por temporais, seja por calor, o brasileiro sofreu em 2023.
E o cenário comprova: 2023 foi o ano em que o Brasil mais enfrentou desastres naturais. Segundo os dados do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil, até o começo de novembro, 1.958 cidades entraram em situação de emergência por crises ambientais.
E segundo o Sistema Integrado de Informações sobre Desastres do governo federal, foram 515,8 mil desalojados, 93,2 mil desabrigados e 7,9 mil mortos.
Confira, abaixo, os principais desastres naturais que afetaram o Brasil em 2023.
Ondas gigantes no Rio
No dia 5 de dezembro, a orla carioca foi atingida por ondas de até 5 metros de altura, que invadiram as pistas da zona sul do Rio de Janeiro. Banhistas distraídos foram pegos de surpresa e um adolescente de 16 anos morreu afogado ao ser arrastado pelas ondas.
Leonardo Tavares da Silva, de 16 anos, morreu em decorrência das ondas que atingiram a praia de Ipanema. Depois de quatro dias de buscas, seu corpo foi encontrado na altura do Posto 8, em Ipanema, na zona sul do Rio, pelo Corpo de Bombeiros.
A cidade havia sido atingida por uma frente fria dias antes. Com ela, um ciclone-bomba se formou no oceano Atlântico Sul, causando as ondas. A meteorologista Hana Silveira, do Climatempo, falou sobre as razões do fenômeno, na época.
“O ciclone extratropical provocou a intensificação e persistência dos ventos em uma área no mar, que chamamos de pista, o que resultou na formação de grandes ondas que chegaram ao litoral do Rio de Janeiro, configurando a ressaca, que é quando as ondas chegam a partir de 2,5 metros na costa. É como um ventilador numa piscina, por exemplo, que faz com que as ondas aumentem naquele espaço, como aconteceu em maior proporção no mar”, explicou a meteorologista.
As câmeras de vigilância do Centro de Operações Rio (COR) registram a intensidade das ondas ao longo da orla do Rio:
🌊AVISO DE RESSACA VIGENTE!
Se liga, família! Mar nada convidativo.
Praia? Só pelas câmeras👀#CORRio pic.twitter.com/8FOa6Sm2GR
— Centro de Operações Rio (@OperacoesRio) April 3, 2023
São Paulo na escuridão total
Em novembro, parte do estado de São Paulo foi atingida por chuvas fortes. O temporal, com rajadas de vento de 100 km/h, causou seis mortes devido à queda de árvores, muros e paredes.
Foram os maiores ventos já registrados na capital paulista, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da Prefeitura de São Paulo, que monitora esses dados desde 1995. Somente na capital paulista o Corpo de Bombeiros recebeu 1.281 chamados para quedas de árvores.
As tempestades afetaram a infraestrutura elétrica da capital, o que resultou na interrupção do fornecimento de energia para dois milhões de endereços em 24 cidades da região metropolitana de São Paulo, incluindo a própria capital. A falta de eletricidade afetou também o abastecimento de água, com a paralisação das bombas.
Os bairros de Capão Redondo e Campo Limpo, localizados na zona sul da cidade, enfrentaram uma situação crítica, ficando mais de 70 horas sem eletricidade. Moradores dessas áreas relataram prejuízos em comércios e perdas de alimentos devido à falta de refrigeração.
A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) estimou que o apagão levou a prejuízos de até R$ 126 milhões. E, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), 15% dos comerciantes na cidade foram afetados pela falta de luz.
Veja:
Quatro dias depois do vendaval, várias regiões ainda continuavam sem luz.
A concessionária privada italiana Enel, responsável pelo fornecimento de energia em São Paulo, reconheceu, em nota, a gravidade da situação, destacando que o vendaval ocorrido em 3 de novembro foi o mais forte em anos, causando danos significativos à rede de distribuição. A empresa afirmou, na época, que a prioridade seriam os trabalhos de reparo nas áreas mais críticas, especialmente aquelas que envolvem serviços essenciais.
Tempestades de areia e de fumaça
Uma tempestade de areia atingiu Manaus, capital do Amazonas, no começo de novembro. Assustados com o fenômeno, moradores registraram em vídeo o momento em que a grande nuvem de poeira parecia engolir casas e edifícios.
A tempestade de areia se aliou à seca histórica que atinge o estado do Amazonas até o momento. A falta de chuvas tem agravado os incêndios florestais, resultando na propagação de fumaça por vários municípios do estado.
Apenas em outubro, o Amazonas registrou 3.858 focos de incêndio, representando o maior número para o mês desde 1998, quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) começou a monitorar esses eventos.
O sistema desenvolvido pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) para medir a qualidade do ar em Manaus, chamado de “Selva”, considerou o ar da região como pior do mundo, na época.
Os níveis de Qualidade do Ar (IQAr) superaram os 400 ug/m3 (micrograma por metro cúbico), com base em um cálculo que usa como referência a resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). Acima de 125 ug/m3, o nível de poluição já é considerado péssimo.
Desde junho, o volume mensal total de chuva não chegou a 100 mm, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Destruição por ciclones e tempestades
Os temporais que castigaram o Rio Grande do Sul no ano de 2023 causaram destruição em 177 cidades, deixando 24.963 pessoas desalojadas e 3.351 desabrigadas, segundo a Defesa Civil do estado.
Cidades como Eldorado do Sul sofreram com altas dos níveis dos rios. Em Porto Alegre, o rio Guaíba atingiu o nível máximo e em apenas dois meses superou a marca histórica duas vezes.
Entre os meses de junho e setembro, o estado ainda foi alvo de nove ciclones, causando enchentes e deixando um rastro de estrago em mais de 100 cidades.
No dia 4 de setembro, um desses ciclones deixou 51 mortos e 8 desaparecidos, além de vários prédios públicos e moradias completamente arrasadas no Vale do Taquari (RS). Entre perdas habitacionais, no setor privado e nos órgãos públicos, a Confederação Nacional de Municípios (CNM) estima em R$ 1,3 bilhão o total do prejuízo.
Seca histórica na Amazônia
O aumento das temperaturas devido às mudanças climáticas intensificou a seca severa que afeta especialmente os arredores de Manaus. A Amazônia sofreu com a pior estiagem em 40 anos. O Rio Negro, afluente do Rio Amazonas, teve em outubro os níveis mais baixos já registrados.
Incêndios florestais avançaram em locais em que os cursos de água recuaram, aumentando drasticamente os efeitos da seca. Cidades e vilas ribeirinhas ainda estão racionando água. E vários animais, como o boto cor-de-rosa, lutam para sobreviver em meio à ameaça de extinção.
Um reportagem do jornal americano The Washington Post destacou o perigo da Amazônia não conseguir se recuperar dos danos, se transformando em uma savana no futuro.
“A floresta pode se recuperar de uma seca e ser atingida por outra”, afirma Chris Boulton, do Instituto de Sistemas Globais da Universidade de Exeter. “Se isso acontecer, pode demorar mais para voltar ao normal e, eventualmente, chegar a um ponto em que não será possível voltar à normalidade”.
El Niño e o último verão fresco
Ao longo do segundo semestre deste ano, o fenômeno conhecido como El Niño alterou o clima no Brasil e ajudou a causar os desastres. O El Niño é um padrão climático natural que tem ligação com o aquecimento da superfície do Oceano Pacífico tropical central e oriental. E ocorre em intervalos de dois a sete anos, em média, podendo durar de nove a 12 meses.
O problema é que as atividades humanas têm alterado a força do evento, desencadeando ondas de calor jamais sentidas no território brasileiro. No dia 7 de novembro, o estado de Mato Grosso do Sul registrou temperaturas de 42°C,. O calor se intensificou nos dias seguintes em tamanho e intensidade, afetando áreas de todas as regiões brasileiras, principalmente o Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste.
O fenômeno se desenvolveu rapidamente entre julho e agosto, chegou com força moderada em setembro e a expectativa é de que o pico de calor ocorra entre novembro deste ano e janeiro de 2024. De acordo com o secretário-geral Organização Meteorológica Mundial (OMM), Petteri Taalas, 2023 está para se tornar o ano mais quente já registrado.
“Como resultado das temperaturas recordes da terra e da superfície do mar desde junho, o ano de 2023 está agora no caminho certo para ser o mais quente ano registrado”, disse Taalas.