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Brasil lidera lista de destruição das florestas primárias tropicais

Em 2021, 15,5 mil km² foram devastados, o equivalente a 40% da perda registrada no mundo, mostra levantamento da Global Forest Watch

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Floresta amazonica incendio desmatamento crime
1 de 1 Floresta amazonica incendio desmatamento crime - Foto: Victor Moriyama/Getty Images

O desaparecimento das florestas primárias tropicais úmidas em todo o globo segue em velocidade preocupante. Só em 2021, cerca de 37,6 mil km² foram destruídos, alerta uma análise da plataforma Global Forest Watch publicada nesta quinta-feira (28/04).

Grande parte dessa devastação ocorreu no Brasil: foram 15,5 mil km² perdidos no ano passado, o equivalente a 40% do total registrado no planeta, apontam os dados monitorados anualmente sob coordenação da Universidade de Maryland, dos Estados Unidos, e do World Resources Institute (WRI).

“Infelizmente, os dados têm uma certa previsibilidade. Eles mostram uma estabilidade na evolução [da perda florestal]”, comenta sobre a liderança brasileira no ranking negativo Fabíola Zerbini, diretora de florestas, uso da terra e agricultura do WRI Brasil.

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De acordo com a pesquisa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), mais da metade (51%) do desmatamento do último triênio ocorreu em terras públicas, principalmente (83%) em locais de domínio federal
Dois anos após o Dia do Fogo, as queimadas na região voltaram a quebrar recordes anuais. Em 2020, a Amazônia Legal registrou o maior índice dos últimos nove anos (150.783 focos de fogo), um valor 20% maior que no ano anterior e 18% maior que nos últimos cinco anos
Em 2019, Bolsonaro se envolveu em algumas polêmicas ao ser pressionado sobre as medidas para controlar a situação das queimadas na Amazônia. Na época, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou que o mês de julho havia registrado aumento de 88% nos incêndios, em comparação com o mesmo período do ano anterior
O presidente da República questionou a veracidade das informações e chegou a afirmar que se o relatório fosse verdadeiro a floresta já estaria extinta. O diretor do instituto, Ricardo Galvão, acabou exonerado por causa da qualidade das informações divulgadas pelo órgão
Bolsonaro chegou a culpar as organizações não governamentais (ONGs) pela situação na floresta. Segundo o presidente, o objetivo era enviar as imagens para o exterior e prejudicar o governo
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A destruição de florestas na Amazônia alcançou um novo e alarmante patamar durante o governo Bolsonaro. O desmatamento no bioma aumentou 56,6% entre agosto de 2018 e julho de 2021, em comparação ao mesmo período de 2016 a 2018

Igo Estrela/Metrópoles
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De acordo com a pesquisa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), mais da metade (51%) do desmatamento do último triênio ocorreu em terras públicas, principalmente (83%) em locais de domínio federal

Igo Estrela/Metrópoles
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Dois anos após o Dia do Fogo, as queimadas na região voltaram a quebrar recordes anuais. Em 2020, a Amazônia Legal registrou o maior índice dos últimos nove anos (150.783 focos de fogo), um valor 20% maior que no ano anterior e 18% maior que nos últimos cinco anos

Igo Estrela/Metrópoles
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Em 2019, Bolsonaro se envolveu em algumas polêmicas ao ser pressionado sobre as medidas para controlar a situação das queimadas na Amazônia. Na época, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou que o mês de julho havia registrado aumento de 88% nos incêndios, em comparação com o mesmo período do ano anterior

Fábio Vieira/Metrópoles
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O presidente da República questionou a veracidade das informações e chegou a afirmar que se o relatório fosse verdadeiro a floresta já estaria extinta. O diretor do instituto, Ricardo Galvão, acabou exonerado por causa da qualidade das informações divulgadas pelo órgão

Ricardo Fonseca/ASCOM-MCTIC
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Bolsonaro chegou a culpar as organizações não governamentais (ONGs) pela situação na floresta. Segundo o presidente, o objetivo era enviar as imagens para o exterior e prejudicar o governo

Fábio Vieira/Metrópoles
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Diante da polêmica, o governo lançou edital com o intuito de contratar uma equipe privada para monitorar o desmatamento na Amazônia. O presidente também convocou um gabinete de crise para tratar das queimadas e prometeu tolerância zero com os incêndios florestais

Fotos Igo Estrela/Metrópoles
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Porém, durante os três anos de governo de Jair Bolsonaro, as políticas ambientais foram alvo de críticas devido aos cortes orçamentários, desmonte de políticas de proteção ambiental e enfraquecimento de órgãos ambientais

Reprodução
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Em 2020, na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o chefe do Executivo voltou a criar polêmicas ao declarar que os incêndios florestais eram atribuídos a "índios e caboclos" e disse que eles aconteceram em áreas já desmatadas. Além disso, Bolsonaro alegou que o Brasil é vítima de desinformação sobre o meio ambiente

Agência Brasil
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No ano seguinte, Bolsonaro elogiou a legislação ambiental brasileira e o Código Florestal e enalteceu a Amazônia durante a assembleia. Além disso, disse que o futuro do emprego verde estava no Brasil

Agência Brasil
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Em novembro de 2021, o presidente classificou as notícias negativas sobre a Amazônia como “xaropada”. Contudo, de acordo com o Inpe, a área sob risco tem 877 km², um recorde em relação à série histórica

Lourival Sant’Anna/Agência Estado
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Durante um evento de investidores em Dubai, Jair disse que a Amazônia não pega fogo por ser uma floresta úmida e que estava exatamente igual quando foi descoberta, em 1500

Agência Brasil
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Bolsonaro costuma falar com apoiadores no Palácio da Alvorada todos os dias

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Desmatamento na Amazônia

Ernesto Carriço/NurPhoto via Getty Images

Desde 2016, o Brasil tem apresentado taxas de perda acima de 10 mil km², segundo informações da Global Forest Watch, que disponibiliza os detalhes numa plataforma online gratuita.

Essa avaliação independente é diferente daquela feita pelo Prodes, sistema de monitoramento anual do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A primeira, além de adotar outra metodologia, abrange os meses de janeiro a dezembro. Já o Prodes considera o período entre agosto de um ano e julho do ano seguinte.

“Nós mostramos nossos dados para o Inpe, que faz um trabalho fundamental. Há diferenças, mas existe uma consistência histórica, ambos mostram aumento da tendência da perda de florestas”, complementa Zerbini em entrevista à DW Brasil.

Mais valiosas e mais destruídas

As florestas tropicais úmidas estão próximas à linha do Equador, são ricas em biodiversidade e têm um papel vital na regulação do clima. Elas também são conhecidas por um outro fenômeno causado por atividade humana: o desmatamento.

“Essas florestas analisadas [primárias tropicais úmidas] têm alto valor ecossistêmico, uma grande importância para a agenda climática global, riquíssimas em biodiversidade. A perda delas gera um impacto negativo muito grande justamente por esse grande serviço que elas prestam para sociedade”, aponta Zerbini.

Apesar de o levantamento atual apontar uma queda de 11% em relação à devastação registrada no mundo em 2020, que atingiu um dos maiores níveis desde 2002 (42 mil km²), a taxa de 2021 é considerada elevada e é praticamente a mesma das observadas em 2018 (36,5 mil km²) e 2019 (37,5 km²).

Na América do Sul, a Floresta Amazônica tem maior peso no levantamento feito pela Global Forest Watch. Depois do primeiro lugar disparado para o Brasil no quesito perda, a República Democrática do Congo vem em segundo lugar – mas bem abaixo do patamar brasileiro – com 5 mil km². Bolívia (2,9 mil km²) e Indonésia (20,3 mil km²) aparecem na sequência.

A perda em solo boliviano em 2021 foi a maior registrada desde o início da série, em 2002. Grandes áreas da Amazônia também foram devastadas no Peru e Colômbia, que aparecem em quinto e sexto lugares, respectivamente.

Embora ainda esteja na terceira colocação do ranking global, a Indonésia conseguiu, pelo quinto ano seguido, reduzir o corte e queima de florestas primárias. No país, a floresta é desmatada principalmente para dar lugar a plantações de palmeiras que fornecem óleo de dendê.

De 2002 a 2021, o planeta perdeu mais de 683 mil km² de florestas primárias tropicais úmidas, o que representa uma redução de quase 7% na área total desse tipo de vegetação, segundo a base de dados da plataforma.

Ilegalidade em alta no Brasil

No Brasil, houve aumento considerável de devastação nos estados amazônicos mais a oeste, como Amazonas, Acre e Rondônia. Muitos desses novos focos são clareiras em grande escala ao longo de estradas, o que, acredita-se, se trate de terreno aberto para pastagem do gado.

Embora a análise da Global Forest Watch se restrinja aos números, Fabíola Zerbini, do WRI Brasil, comenta sobre o contexto que impulsiona o corte e queima das árvores na Amazônia.

“Isso tem a ver com a precarização da fiscalização, das ações de comando e controle no campo, da redução do orçamento dos órgãos ambientais. Tudo isso gerou um ambiente onde a ilegalidade cresceu muito”, argumenta.

Falsa dicotomia entre riqueza e floresta

“A floresta em pé é o grande potencial que o Brasil tem nas mãos para enriquecer, e não o contrário. Isso vale inclusive para o próprio agro”, afirma Zerbini. “É falsa essa dicotomia entre riqueza e floresta; agricultura e floresta. A agricultura, aliás, tem muito a ganhar com a floresta em pé. A destruição da floresta pode agravar a crise hídrica, o que representa um tremendo impacto de negócio para o agro”, acrescenta.

Estudos recentes já mostram que o desmatamento e as secas mais prolongadas estão limitando a capacidade de a Floresta Amazônica se regenerar. Um estudo publicado na Nature Climate Change em março apontou que mais de 75% da floresta está perdendo estabilidade, principalmente na região sul.

Imagens de satélites dos últimos 30 anos analisadas mês a mês ajudaram os pesquisadores a concluir que essa situação ameaça todo o bioma e o aproxima do chamado tipping point, ponto de inflexão em que a Amazônia não consegue mais voltar a um estado de floresta tropical saudável.

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