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Brasil precisa se adaptar ao calor após o El Niño, dizem especialistas

El Niño tem deixado marcas severas em todo o Brasil, como seca extrema no Norte e inundações no Sul

atualizado

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Secretaria Municipal de Comunicação de Benjamin Constant
Foto colorida de seca em Benjamin Constant, município do Amazonas El Niño - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida de seca em Benjamin Constant, município do Amazonas El Niño - Metrópoles - Foto: Secretaria Municipal de Comunicação de Benjamin Constant

O brasileiro tem sofrido com as consequências extremas do El Niño ao longo de todo o ano de 2023, como ondas de calor, seca extrema e inundações. O Metrópoles ouviu meteorologistas que explicam a necessidade de adaptação climática às condições deixadas pelo fenômeno climático.

Os efeitos do El Niño são sentidos de formas diferentes por todo o território brasileiro. No Sul, ele tem provocado fortes tempestades e causado inundações. No Norte, uma seca extrema culminou na morte de milhares de animais, principalmente botos. O Sudeste e o Centro-Oeste, por sua vez, sofrem com altas temperaturas e ondas de calor cada vez mais frequentes.

O fenômeno teve início em junho, e desde então o Brasil tem passado por extremos climáticos e registrado tragédias humanas e ambientais. Segundo a Defesa Civil do Amazonas, mais de 600 mil pessoas foram afetadas pela estiagem histórica. No Rio Grande do Sul, 28 mil tiveram que deixar suas casas em razão das fortes chuvas ao longo do mês de novembro.

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Seca no Rio Amazonas
Chuva mata e causa estragos no Rio Grande do Sul
Corpo de Bombeiros ajuda a retirar moradores de Taquara (RS)
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Rio Negro, no Amazonas, durante seca

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Seca no Rio Amazonas

Cadu Gomes/VPR
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Chuva mata e causa estragos no Rio Grande do Sul

Reprodução/X (antigo Twitter)
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Corpo de Bombeiros ajuda a retirar moradores de Taquara (RS)

Cris Vargas/Prefeitura de Taquara

Meteorologista e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Márcio Cataldi ressalta que as consequências mais severas do El Niño já passaram. No entanto, o Brasil pode esperar por efeitos duradouros nas bacias hidrográficas do país.

“A fase mais forte dele já passou. Então, a partir de agora, os efeitos serão mais amenos. Mas ele vai prejudicar um pouco a ‘sobra’ de água armazenada que tínhamos nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste, tanto para fins de energia como para fins de agricultura, consumo humano e dessedentação [matar a sede] animal”, explica Márcio Cataldi.

Já a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) Andrea Ramos pontua que a incidência do fenômeno climático deve acontecer até meados de fevereiro, com destaque para alteração no regime de chuvas nas diferentes regiões.

Fase neutra

“A partir de fevereiro, ele já vai começar a diminuir a intensidade, e com isso ele já não vai proporcionar essa intensidade que proporcionou em 2023, apesar de que, ainda nos primeiros três, quatro meses, ele ainda vai estar com uma influência”, afirma Andrea Ramos. “A partir de abril, maio e junho, já começa uma fase neutra.”

Com a possibilidade de eventos climáticos extremos, o meteorologista da UFF reforça a necessidade de adaptação climática dos governos e também da população em geral. Segundo ele, essas medidas devem ser adotadas para evitar a perda de vidas e danos cruciais às comunidades que estão em situação de vulnerabilidade social.

“Os governos federal, estaduais e municipais, na minha opinião, devem trabalhar em paralelo para investir em ciência e tecnologia para aumentar a capacidade de prognóstico. Afinal, isso é que ajuda a salvar vidas em eventos extremos”, aponta Márcio Cataldi.

O meteorologista também enfatiza a necessidade de os governos investirem em educação ambiental, uma forma de a população entender o que está acontecendo com o planeta e as consequências para as próximas gerações.

Márcio Cataldi explica que o papel do cidadão comum na adaptação climática é pela busca de reduzir o consumo e diminuir as emissões de gases poluentes, como priorizar o transporte coletivo, reciclar e reutilizar.

COP28

A 28ª Conferência das Nações Unidas para Mudança do Clima (COP28) realizada em Dubai, nos Emirados Árabes, terminou em dezembro. As discussões durante o encontro colocaram em pauta a necessidade de acabar com o consumo de combustíveis fósseis.

O balanço global (o Global Stocktake – GST) apresentado ao final da COP não trouxe a obrigação de encerrar o uso de combustíveis fósseis, mas reforçou a necessidade de reduzir o consumo de petróleo, gás natural e carvão mineral, o que não agradou a grande parte dos ambientalistas.

O meteorologista da UFF acentua a incoerência de a COP28 ter sido realizada em um dos maiores exportadores de combustíveis fósseis do mundo e responsável por grande parte dos gases poluentes emitidos na atmosfera.

“Quando vemos uma COP sendo feita em um dos maiores explorados de óleo e gás do planeta e que pretende ampliar as suas atividades nos próximos anos, não dá para imaginar que alguma atitude séria e comprometida iria sair dali, infelizmente”, complementa Márcio Cataldi.

Planeta está aquecendo

A meteorologista do Inmet enfatiza que 2023 já é considerado o ano mais quente registrado em todos os tempos – esses dados são da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência especializada da Organização das Nações Unidas (ONU).

“ O ano de 2023 já está sendo considerado o mais quente registrado em todos os tempos, segundo a OMM, e com isso nós tivemos aí históricos, recordes históricos ao longo do ano, tivemos nove ondas de calor, não houve nenhuma onda de frio como em anos anteriores”, reitera Andrea Ramos.

O Acordo de Paris, ratificado durante a COP21 na França, estipula que as lideranças mundiais devem trabalhar para não ultrapassar os 2°C de aumento de temperatura média da Terra.

O mês de novembro de 2023 ficou 1,75ºC mais quente do que a média dos meses de novembro do período pré-industrial, de 1850 a 1900, o que demonstra a necessidade de Estados adotarem medidas mais efetivas de adaptação climática.

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