Bolsonaro repete que não se vacinou, mas já disse ter “cartela em dia”
Em 2022, durante live, o então presidente disse que havia autorizado divulgação do cartão, o que não foi confirmado depois pela Presidência
atualizado
Compartilhar notícia
O ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) voltou a dizer, na manhã desta quarta-feira (3/5), após ser alvo da Operação Venire, da Polícia Federal (PF), que não tomou a vacina contra a Covid-19. “Não existe adulteração da minha parte. Eu não tomei a vacina. Li a bula [da Pfizer] e não tomei. Minha filha de 12 anos não tomou. A Michelle [Bolsonaro] tomou nos EUA”, ressaltou.
A declaração, no entanto, contradiz o que o então presidente falou em janeiro de 2021, durante live ao lado dos ministros, na época, das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas.
Bolsonaro usou a live para negar ter imposto sigilo de 100 anos ao seu cartão de vacinação e comentou que estava com sua “cartela” de vacinação em dia. Ele justificou que, por viajar o mundo inteiro, precisava apresentar o documento em países que exigiam imunização contra doenças.
“A revista Época publicou que eu decretei no meu cartão de vacina sigilo por 100 anos. Se eu decretei, tem um decreto. Se tem um decreto, está publicado no Diário Oficial da União. Não tem, não existe no Diário Oficial. Por que os caras fazem isso? Para tumultuar. ‘Tá vendo? Ele é negacionista, ele não toma vacina’. Pessoal, eu estou com a minha cartela de vacina em dia. Eu viajo o mundo todo, tem país que exige certas vacinas e com razão. E vale para o presidente da República também”.
Veja a partir de 8’40”:
Cartão liberado
O cartão de vacinação do ex-presidente já havia sido liberado pelo próprio Bolsonaro. Em mais uma de suas tradicionais lives, desta vez em 15 de setembro de 2022, ele garantiu que os dados estavam à disposição. “Da minha parte aí, já falei para assessoria: quem quiser meu cartão de vacina pode olhar”, afirmou o então presidente, negando novamente ter decretado sigilo de 100 anos.
Assista ao momento, na live, a partir do minuto 9:
A informação, no entanto, jamais se concretizou. Bolsonaro continuou a dizer que não se vacinaria e nunca divulgou o documento que poderia confirmar ou contradizer suas declarações. Dois dias após a live, a Secretaria-Geral da Presidência da República negou a um veículo de imprensa o acesso ao cartão de vacinação do presidente. Como argumento, citou o artigo 31 da Lei nº 12.527: “O tratamento das informações pessoais deve ser feito de forma transparente e com respeito à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, bem como às liberdades e garantias individuais”.
“Esclarecemos que as informações solicitadas dizem respeito à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem do senhor Presidente da República, que são protegidas com restrição de acesso, nos termos do artigo 31 da Lei nº 12.527, de 2011”, justificou a Secretaria-Geral.
Foi a mesma justificativa apresentada em fevereiro deste ano pelo senador Flávio Bolsonaro, o filho 01 do ex-presidente, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. “Trata-se de uma questão de foro íntimo. Não tem nenhuma relação com o fato de ele ter sido presidente ou não. Se ele optou por não se vacinar, é por conta e risco dele”, afirmou.
Segundo o 01, Bolsonaro “fez o que tinha de fazer para garantir vacina a quem quis se imunizar”.
Ponto final e jacaré
Durante sua gestão, Bolsonaro pôs reiteradamente em xeque a eficácia e a segurança das vacinas contra a Covid-19 e sempre repetiu que não se vacinaria. “Não vou tomar a vacina e ponto final. Se alguém acha que a minha vida está em risco, o problema é meu e ponto final”, disse em 2020.
Depois, ele questionou os efeitos colaterais no imunizante, na famosa comparação com um jacaré. “Lá na Pfizer, tá bem claro lá no contrato: ‘nós não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral’. Se você virar um chi… virar um jacaré, é problema de você, pô. Não vou falar outro bicho, porque vão pensar que eu vou falar besteira aqui, né? Se você virar super-homem, se nascer barba em alguma mulher aí ou algum homem começar a falar fino, eles não têm nada a ver com isso. Ou, o que é pior, mexer no sistema imunológico das pessoas”, concluiu.