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Brasil acolhe mais de 30 mil imigrantes crianças e adolescentes

País é o destino de estrangeiros de diversas nacionalidades em busca de melhores condições de vida: entre recém-chegados estão venezuelanos

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Marcelo Camargo/Agência Brasil
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1 de 1 venezuelanos, brasília, roraima - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O adolescente venezuelano Dewy Salazar, de 13 anos, está no Brasil há 10 meses e, desde julho, sua casa é o Rio de Janeiro. A mudança da Venezuela foi difícil. “Na última hora as coisas se complicaram lá”, disse Dewy, sobre a crise econômica e política que o país vizinho atravessa.

O pai do adolescente acabou atravessando a fronteira para o Brasil e conseguiu trabalho em Boa Vista, capital de Roraima. Após um tempo, veio a família: Dewy, sua mãe e dois irmãos. O Brasil é o destino de imigrantes de diversas nacionalidades em busca de melhores condições de vida, entre eles os venezuelanos, que chegam principalmente pelos estados fronteiriços como Roraima.

Inicialmente, a família de Dewy ficou em uma casa alugada; depois, foi para um abrigo. Após cerca de 8 meses em Roraima, no processo de interiorização mantido pelo governo brasileiro, eles foram transferidos para o Rio de Janeiro e acolhidos no abrigo da ONG Aldeias Infantis SOS.

Agora, o adolescente já frequenta a escola e disse estar gostando da nova rotina. “Na escola me tratam bem, são meus amigos e me sinto bem”, contou. “Eu quero uma vida melhor, que meus pais tenham trabalho e possam dar o melhor para nós, e nós darmos o melhor para eles, para que se sintam bem também”, acrescentou o garoto.

Mileidys Arzola, também de 13 anos, precisou caminhar 215 quilômetros de Pacaraima, cidade de Roraima na fronteira com a Venezuela, até chegar a Boa Vista. “Foi muito difícil. Meu pai e minha mãe não tinham muito dinheiro quando chegamos na fronteira. Somos cinco filhos, tivemos que ir três dias caminhando. Depois que chegamos a Boa Vista, ficamos duas semanas acampados na Praça Simon Bolívar”, contou.

A família da adolescente passou ainda mais três meses em um abrigo para refugiados em Boa Vista, antes de ser levada para Igarassu, em Pernambuco. “As coisas melhoraram muito. Os brasileiros tratam os venezuelanos com muito carinho”, disse.

Rede de apoio
Dewy e Mileidys fazem parte das mais de 30 mil crianças e adolescentes imigrantes que estão no Brasil. A estimativa é do secretário nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Luís Carlos Martins Alves. De acordo com ele, o Brasil abriga cerca de 100 mil imigrantes, de 30% a 40% são crianças e adolescentes.

O secretário e os adolescentes participaram nesta sexta-feira (14/9), em Brasília, do Seminário Internacional Crianças e Adolescentes Migrantes promovido pelo Ministério dos Direitos Humanos. “As crianças e adolescentes são os mais vulneráveis nesse processo e necessitam de uma rede adequada de proteção para usufruir dos direitos humanos aqui em nosso país”, disse Alves.

O encontro tem como objetivo debater o cenário internacional da migração e os impactos causados a meninas e meninos. A proposta do evento também é permitir a troca de experiências sobre boas práticas dos órgão de governo e da sociedade civil na interiorização e os desafios na adequação das políticas públicas ao contexto migratório.

Entre os desafios no processo de adaptação de crianças e adolescentes ao Brasil, segundo o secretário nacional, estão a questão do idioma, o de promover acesso à educação apropriada; o de mantê-los próximos de suas famílias, no caso daqueles que chegam desacompanhados; o de garantir acesso à saúde e evitar que sejam vítimas da exploração sexual e do tráfico de drogas.

Segundo o secretário, o governo federal tem feito repasses de recursos para ajudar os estados e municípios que estão recebendo imigrantes. Para 2019, estão previstos R$ 50 milhões no Orçamento para a interiorização.

Danos emocionais
Para a gestora nacional da ONG Aldeias Infantis SOS, Sandra Greco, as questões emocionais das crianças, adolescentes e famílias que chegam ao Brasil também precisam de atenção. “Eles vêm de maneira forçada, pela situação da Venezuela, e a maioria das crianças pequenas chega com grande desnutrição. Eles vêm em condições precárias. Suprimos as faltas materiais, mas todo o dano emocional só vamos conseguir ver daqui um tempo”, explicou.

Segundo Sandra, as crianças são muito resilientes, conseguem se adaptar à nova cultura e à escola, mas, ainda assim, é preciso um trabalho de formação para os professores e de conscientização para as próprias crianças brasileiras, para que não haja rejeição e bullying contra os venezuelanos.

A gestora das Aldeias Infantis SOS ressaltou a importância da solidariedade da população aos imigrantes. “Nesse momento que o Brasil vive, esse vácuo de valores morais e éticos, tem nos surpreendido a reação do povo brasileiro, que tem se mostrado bastante solidário e apoiando muito essa questão”, disse.

O Seminário Internacional Crianças e Adolescentes Migrantes tem o apoio do Eurosocial, Aldeias Infantis SOS e Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI).

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