Brasil gastou R$ 263,7 mi com danos causados por desabamentos em 2023
Governo ainda está longe do valor recorde destinado a cobrir prejuízos provocados por desabamentos: em 2022 foram repassados R$ 419 milhões
atualizado
Compartilhar notícia
Nos primeiros sete meses deste ano, o governo do Brasil gastou mais de R$ 263,7 milhões para cobrir prejuízos causados por desabamentos em todo o país, de acordo com dados obtidos pelo Metrópoles via Lei de Acesso à Informação (LAI). Mas ainda fica atrás do recorde de R$ 419.168.133,12, repassados para este fim em 2022.
Ao todo, nos últimos 10 anos (incluindo os recursos de 2023), foram gastos R$ 1.750.899.330,56 com obras para reconstrução em locais atingidos por desabamentos, como mostram informações do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), por meio da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil.
Confira as verbas repassadas por ano:
- 2014: R$ 193.433.805,02;
- 2015: R$ 142.314.686,08;
- 2016: R$ 80.661.486,15;
- 2017: R$ 121.781.641,46;
- 2018: R$ 48.472.779,21;
- 2019: R$ 83.794.430,11;
- 2020: R$ 234.662.846,89;
- 2021: R$ 162.857.408,99;
- 2022: R$ 419.168.133,12;
- 2023: R$ 263.752.113,53.
Entre 2 de janeiro de 2014 até 7 de julho de 2023 ocorreram 540 incidentes do tipo. Nota-se um crescimento na quantidade de desabamentos no país. No Brasil, a média é de 54 casos por ano.
Confira abaixo a progressão desde 2014:
Além do maior repasse, 2022 detém a maior marca registrada de ocorrências nos últimos anos, com 118 incidentes. Já quando comparado a 2014, com 23 casos, os incidentes verificados em 2022 são quase cinco vezes maiores. Tendo já passado da metade, o ano de 2023 não deve chegar à marca negativa do ano anterior.
Compreendendo grande parte das ocorrências, Minas Gerais lidera o ranking dos estados com mais desabamentos nos últimos 10 anos, com 143 incidentes. Ele é seguido por: Bahia (66 casos), Pará (47 casos), Rio de Janeiro (46) e Santa Catarina (42 casos).
O município com mais desabamentos nesse período é Oriximiná, a cerca de 819 km de Belém, no Pará. No total, 18 casos foram registrados pela Defesa Civil do estado.
Veja o mapa:
Como os eventos extremos podem interferir nesses casos?
A grande incidência de chuvas intensas, enxurradas e deslizamentos acelerou o pico de desabamentos nos 10 últimos anos. No entanto, não devem ser considerados apenas esses os motivos.
Normalmente, os desabamentos são causados por problemas estruturais que podem ser acelerados, por exemplo, por causas externas (inundações, deslizamentos, terremotos etc). Os eventos extremos podem somar-se a esse processo de desestabilização estrutural, mas é importante ressaltar que não é a causa principal.
“Quando ele [prédio] desaba, é só a ‘pontinha’ do iceberg”, diz Pedro Camarinha, especialista em geodinâmica do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
Conforme ele, a maioria dos desabamentos ocorre devido a problemas estruturais, sejam de mal dimensionamento ou de degradação da construção por vários fatores ao longo dos anos.
Vídeo: prédio desaba em Recife, e moradores são soterrados
“Diferente, por exemplo, de mortes causadas por enxurradas ou deslizamentos, no caso de desabamento não dá para atribuir uma relação de causalidade com os eventos extremos. Embora eles aconteçam em algumas dessas situações”, explica Camarinha.
Para o especialista, o aumento no número de desabamentos pode ser atribuído a duas hipóteses: o crescimento urbano com ocupação desordenada e o envelhecimento de construções.
Confira as principais causas* dos desabamentos:
- Chuvas intensas: 277 casos;
- Enxurradas: 57 casos;
- Colapso de edificações: 47 casos;
- Vendavais: 32 casos;
- Deslizamentos: 31 casos;
- Alagamentos: 28 casos;
- Inundações: 26 casos;
- Erosão em margem fluvial: 11 casos;
- Erosão costeira/marinha: 10 casos;
- Erosão continental (Boçorocas): 4 casos;
- Granizo: 3 casos;
- Quedas, tombamentos e rolamentos: 3 casos;
- Subsidências e colapsos: 3 casos;
- Corridas de massa (rocha/detrito): 2 casos;
- Incêndios em aglomerados residenciais: 2 casos;
- Ciclones (ressacas): 1 caso;
- Corridas de massa (solo/lama): 1 caso;
- Tornados: 1 caso;
- Transporte de passageiros e cargas não perigosas: 1 caso.
*OBS.: foram excluídas da tabela as ocorrências de “estiagem”, todas ocorridas em Candiba, Bahia, após especialistas alertarem um suposto erro de classificação.
Ao ser questionado pelo número alto de desabamentos provocados por chuvas intensas, Pedro Camarinha diz: “Quando ocorrem chuvas fortes e o evento fica generalizado, a Defesa tem dificuldade de classificar qual é a causa propriamente dita”.
O que falta para reduzir o número de desabamentos?
Segundo o professor aposentado do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB) Dickran Berberian, falta construir e implementar um plano de manutenção e inspeção periódica.
Em 7 de julho, um prédio residencial desabou em Paulista, na região do Grande Recife, Pernambuco. O colapso do edifício, que estava interditado desde 2010 e era ocupado irregularmente por três famílias, matou 14 pessoas.
Berberian defende a implementação dessas práticas preventivas e constantes de verificação, além de acreditar que não é “impossível” para o Brasil criar tais planos. “O Brasil precisa acordar para a cidadania”.
“Nosso problema, como digo, é triste porque temos condições. Não é algo impossível para o Brasil. O país tem condições financeiras, materiais e conhecimento técnico para reduzir ao mínimo esses incidentes”, afirma Berberian.
“Parece desconfortável pensar que o Brasil tem tudo para isso [reduzir o número de desabamentos]. Temos técnica, recurso, área, só não há responsabilidade civil”, completa.